A Luta dos Camelôs no Rio de Janeiro: Meu Trabalho Informal Importa [VÍDEO]

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Esta videorreportagem traz relatos de três camelôs e mostra a realidade vivida por estes trabalhadores informais nas ruas do Rio de Janeiro.

O vídeo traz a perspectiva de Maria de Lourdes do Carmo, 48, conhecida como Maria dos Camelôs, liderança de classe, que trabalha nas ruas desde 1996. Maria há 20 anos é coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), que nasce em 2003, em um momento de indignação depois de uma agressão que ela sofre da Guarda Municipal (GM), no Centro do Rio de Janeiro. Neste evento, Maria dos Camelôs foi espancada por guardas municipais 15 dias após ter dado à luz um filho.

Maria de Lourdes do Carmo, 48, conhecida como Maria dos Camelôs, liderança de classe, que trabalha nas ruas desde 1996. Maria há 20 anos é coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA).
Maria de Lourdes do Carmo, 48, conhecida como Maria dos Camelôs, liderança de classe, que trabalha nas ruas desde 1996. Maria há 20 anos é coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA).
Cristina de Oliveira, moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na Zona Sul, é camelô há mais de uma década, é mãe e sustenta seus filhos com seu trabalho informal.
Cristina de Oliveira, moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na Zona Sul, é camelô há mais de uma década, é mãe e sustenta seus filhos com seu trabalho informal.

Além de Maria dos Camelôs, estão neste minidocumentário dois outros camelôs, que relataram suas experiências na luta diária pelo sustento nas ruas do Rio de Janeiro. Cristina de Oliveira, moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na Zona Sul da cidade do Rio, é camelô há mais de uma década, mãe, e sustenta seus filhos com seu trabalho informal. Inicialmente, ela tinha um carrinho de lanches, mas, por pressão da fiscalização da prefeitura, depois de diversas apreensões de seu material de trabalho e de muito prejuízo, ela resolveu mudar de mercadoria e passou a vender artesanato, que ela própria fabrica.

“Eu fui para o artesanato porque é mais fácil pra eu correr. Antigamente eles respeitavam o artesanato, agora nem o artesanato eles respeitam… tenho que trazer meu material pra correr deles, porque eles tomam, eles quebram, sendo que tudo tem nota fiscal.” — Cristina de Oliveira

Ela relata estar há mais de uma década esperando, sem sucesso, a permissão da prefeitura para trabalhar como camelô de forma legal. Desde 2009, Cristina diz ter diversos pedidos, impetrados na prefeitura, para permissão de trabalho ambulante, tanto de comida, quanto de artesanato.

“A gente tem sofrido muita truculência com a Guarda [Municipal]. Fiscais vem à paisana, vem com grosseria na abordagem, no modo de tratar a gente. A gente só quer, na verdade, a nossa legalização… junto com o MUCA a gente quer abrir uma negociação com a prefeitura, abrir um diálogo com a prefeitura… ninguém quer ficar informal! A gente só quer o direito ao trabalho, o direito de sustentar os filhos da gente!” — Cristina de Oliveira

Lucas Yan Antunes Santos, morador da Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste, é camelô, dono de uma banca móvel de venda de balas, chicletes, cigarros e etc. Ele tem medo da Guarda Municipal, que já lhe agrediu outras vezes, enquanto trabalhava.
Lucas Yan Antunes Santos, morador da Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste, é camelô, dono de uma banca móvel de venda de balas, chicletes, cigarros e etc. Ele tem medo da Guarda Municipal, que já lhe agrediu outras vezes, enquanto trabalhava.

Situação parecida com a vivida por Lucas Yan Antunes Santos, morador da Vila Aliança, no bairro de Bangu, na Zona Oeste. Camelô, Lucas é dono de uma banca móvel de venda de balas, chicletes, e cigarros a varejo, que ele diz ser “meu empreendimento, minha pequena empresa, meu grande negócio”. Ele é dono de uma bombonière ambulante, que garante conforto a seus clientes por onde quer que passe e que sustenta seus filhos. No entanto, ele afirma sentir medo de trabalhar como camelô pelas ruas do Rio, por já ter sido violentamente agredido por agentes da Guarda Municipal, em Copacabana. Ele tem medo de ser atacado novamente e de não voltar para seus filhos, não voltar para casa.

