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No dia 2 de dezembro de 2023, aconteceu no Centro Comunitário Irmãos Kennedy (CCIK), o 6º Grande Encontro Anual da Rede Favela Sustentável (RFS), com a presença de lideranças comunitárias, jovens e moradores de diversas favelas do Rio de Janeiro e aliados técnicos integrantes da RFS. O já tradicional encontro, que acontece desde 2018, fecha o ciclo de atividades do ano com uma retrospectiva dos principais momentos e votando sobre o planejamento do ano seguinte. Este ano o evento veio também com a denominada “COP das Favelas“, uma construção coletiva do Grupo de Trabalho Jovem da RFS. Foram debatidos desafios que os jovens definiram como prioritários, promovendo um debate localizado, paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 28).
6º Grande Encontro na Zona Oeste do Rio de Janeiro
Num sábado ensolarado em uma das regiões mais quentes do Grande Rio, aconteceu na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio de Janeiro a sexta edição do Grande Encontro Anual da Rede Favela Sustentável*. O Centro Comunitário Irmãos Kennedy (CCIK), uma potente referência local, proporcionou o pátio e as salas, servindo de anfitriã aos demais 100 integrantes da RFS presentes no dia, que representavam 35 diferentes favelas.
O evento se iniciou com as boas-vindas dos anfitriões do CCIK, Berenice Natalicio Santos e Verônica Gomes Martins da Silva. Em sua fala, Verônica deu uma animada e contente boas-vindas aos presentes, fez uma breve contextualização da história do CCIK e falou da importante parceria junto a Rede Favela Sustentável.
“Bom dia! É com muita alegria que a gente recebe todos vocês e a Rede Favela Sustentável onde a gente se sente em casa. É uma rede que acolhe não só a gente, como as nossas demandas, e de fato faz reverberar as nossas vozes, nossas lutas, nossas conquistas e as nossas dores também… Está sempre nos potencializando.” — Verônica Gomes
Em seguida, Theresa Williamson, Diretora Executiva da Comunidades Catalisadoras (ComCat), que mantém a equipe de gestão da RFS, contextualizou o evento na história da RFS.
“A proposta da Rede Favela Sustentável começou de forma efetiva num Grande Encontro, que foi o primeiro em 2018 na Defensoria Pública quando demos início a essa rede. A proposta do Grande Encontro é que a gente começa o dia rememorando o ano e a gente termina o dia definindo as propostas para o ano que vem. Esse ano teremos um momento conduzido pelo GT Jovem da RFS que vem se formando esse ano, que vai dialogar com a questão da COP 28 que tá acontecendo, e aí propuseram uma COP das Favelas.” — Theresa Williamson
A manhã seguiu com uma retrospectiva do ano, apresentada por Gisele Moura, coordenadora da equipe gestora da Rede Favela Sustentável, que introduziu o vídeo “Realizando a Justiça Climática em Rede”, com trechos das atividades de 2023.
Assista ao Vídeo Retrospectivo Cobrindo Todas as Atividades da RFS em 2023:
Após o vídeo, os participantes presentes nas atividades realizadas ao longo do ano refletidas no vídeo foram convidados a ir a frente tirar uma foto e ter um rápido momento de fala, sobre a importância de participar de cada atividade junto aos outros integrantes. Gisele destacou uma das primeiras ações do ano: o mutirão de plantio e revitalização no Salgueiro, onde Luiz Cassiano, do Teto Verde Favela que participou da atividade, falou da sua experiência.
“Foi muito legal estar lá no mutirão do Salgueiro, a rede em peso lá… Gostaria de ver fotos de como está aquilo lá agora. Foi bem bacana, foi um dia exaustivo, mas muito enriquecedor pelos contatos, pelas amizades e pessoas que ali estiveram, batalhando para fazer aquela horta.” — Luiz Cassiano
Outra atividade de impacto em 2023 relembrada no Grande Encontro foi o projeto Memória Climática das Favelas, composto de cinco dias intensos de rodas de memória climática realizados em favelas do Rio de Janeiro: na Maré; na Rocinha; em Antares, Santa Cruz; no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo (PPG); e no Vidigal, que culminaram com o lançamento da exposição Memória Climática das Favelas no Museu das Remoções, na Vila Autódromo em junho.
