Brilha o Sol em Duque de Caxias: Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social e Parceiros da Rede Favela Sustentável Inauguram Sistema de Painéis Solares no Dique da Vila Alzira

Nill Santos, Presidente da AMAC, comemora instalação das placas solares. Foto: Bárbara Dias
Nill Santos, Presidente da AMAC, comemora instalação das placas solares. Foto: Bárbara Dias

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No domingo, 17 de setembro, foi celebrada na Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC) a inauguração do primeiro sistema de energia solar em favelas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Fundada há 13 anos, no Dique de Vila Alzira, a AMAC é uma ONG comunitária que tem como missão a defesa dos direitos das mulheres e a luta contra a violência doméstica. Indo além e visando ampliar suas ações em busca de alternativas mais sustentáveis para o território, como integrante da Rede Favela Sustentável, vem se organizando numa crescente construção coletiva, em busca dessas soluções socioambientais locais. E uma dessas soluções foi a recente instalação das placas fotovoltaicas, possibilitando o uso da energia solar na AMAC. 

Numa parceria da Rede Favela Sustentável, com outros integrantes—Solarize e a Revolusolar—a instalação dos painéis solares na AMAC faz parte de um projeto maior que não apenas realizou a instalação para a captação da energia solar no Dique de Vila Alzira, mas também ofereceu um Minicurso para Embaixadores de Energia Solar da Rede Favela Sustentável, que formou mobilizadores de favelas do Rio de Janeiro, capacitando mais de 120 pessoas. O curso teve um formato online, culminando com um encontro presencial no dia 12 de agosto na AMAC, dia em que o sistema foi instalado.

No domingo, 17 de setembro, convidados e associados celebram a inauguração do primeiro sistema de energia solar em favelas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com a instalação realizada na Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC). Foto: Bárbara Dias
No domingo, 17 de setembro, convidados e associados celebram a inauguração do primeiro sistema de energia solar em favelas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com a instalação realizada na Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC). Foto: Bárbara Dias

No dia 17 de setembro, a inauguração oficial convocou uma coletiva de imprensa e o evento contou com a presença de moradores, aliados e todos que estiveram à frente do projeto. A fala de abertura foi de Nill Santos, presidente da AMAC.

“Hoje é um dia muito especial, pois ontem (16/09) a gente [a AMAC] completou 13 anos de existência, e hoje é o dia da comemoração. E nada mais bonito do que comemorar com a inauguração das placas solares. Vocês sabem, eu cheguei nesse território em 1982, e quando eu cheguei aqui não tinha nem água e nem luz, e hoje estamos nessa comunidade implantando energia solar, num território onde o poder público não nos enxerga, mas o poder social é forte, é potente!” — Nill Santos

Após a fala de abertura, todos puderam expressar suas experiências e expectativas sobre o processo, que foi um marco na causa da justiça energética. E de como é importante o papel da energia solar, que é uma energia limpa, que gera empregos e é alinhada com as novas perspectivas de uma nova forma de se construir alternativas descentralizadas, populares e autônomas na geração de energia. Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da Rede Favela Sustentável, fez uma fala contextualizando o projeto dentro de uma das áreas de atuação da rede.

“Em 2021, a gente foi convidado a pensar um guarda-chuva de justiça climática nas favelas e, daí, nesse processo, a gente se reuniu horas e horas, para pensar um projetão de justiça climática.  E nele tinham três eixos: a pesquisa, a infraestrutura, que tem a ver com os painéis solares, e o intercâmbio, onde a gente faz trocas entre comunidades… Então, hoje, a gente está realizando parte desse grande projeto que foi construído de forma coletiva, que inclusive contou com um minicurso junto com o pessoal da Revolusolar, onde mais de 20 mobilizadores [de outras favelas] puderam acompanhar esse processo de instalação aqui na AMAC. Então, toda essa construção aqui tem muitas mãos, é coletiva, essa rede inteira tá aqui junto.” — Gisele Moura

Após a fala de Gisele, alguns moradores instaladores dos painéis solares, capacitados nesta nova tecnologia no processo de instalação na AMAC, deram seus depoimentos sobre o que aprenderam e como foram suas expectativas. Dentre eles, a fala da instaladora domiciliar Edize Maria Santos, moradora do Cangulo, comunidade vizinha do Dique.

“É muito satisfatório estar aqui na AMAC hoje vendo essa realização. Eu preparei um discurso aqui, mas vou falar com as minhas palavras. Como comunidade, a gente fica imaginando que seria impossível [a instalação da energia solar], mas não é, porque nós estamos aí na luta, na guerra, e eu conheci pessoas maravilhosas que estão aí com o mesmo objetivo de melhorar o mundo com essa energia limpa e mostrando que a gente pode realmente chegar, mostrando que todas as pessoas podem botar o seu módulo.” — Edize Santos

Moradora do Dique, Edize Maria fala de sua participação no minicurso sobre energia solar e do que significa a chegada de uma energia limpa em sua comunidade. Foto: Bárbara Dias
Moradora do Cangulo, Edize Maria Santos fala de sua participação na instalação da energia solar e do que significa a chegada de uma energia limpa no Dique. Foto: Bárbara Dias

Em seguida foram chamados parceiros técnicos do projeto. Hans Rauschmayer, da Solarize, lembrou que a energia solar no Brasil, ainda é muito pouco utilizada, com a apenas 2% de uso. Segundo ele, essa tecnologia, além de ser limpa e sustentável, gera empregos e renda para os territórios.

