Este artigo faz parte de uma série de perfis de iniciativas integrantes da Rede Favela Sustentável.
Iniciativa: Providência Agroecológica
Contato: Facebook | Instagram | YouTube | WhatsApp +55 (21) 994659760
Ano de fundação: 2013
Comunidade: Morro da Providência
Missão: Contribuir para a promoção da saúde, da educação e das práticas culturais populares e tradicionais por meio da agroecologia no Morro da Providência.
Eventos públicos: Participação em feiras, exposições, seminários e outros eventos, bem como aulas locais, oficinas, rodas de conversa, mutirões de plantio e outras práticas ecológicas na favela. Confira a página do projeto no Instagram para obter mais informações.
Como contribuir: Apoie a Providência Agroecológica por meio de contribuições financeiras, voluntariado ou participação em suas atividades. Para mais informações e atualizações, siga a página no Instagram ou acesse sua campanha de captação na Benfeitoria.
No Morro da Providência, a primeira comunidade denominada favela no Brasil, fundada em 1897, uma iniciativa notável vem transformando vidas e paisagens: a Providência Agroecológica, fruto do trabalho de Alessandra Roque e Lorena Portela, desde 2013. Enraizada na agroecologia, educação ambiental, saúde e bem-estar da comunidade, o projeto é coordenado por mulheres e aborda questões urgentes de segurança alimentar, qualidade ambiental e fortalecimento do tecido social em uma área negligenciada pelos serviços públicos. A iniciativa também oferece educação artística aos moradores, especialmente crianças, definindo-se como “uma escola em construção”.
Nascimento e Crescimento da Providência Agroecológica
Alessandra Roque, Lorena Portela e Elisangela Almeida fundaram a Providência Agroecológica para oferecer um espaço que fortalecesse o sentimento de pertencimento da comunidade. As atividades dessa iniciativa iniciaram em 2013, e se conectam aos desafios de um urbanismo vinculado às Olimpíadas de 2016. O Estado e os empreiteiros, não cumprindo seus compromissos sociais e ambientais com a região, impulsionaram a ação das moradoras.
Por exemplo, o Comitê Olímpico doou 12,000 sementes para reflorestamento nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Enquanto isso, na Providência, duas moradoras se mobilizaram e sozinhas plantaram um número impressionante de 14.000 sementes para reflorestar uma área desmatada do Morro, de acordo com Alessandra.”
Sua visão de autogestão baseada na ecologia responde às ausências dos serviços públicos, que não fornecem recursos básicos, como água e eletricidade, para sua casa. Inicialmente, a área onde ela mora era usada para o descarte de lixo. Aos poucos, ela começou a limpar e transformar o terreno em um espaço para uso comunitário, com base em tecnologias ancestrais e estratégias de vida da favela. Desde então, juntando-se a iniciativa ambiental Horta Inteligente, que era realizada por outras mulheres no Morro, os projetos evoluíram para o que é hoje: uma organização centrada na educação e focada na saúde comunitária e na recuperação e revitalização ambiental por meio de práticas ecológicas que adaptam para as favelas conhecimentos indígenas e da diáspora africana.
Lorena Portela, que já atuava na Horta Inteligente, coordena a Providência Agroecológica junto com Alessandra, desde que as duas iniciativas se unificaram.
“Somos um projeto de agroecologia que está voltado para a educação e para a saúde. Então, a gente trabalha com crianças e mulheres principalmente, ensinando sobre plantas medicinais e alimentícias a partir de conhecimentos tradicionais e populares, que envolvem a saúde, além de práticas culturais e artísticas.” — Lorena Portela
Fortalecimento Comunitário por Meio da Educação Socioambiental
No contexto das muitas vulnerabilidades enfrentadas por uma favela, onde o acesso à terra, ao lazer e à natureza é muitas vezes restrito, é fundamental a promoção da conexão com o meio ambiente e seus bens essenciais para o cuidado e a alimentação.
“A gente tenta incidir sobre os desafios e deficiências estruturais da educação pública… e [sobre] uma desconexão generalizada da sociedade [com relação à] terra e à natureza, principalmente no ambiente urbano.” — Lorena Portela
Dessa forma, o grupo procura abordar essas questões através da agroecologia, com o objetivo de aumentar oportunidades educacionais. Como resultado, a Providência Agroecológica desenvolveu uma série de atividades destinadas a promover a conscientização ambiental, a saúde e o enriquecimento cultural, entre elas:
- Educação Agroecológica: Ensino para crianças e adolescentes sobre questões agroecológicas, cultivo de hortas e o ciclo das plantas.
- Infraestrutura Ecológica: Construção de banheiros secos, telhados verdes e bacias de evapotranspiração. Implementação de áreas de cultivo e sistemas agroflorestais no Morro.
- Produção de Recursos: Fabricação de sabonete multiuso com reaproveitamento do óleo de cozinha usado nas próprias residências do Morro.
- Centro Cultural: Estabelecimento de um espaço cultural com uma biblioteca, promovendo discussões e intercâmbios culturais.
- Saúde e Medicina Natural: Atividades educacionais sobre como preparar, cultivar e utilizar plantas medicinais e alimentícias.
“Tentamos oferecer conhecimento e cuidado, principalmente para as mulheres, mas também para toda a comunidade.” — Lorena Portela
Desafios e Impacto Comunitário
Apesar dos resultados significativos, a Providência Agroecológica enfrenta desafios contínuos, em especial, para conseguir uma fonte estável de financiamento.
“A maior dificuldade sempre é o recurso financeiro. Não temos uma fonte fixa de financiamento, então, estamos sempre lutando para manter as coisas acontecendo.” — Lorena Portela
Entender que o Morro da Providência é densamente ocupado embora careça de recursos básicos, como água, tratamento de esgoto, gestão eficiente de resíduos sólidos e espaços de lazer, ressalta a importância dessa iniciativa na primeira favela do Brasil.
Durante a pandemia, a Providência Agroecológica instalou 83 pias públicas para lidar com o impacto desigual do coronavírus nas populações mais vulnerabilizadas do Rio de Janeiro. Enquanto o mundo era aconselhado a lavar as mãos, alguns moradores da Providência tinham acesso limitado à água. Nesse contexto, a iniciativa não foi só impactante: salvou vidas.
A Providência Agroecológica tem como objetivo expandir seu alcance para mais crianças, mulheres e jovens no Morro da Providência. A visão a longo prazo inclui criar um legado duradouro, permitindo que o trabalho siga acontecendo.
“O nosso objetivo é construir, manter e fortalecer um ambiente de convivência entre pessoas e natureza, especialmente dentro do território da favela.” — Lorena Portela
*A Providência Agroecológica é uma das mais de 120 iniciativas de favelas mapeadas em 183 favelas do Grande Rio pela Comunidades Catalisadoras (ComCat), organização que publica o RioOnWatch. Esse mapeamento faz parte do nosso programa Rede Favela Sustentável, lançado em 2017, para reconhecer, apoiar e fortalecer as qualidades sustentáveis e os movimentos comunitários nas favelas do Rio de Janeiro. Confira todos os perfis desses projetos mapeados aqui.