“A rua é um palco grande para quem quiser trabalhar, trabalhar… Emprego não tem, mas trabalho tem… Mas o problema é que quando eu vou trabalhar, eu tenho uma barreira na rua… a Guarda Municipal… que entra pra pegar minhas mercadorias… Aqui eu fico vulnerável, os caras [da Guarda Municipal que me agrediram] foram trocados de lugar. Eu nem sei quem foram os caras, amanhã ou depois pode acontecer uma covardia comigo. Até hoje estou tentando saber quem matou Marielle e eu não sei! Aí, vai saber, eu? Que não sou ninguém? Amanhã ou depois [vai escutar]: ‘sumiu fulano’!” — Lucas Yan Antunes Santos

O direito ao trabalho e à cidade são pautas centrais desses trabalhadores. A busca por um trabalho com segurança, garantias e respeito bate de frente com políticas públicas que excluem os camelôs do Centro e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.

No Brasil, a taxa de desemprego vem diminuindo em parte por conta do aumento do trabalho informal que, para diversos trabalhadores, é a única fonte de renda para suas famílias. No Rio de Janeiro, além das dificuldades comuns aos trabalhadores informais, os camelôs ainda enfrentam forte repressão e a truculência da Guarda Municipal e da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP). A falta de diálogo com esses trabalhadores é marca do governo Eduardo Paes. Por outro lado, a luta dos camelôs é constante.

No dia 31 de janeiro de 2023, após a ocupação do gabinete do Prefeito Eduardo Paes pelo Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), o Secretário Municipal de Ordem Pública Brenno Carnevale aceitou receber os camelôs. Após a reunião, o secretário revogou a Resolução 439 em janeiro de 2023, que burocratizava a devolução de mercadorias, uma demanda apresentada pela categoria.
No dia 31 de janeiro de 2023, após a ocupação do gabinete do Prefeito Eduardo Paes pelo Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), o Secretário Municipal de Ordem Pública Brenno Carnevale aceitou receber os camelôs. Após a reunião, o secretário revogou a Resolução 439 em janeiro de 2023, que burocratizava a devolução de mercadorias, uma demanda apresentada pela categoria.

Exemplo disso é a atuação do Movimento Unido dos Camelôs, que existe em defesa da categoria diante da marginalização e da falta de diálogo promovidas pelo governo municipal do Rio de Janeiro. O MUCA tem realizado manifestações nas ruas, reivindicando formalização e o fim da violência usada contra os camelôs. Então, para quem algum dia compra uma bala em um ônibus, trem, barca ou metrô, para aqueles que compram um queijo ou um mate na praia, ou para os que compram uma cerveja num bloco, é bom sempre lembrar que: “O camelô é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo!”.

Assista a Videorreportagem Aqui.

Maria de Lourdes do Carmo, 48, conhecida como Maria dos Camelôs, liderança de classe, que trabalha nas ruas desde 1996. Maria há 20 anos é coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), nascido em 2003.
Maria de Lourdes do Carmo, 48, conhecida como Maria dos Camelôs, liderança de classe, que trabalha nas ruas desde 1996. Maria há 20 anos é coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), nascido em 2003.

Sobre o autor: Vinícius Ribeiro é nascido e criado na Zona Oeste, entre a Estrada da Posse, em Santíssimo, e o Barata, em Realengo. Atualmente mora na Mangueira. Jornalista, cineasta e fotógrafo, é membro do Coletivo Fotoguerrilha. Assina direção e roteiro dos curtas SobreviverDame CandoleSob o Mesmo Teto e Entregadores. Atualmente, está em um projeto sobre uberização e precarização do trabalho.


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