Márcia Souza, do Museu de Favela (MUF), do PPG, fez sua fala relembrando a roda na comunidade.
“Foi bem interessante a roda de conversa lá no MUF. Nós tivemos a interação dos mais velhos, tivemos lá a presença de mulheres e homens que contaram a história daquele território. Tivemos também a sorte de conseguir engajar alguns jovens que estavam lá, e hoje tem até um produto que é estar fazendo parte aqui do grupo, da COP das Favelas. Quer dizer, foi um resultado muito legal, e eu pude ouvir algumas histórias [de antes quando] nem eu era nascida. O pessoal mais velho não ficou em momento nenhum envergonhado de falar no microfone, e ficaram muito empolgados de conhecer a nossa história, de falar sobre eles, de falar sobre o território e trazer algumas lembranças, para que não aconteça novamente.” — Márcia Souza
A oficina “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário” foi outra atividade de 2023, realizada pela equipe do RioOnWatch junto de jovens de 11 diferentes favelas da RFS. O jovem Matheus Edson Rodrigues, de Rio das Pedras, relembrou a experiência de participar dessa atividade.
“A oficina de jornalismo, eu não canso de elogiar todo o processo, que a gente teve desde o começo até o final. A partir do momento que a gente criou as nossas próprias pautas, as nossas matérias foi para mim, algo muito bom, porque foi muito satisfatório você relatar ali o que estava acontecendo na sua favela.” — Matheus Edson Rodrigues
Os lançamentos locais de dados sobre justiça hídrica e energética nas favelas, foram também atividades centrais da RFS em 2023. Em cada comunidade refletida na pesquisa “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”, os dados locais vêm sendo lançados junto dos moradores, com as apresentações dos dados realizadas pelos jovens pesquisadores locais. Esses lançamentos também foram lembrados na retrospectiva do ano de 2023.
“A experiência da Vila Cruzeiro foi muito interessante… A comunidade foi ao evento e abraçou, falou, se sentiu confortável em estar ali e se comunicou… Tivemos a oportunidade de falar da nossa pesquisa para explicar os dados. Foi um evento que foi leve, não foi aquele evento maçante, e acho que isso foi interessante.” — Juliana Vicente
O primeiro intercâmbio nacional da Rede Favela Sustentável, “Tecendo Sustentabilidade e Ampliando Saberes, com Favelas, Quilombos e Aldeias” também foi realizado em 2023, com a presença de várias lideranças do país. Foi também realizado um minicurso para formar embaixadores solares da RFS, junto da instalação de um sistema fotovoltaico na Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC) em Duque de Caxias.
“A instalação das placas solares… foi um marco não só para nossa comunidade, mas eu acredito que para toda a rede. E a proposta é que isso vire um modelo, para a gente estar colocando em outras comunidades também… É muito interessante, porque é um sistema inovador, é um sistema que pouco se fala e é um sistema que tem que ser mais usado… O interessante disso tudo foi que além da gente produzir energia, a gente também pôde produzir uma nova forma de empregabilidade dentro das favelas.” — Nill Santos
Um aplicativo vem sendo desenvolvido pela Rede Favela Sustentável e parceiros em 2023 para monitorar a justiça hídrica e energética nas favelas. Uma testadora do aplicativo, Flávia Lima, moradora de Rio das Pedras, falou um pouco sobre como foi utilizar.
“Eu participei fazendo pesquisa sobre Rio das Pedras, de casa em casa, de rua em rua, denunciando a falta de água, a falta de energia e falta de saneamento básico, e então para mim foi muito importante, pois eu consegui conhecer um pouco a minha comunidade.” — Flávia Lima
O curso de capacitação sobre gestão de associações, também gerou entusiasmo entre os participantes em 2023. Ainda este ano e contemplado também no vídeo pudemos assistir aos trechos da Exposição de Memória Climática que percorreu a Rocinha, uma exposição aberta à população e montada em locais de passagem, possibilitando que moradores rememorassem o tempo de lata d’água na cabeça e os mutirões que realizavam coletivamente.
Por fim, encerrando as atividades do ano de 2023, a Rede Favela Sustentável esteve presente na audiência pública ‘Direito Humano à Água: Muita Tarifa e Falta de Água?’ com a presença de 100 integrantes da rede na ALERJ.
