Baixada Fluminense Começa Abril Embaixo d’Água É #OqueDizemasRedes

Nova Iguaçu ficou em alerta máximo, devido principalmente às cheias dos rios Botas e Iguaçu. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Esta matéria faz parte da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela, sobre eventos e temas urgentes, e também faz parte de uma série gerada por uma parceria, com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre impactos climáticos e ação afirmativa nas favelas cariocas. 

O mês de abril começou com fortes chuvas em praticamente todo o estado do Rio de Janeiro. Na cidade de Angra dos Reis, na Costa Verde, choveu 800 mm em 48 horas. Em três dias caiu do céu metade das águas esperadas para o ano todo. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), este é um índice pluviométrico sem precedentes na história. Em Paraty, cidade vizinha, a chuva também deixou rastros de destruição com pessoas desabrigadas e falta de energia elétrica, sem contar os deslizamentos que modificaram as paisagens de praias e morros.

Fotos de antes e depois na Praia de Itaguaçu mostram a destruição causada pela chuva na Ilha Grande e na Costa Verde. Foto: Reprodução
Fotos de antes e depois na Praia de Itaguaçu mostram a destruição causada pela chuva na Ilha Grande e na Costa Verde. Foto: Reprodução

Historicamente, as regiões periféricas são as que mais sofrem devido à negligência por parte das autoridades públicas, que não garantem as devidas políticas de saneamento para prevenção de acidentes. A Baixada Fluminense é um retrato desse descaso. O perfil Nova Iguaçu da Depressão fez uma cobertura em tempo real dos estragos que ocorreram ali e também no município vizinho de Mesquita. A maioria dos municípios da Baixada declarou estado de emergência. A população não aguenta mais, é #OQueDizemasRedes sobre mais esse filme repetido. 

Baixada Mergulhada no Caos

A chuva mal tinha acabado de cair no Rio e as primeiras imagens do que estava por vir começaram a circular. A noite de sexta do dia 1 de abril foi dura de ser digerida pela população da Baixada Fluminense, assim como o consequente estrago que ficou. O perfil Nova Iguaçu da Depressão já registrava o sufoco que trabalhadores passavam ao retornar para casa de ônibus, quando as águas já ameaçavam entrar dentro do veículo.

A professora e ativista Rose Cipriano compartilhou em seu Instagram um vídeo da cidade de Belford Roxo. Ela aproveitou para denunciar o descaso do poder público como o principal responsável pelos desastres repetidos.

De acordo com o jornal Destaque Baixada, Belford Roxo teve mais de 300 desalojados. O jornal também registrou seis desabamentos no município, cinco deslizamentos e 25 desabrigados. A Prefeitura decretou estado de emergência. 

Mesquita não escapou das consequências trágicas da chuva. A página Nova Iguaçu da Depressão publicou um vídeo de carros sendo arrastados pela correnteza formada nas ruas e de passageiros presos dentro de um ônibus. Cena que amedronta sobretudo depois das mortes no episódio dos ônibus arrastados para dentro do Rio Quitandinha, no centro de Petrópolis.

Atividades culturais que estavam marcadas tiveram de ser canceladas em Mesquita, como foi o caso do Núcleo de Atendimento de Medidas da Comarca da cidade, que adiou a inauguração da Sala de Leitura Carolina de Jesus. O comunicado foi feito em mensagem disparada pelo WhatsApp.

Mensagem veiculada pelo WhatsApp pelo projeto Sala de Leitura de Mesquita, informando que as atividades de inauguração estavam suspensas devido às fortes chuvas que atingiram a região.

No dia seguinte, foi possível contabilizar melhor os efeitos da tempestade. O ativista Wesley Teixeira postou fotos em seu perfil do Instagram sobre a situação de Belford Roxo. As imagens mostram moradores com águas na altura do peito, se segurando em cordas e fios para evitarem ser arrastados.

Utilizando a hashtag #EnchenteNaBaixadaFluminense, o perfil do Fórum Grita Baixada mostrou imagens do Rio Botas, na periferia de Nova Iguaçu, com um nível de água bem elevado e carregando bastante lixo. No post, o Fórum afirmou que esse não é um evento isolado, mas sim consequência recorrente do racismo ambiental.

Campanhas de Solidariedade

O “nós por nós” é uma filosofia nascida da necessidade de sobrevivência de grupos marginalizados ao perceberem que só podem mesmo contar com si mesmos. Em meio ao mais completo desamparo, moradores das periferias entendem que a saída é a colaboração mútua para a superação das adversidades impostas pelo sistema. No caso das enchentes e deslizamentos não poderia ser diferente. Na mesma medida em que os danos começaram a ser contabilizados, campanhas de ajuda aos atingidos despontaram. 

O Espaço de Cria é um projeto de educação popular sediado em Nova Iguaçu, especificamente no bairro de Caioaba. A estrutura do projeto também foi danificada pelas chuvas, o que levou à criação do Mobiliza Caioaba, uma campanha para ajudar as famílias dos alunos atendidos pelo espaço.

A Casa Fluminense também divulgou em seu perfil uma série de iniciativas que contemplam principalmente os municípios da Baixada Fluminense. Em postagem, a Casa remarcou que eventos climáticos extremos como essas chuvas torrenciais estão ocorrendo cada vez com mais frequência e que, portanto, é necessário se preparar. Deixou evidente que é uma escolha política ter vidas sendo recorrentemente ceifadas por falta de políticas públicas e infraestrutura urbana.

Sobre o autor: Euro Mascarenhas Filho, jornalista, é colaborador do Núcleo Piratininga de Comunicação, comunicador popular, e autor do programa de podcast Antena Aberta.


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