“A energia solar no Brasil já gerou um milhão de empregos, em apenas onze anos. Empregos que a gente cria em qualquer lugar, pois o Brasil é enorme, tem cidade, tem área rural, tem favela, tem asfalto, tem de tudo, e, em todos os lugares, alguém pode instalar energia solar. E em todo lugar você tem que ter gente para subir no telhado, simples assim, não tem robô que faça isso. Então, realmente é uma fonte de energia que gera muito emprego, tem que ter engenheiros, eletricistas e montadores, que não precisam ter toda essa escolaridade para poder ganhar dinheiro com isso.” – Hans Rauschmayer

A Revolusolar falou da metodologia que vem sendo elaborada por eles com instalações em favelas e comunidades por todo o Brasil.

“Essa metodologia que a gente foi criando a partir de vários projetos em parceria com a Solarize, e agora com a Rede Favela Sustentável e a AMAC, é [baseada] nessa união. Não é só botar a placa: é capacitar, é gerar emprego, é dar autonomia, protagonismo, capacitar as lideranças para aproveitar toda essa revolução da energia solar e para entender o que ela pode trazer, para além do desconto na conta de luz.” — Eduardo Avila

Adriano Paraiso, também da Revolusolar, destaca que o que os motiva para a realização desses projetos socioambientais é algo que vai além, é a busca pelo empoderamento local e social.

“Eu costumo dizer que a Revolusolar é mais que energia solar, é energia humana… Ontem, enquanto estávamos arrumando o espaço, eu pude conversar com a Nill que, o que a gente fez aqui é mais que economia de energia, é mais que esse sistema aqui em cima da gente, a Nill batalhou muito pra estar aqui, e por tudo pelo que ela já sofreu na vida, ela poderia ser uma pessoa totalmente diferente, mas ela escolheu o caminho do bem, para fazer o bem para as pessoas.” — Adriano Paraiso

Adriano Paraíso e Eduardo Avila, ambos da Revolusolar comemoram com Nill a parceria. Foto: Bárbara Dias
Adriano Paraíso e Eduardo Avila, ambos da Revolusolar comemoram com Nill a parceria. Foto: Bárbara Dias

Alguns dos jovens que participam das atividades de justiça energética da Rede Favela Sustentável também puderam deixar suas impressões sobre a instalação dos painéis de energia solar. O depoimento de Larissa Ricardo, jovem moradora do Dique de Vila Alzira, chamou atenção.

“Eu vim aqui parabenizar Nill e todos que puderam contribuir… Falando como uma jovem, realmente estou surpresa e feliz em estar aqui hoje presenciando isso. A gente não consegue nem pensar que seria inaugurado um sistema de captação solar em cima de uma favela, na periferia. Então, eu estou muito honrada de estar aqui presente, fazendo parte disso, que as crianças também estão podendo presenciar e ver como é importante a gente estar ligado ao meio ambiente e ao futuro. Todo mundo olha para mim e fala ‘moradora do Dique’. [Antes] eu tinha vergonha disso e hoje vendo essa transformação que tá tendo aqui, eu tenho orgulho de falar que sou moradora, porque a minha comunidade é a primeira favela de Duque de Caxias que está inaugurando um sistema solar.” — Larissa Ricardo

Após várias participações, o evento se encaminhando para o final, Nill Santos fez mais uma fala emocionada, sobre o quanto vale a pena a luta e a não desistência de seus sonhos. Ela chama todos as crianças que estudam e realizam atividades na AMAC e finaliza com um potente depoimento.

“Eu sempre falo que nós somos girassóis, porque o girassol está o tempo todo virado para o sol e as suas sementes são cápsulas de energia. E mais uma vez, como foi no dia da implantação das placas o sol estava radiante, como está hoje, e as sementes estão aqui. Essa é a semente. Essa é a nova geração, que vai crescer: homens e mulheres, cientes dos seus direitos, sabendo que eles têm igualdade de direitos, construindo um futuro muito melhor.” — Nill Santos

Davi, jovem da AMAC, assina o banner no final da inauguração. Foto: Bárbara Dias
Davi, jovem da AMAC, assina o banner no final da inauguração. Foto: Bárbara Dias

Iniciativas como a instalação dos painéis solares em Duque de Caxias apontam um novo horizonte para a comunidade do Dique de Vila Alzira. A força local aliada a parcerias que empoderamento e que estimulam a autonomia aos moradores, marcam não apenas o começo de uma revolução energética, mas, sobretudo, um compromisso com um futuro verde e mais sustentável para o território.

Assista aqui aos vídeos completos da inauguração do sistema solar da AMAC.

Veja aqui as fotos da inauguração do sistema solar da AMAC:

Inauguração do Sistema Solar na AMAC, Duque de Caxias, 17 de setembro de 2023

Sobre a autora e fotógrafa: Bárbara Dias, cria de Bangu, possui licenciatura em Ciências Biológicas, mestrado em Educação Ambiental e atua como professora da rede pública desde 2006. É fotojornalista e trabalha também com fotografia documental. É comunicadora popular formada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e co-fundadora do Coletivo Fotoguerrilha.

*A Rede Favela Sustentável (RFS) e o RioOnWatch são articulados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)


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