“Eu gostei bastante porque estávamos num local que nós não costumamos estar. Falo por mim, mas eu não costumo estar lá, não costumo ocupar aquele espaço, de chegar lá numa audiência pública. Mas a gente conseguiu chegar lá e fazer o que tinha que ser feito. Conseguimos e daqui para frente vai ser melhor ainda.” — Luiz Miguel Ribeiro
COP das Favelas: Uma Construção Coletiva de Jovens da Rede Favela Sustentável
Uma série de rodas de conversa, mediadas pelo GT Jovem da Rede Favela Sustentável, foi um dos momentos de maior troca durante o Grande Encontro. A denominada COP das Favelas, realizada em paralelo à COP 28 da ONU, teve o objetivo de promover debates intergeracionais entre lideranças jovens e veteranas, apoiados em quatro eixos diferentes: (1) Resíduos sólidos nas favelas; (2) Injustiças provenientes do racismo ambiental; (3) Histórias de superação de racismo ambiental e (4) Protagonismo e o papel da juventude periférica no combate às mudanças climáticas.
Durante o final da manhã e início da tarde, os jovens puderam conduzir discussões em torno desses temas, em duas sessões diferentes, onde os participantes do evento se encaminharam para as rodas de seu interesse. Uma das jovens que atuou na mediação da roda de conversa, “Protagonismo e o Papel da Juventude Periférica no Combate às Mudanças Climáticas”, Sara Hins, integrante do MUF (Museu de Favelas) no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, falou da importância da atividade.
“Eu achei o processo muito interessante por estar com jovens de outros territórios, cada um com a sua especificidade, falando ali de temas como o racismo ambiental e justiça climática. A importância da ação da COP das Favelas é poder falar sobre esse tema nos nossos territórios. Onde nós, corpos pretos e periféricos, são os mais afetados pelas mudanças climáticas. E dialoga com a COP oficial, pois cria um espaço em que a gente, como sociedade civil e periférica, não teria acesso, de debater esses assuntos, pelas pessoas que realmente sofrem as mudanças climáticas no dia-a-dia.” — Sara Hins
Consolidando Projetos Existentes e Apontando Novos Caminhos para 2024
O foco da tarde no Grande Encontro foi definir os focos das ações previstas pela Rede Favela Sustentável em 2024, a partir de seus cinco pilares de atuação: intercâmbios, infraestrutura, pesquisa, comunicação, e incidência.
Para poder debater as propostas para 2024, primeiro foram apresentados os resultados da avaliação anual realizada com resposta de 86 integrantes da Rede Favela Sustentável, em sua grande maioria lideranças de favelas espalhadas por todas as regiões do Grande Rio. A apresentação foi feita por Theresa, que após mostrar os resultados, solicitou que todos separassem em quatro grupos de discussão, escrevessem em “post-its” cada um sua prioridade para 2024, apresentassem e discutissem em grupo.
No Grande Encontro de todo ano, este é um momento crucial para a troca presencial das ideias que definem as ações para o ano seguinte. Em cada grupo, as propostas foram apresentadas por cada participante e organizadas em um cartaz, enquanto rolava um debate para entender as complementaridades e diferenças. Em seguida, essas trocas foram devolvidas em plenária, onde os focos semelhantes entre grupos foram reconhecidos e as prioridades globais da RFS votadas. As três propostas que irão definir as ações da RFS em 2024 ficaram: a continuidade das atuações e fortalecimento de jovens; intercâmbios e ações que possibilitem que a RFS chegue em novos territórios onde não tem atuada; e capacitações e consultorias que ajudem a estruturar as iniciativas comunitárias integrantes.
Veja as fotos do 6º Encontro da RFS no Flickr:
Sobre a autora e fotógrafa: Bárbara Dias, cria de Bangu, possui licenciatura em Ciências Biológicas, mestrado em Educação Ambiental e atua como professora da rede pública desde 2006. É fotojornalista e trabalha também com fotografia documental. É comunicadora popular formada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e co-fundadora do Coletivo Fotoguerrilha.
*A Rede Favela Sustentável (RFS) e o RioOnWatch são projetos da Comunidades Catalisadoras (ComCat).