Marcha pelo Dia Internacional da Mulher Leva Milhares às Ruas para Denunciar Violência, Desemprego e Fome [IMAGENS]

8M nas Ruas após Dois Anos Online

Ato do Dia Internacional da Mulher, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro. Foto: Jaqueline Suarez
Ato do Dia Internacional da Mulher, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro. Foto por: Jaqueline Suarez

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Depois de dois anos, a marcha do Dia Internacional da Mulher voltou a ocupar as ruas de todo o país no 8M. Houve manifestações em pelo menos 40 cidades. No Rio, a concentração aconteceu na Praça da Candelária, no Centro da cidade, e percorreu a Avenida Rio Branco até chegar à Cinelândia. O lema “Basta de Fome e Violência: Bolsonaro Nunca Mais!” foi defendido através de cartazes, cantos e discursos do alto do carro de som.

Por causa do contexto pandêmico, nos últimos dois anos, as mobilizações do 8 de março foram apenas virtuais. Nesse reencontro com as ruas, as mulheres trouxeram uma ampla agenda de reinvindicações, desde a descriminalização ou a legalização do aborto—pauta tradicional do movimento—às consequências da pandemia, que atingiram de forma distinta homens e mulheres, mulheres brancas e mulheres negras. Estiveram reunidas mulheres do campo e da cidade, mulheres indígenas, mulheres trans e travestis, além de muitas crianças.

Muitas crianças participaram dos batuques e da escrita de cartazes da marcha. Foto: Jaqueline Suarez

Criança na marcha do Dia Internacional da Mulher. Foto por: Jaqueline Suarez

O 8M, como é conhecida a data, é um momento de celebração, mas sobretudo de luta. A violência, o desemprego e a fome atingem de forma desigual as mulheres—especialmente as mulheres negras, indígenas e LGBTQIA+. Não por acaso, o primeiro item na agenda de luta, listado na convocatória do ato, é a defesa da vida das mulheres.

Manifestantes no Dia Internacional da Mulher, no centro do Rio de Janeiro, em 2022. Foto por: Jaqueline Suarez

A violência contra a mulher no Brasil acontece, principalmente, dentro de casa. A chegada da pandemia deixou as mulheres mais expostas à violência doméstica. Houve uma intensificação da permanência das mulheres no ambiente familiar junto a seus agressores e isoladas o bastante para não denunciar, o que teve duras consequências.

A edição de 2021 do relatório Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, levantou que quase 6 milhões de brasileiras relataram ter sofrido ameaças de violência física como tapas, empurrões ou chutes. Ainda de acordo com a pesquisa, oito mulheres foram agredidas fisicamente por minuto no país no ano de 2020. Segundo o Anuário de Segurança Pública (2021), no mesmo ano, quase 4.000 mulheres foram assassinadas. Isto é, o Brasil mata, em média, uma mulher a cada duas horas. O cenário agrava-se ainda mais para as mulheres trans e travestis: o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo.

Violências contra as mulheres foram tema abordado por ativistas em cartazes e discursos. Foto por: Jaqueline Suarez

A Política no Cotidiano das Mulheres

Houve, ainda, cartazes em protesto à militarização da vida, expressos em faixas contrárias aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e lembrando a problemática fala de Arthur do Val, deputado estadual de São Paulo, que era até então pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo. Após uma viagem à Ucrânia para suposta ajuda humanitária, ele teve um áudio vazado em que afirmava que as mulheres ucranianas eram “fáceis porque eram pobres“.

Manifestantes criticaram fala sexista do deputado em relação às mulheres ucranianas. Foto por: Jaqueline Suarez

Arthur do Val não foi o único parlamentar alvo de críticas. O Presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro também foram lembrados nas faixas e nas falas do carro de som. Mulheres indígenas levaram cartazes contra o chamado marco temporal, uma ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e que, se aprovada, delimita as reservas indígenas aos territórios ocupados pelos povos originários na época da promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988. Para as representações indígenas, a ação impede a demarcação de novas terras e ignora violações ocorridas naquele período, como expulsões, contaminação e morte de aldeias inteiras, avanço do agronegócio e desmatamento, por exemplo.

Do alto do carro de som, uma liderança indígena lembrou a árdua batalha que os povos têm travado contra o Governo Federal, que vem fragilizando as legislações que protegem as aldeias e asseguram direitos e serviços básicos aos indígenas, expondo-os à fome, doenças, invasões e violências. O enfraquecimento da Funai, principal órgão de proteção e assistência aos indígenas no país, também foi lembrado.

Mulheres do campo e da floresta também participaram da marcha no Centro do Rio. Foto por: Jaqueline Suarez

Marielle Viva e Presente!

Na próxima semana, dia 14 de março de 2022, completam quatro anos desde o assassinato da Vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes. Até hoje, a investigação, cercada por idas e vindas e já em seu quinto delegado, ainda não conseguiu desvendar quem foram os mandantes do assassinato da vereadora. A parlamentar, uma mulher negra, cria do Complexo da Maré e LGTBQIA+, mantinha uma agenda política de atuação próxima aos movimentos negro, feminista e de favela. Marielle foi lembrada em discursos, estandartes, faixas e cartazes.

Faixas traziam os dizeres: "Quem mandou matar Marielle?". Foto por: Jaqueline Suarez

Ativistas da Casa Nem, organização que acolhe e abriga pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social no Rio, também levaram faixas em homenagem à vereadora.

Neste mês, o assassinato de Marielle Franco completa 4 anos. Foto por: Jaqueline Suarez

Desemprego e Vulnerabilidade Social

Historicamente, o desemprego sempre atingiu mais às mulheres, mas a pandemia da Covid-19 agravou esse cenário, alargando ainda mais o abismo entre elas e os homens. Considerando apenas a população com idade para trabalhar, 55% dos homens estão ocupados, enquanto entre as mulheres esse índice é de 40%. No pior período da pandemia, no terceiro trimestre de 2021, o índice chegou a 39%. Os dados são do último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desemprego e vulnerabilidade entre as mulheres foi pauta do protesto. Foto por: Jaqueline Suarez

A renda dos brasileiros encolheu durante a pandemia. Com menos oferta de trabalho e produtos básicos com preços mais altos, a vida nas cidades ficou mais cara. Apesar desse contexto atingir a todos, as mulheres foram mais fragilizadas do que os homens. Mulheres pretas e pardas foram mais atingidas do que as brancas, isso porque a pandemia acentuou problemas sociais e raciais estruturais da sociedade brasileira. As obrigações domésticas e o cuidado com as crianças afastadas das escolas e creches por conta da pandemia fizeram crescer a carga de trabalho das mulheres, afastando-as ainda mais do mercado de trabalho formal e informal e afetando sua renda.

Mulheres fazem parte do grupo mais afetado pelo desemprego e perda de renda na pandemia. Foto por: Jaqueline Suarez

A Luta É pela Vida das Mulheres

A mobilização do Dia Internacional das Mulheres é um dos momentos mais importantes no calendário da luta feminista. Ainda que o contexto limite os motivos para comemorações, a marcha é um momento de celebração do poder de auto-organização, da mobilização e do empoderamento feminino, um espaço no qual todas as mulheres são bem-vindas: “É pela vida de todas as mulheres, hoje e sempre!”

"Juntas, somos gigantes", dizia faixa carregada por mulheres com pena de pau. Foto por: Jaqueline Suarez


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