Mulheres Negras no Pódio! Olimpíadas de Paris 2024, Parte 2: Projetos Sociais Levam as Favelas ao Pódio Olímpico, Com ou Sem Medalhas

Mariane Fernandes, de 28 anos, é armadora esquerda da seleção brasileira de handebol e participou de sua primeira Olimpíada em 2024. Nascida em Niterói, foi criada em uma favela de Anchieta, Zona Norte do Rio, e começou seus treinos na modalidade em São João de Meriti, cidade da Baixada Fluminense. Foto: Redes sociais
Mariane Fernandes, de 28 anos, é armadora esquerda da seleção brasileira de handebol e participou de sua primeira Olimpíada em 2024. Nascida em Niterói, foi criada em uma favela de Anchieta, Zona Norte do Rio, e começou seus treinos na modalidade em São João de Meriti, cidade da Baixada Fluminense. Foto: Redes sociais

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Esta é a segunda parte de uma matéria de duas partes sobre as conquistas de representatividade nas Olimpíadas de 2024.

As conquistas olímpicas de Beatriz Souza, Rebeca Andrade e Ana Patrícia e Duda são ainda mais significativas quando consideramos o contexto social de mulheres negras, gordas, de favelas, periferias ou nordestinas no esporte do Brasil. Para estes públicos, projetos sociais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de moradores de favelas e áreas periféricas, contribuindo para a redução das desigualdades, a inclusão social e a promoção de direitos fundamentais.

Essas iniciativas surgem, muitas vezes, como uma resposta à ausência do Estado nessas regiões, oferecendo alternativas comunitárias que têm o poder de transformar vidas e territórios. Os impactos positivos dos projetos sociais vão muito além do curto prazo e deixam um legado duradouro, que molda o futuro de jovens e famílias e faz com que pessoas comuns, faveladas e periféricas se tornem atletas olímpicos. Ao investir em talentos que, de outra forma, seriam ignorados, os projetos sociais transformam vidas e fortalecem a sociedade como um todo.

Esses três casos não são fatos isolados. Há uma imensa gama de atletas favelados e periféricos formados por projetos sociais que são medalhistas olímpicos. Um outro exemplo emblemático de uma campeã olímpica cria de projeto social é Rafaela Silva, judoca brasileira, cria da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Ela conquistou uma medalha de bronze na disputa por equipes em Paris e a medalha de ouro no Rio em 2016. Sua jornada vitoriosa começou em um projeto social na CDD, comunidade carioca marcada por desafios sociais e por histórias de superação. Rafaela ingressou no judô aos sete anos quando seus pais, Luiz Carlos e Zenilda Silva, a inscreveram junto com sua irmã Raquel no “Projeto do Geraldo“. Esse projeto, liderado pelo técnico Geraldo Bernardes, foi posteriormente associado ao Instituto Reação, fundado pelo ex-atleta Flávio Canto em 2003.

Ele acreditava que Rafaela e Raquel poderiam se tornar atletas de nível internacional, capazes de representar o Brasil em grandes competições. Dito e feito. O caminho de Rafaela da Cidade de Deus ao pódio olímpico é uma prova de que o esporte, quando aliado a projetos sociais bem estruturados, pode ser uma poderosa ferramenta de mudança social.

 

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Na cidade do Rio, um exemplo bem sucedido de política pública que incentiva o esporte e a saúde da população são as Vilas Olímpicas. Sobretudo em favelas e bairros periféricos, elas oferecem infraestrutura de qualidade, programas sociais e oportunidades de desenvolvimento, contribuem para a redução da violência, promovem a saúde e fortalecem os laços comunitários. Atletas olímpicos já foram formados nesses espaços públicos, como na Vila Olímpica da Mangueira, localizada na tradicional favela da Zona Norte do Rio.

O Instituto Mangueira do Futuro, que gere o Centro de Referência Esportiva Mangueira, trabalha com o esporte educacional e de rendimento, contando com o patrocínio da Secretaria de Esporte do governo do estado do Rio de Janeiro e da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Nesse celeiro de atletas, foi formado, por exemplo, Isaac Souza, esportista da seleção brasileira de saltos ornamentais, onze vezes campeão brasileiro, que se classificou para as Olimpíadas Paris 2024, no que seria sua segunda participação olímpica. No entanto, o atleta mangueirense sofreu uma ruptura de tendão que o retirou dos Jogos de Paris.

Érika joga com a também cria de Campo Grande, da localidade de Vila Jardim, e pivô da seleção de basquete Clarissa Santos, que treinou em outro aparelho público, o Centro Esportivo Miécimo da Silva, e jogou nas Olimpíadas de Londres 2012. Foto: André Durão
Érika joga com a também cria de Campo Grande, da localidade de Vila Jardim, e pivô da seleção de basquete Clarissa Santos, que treinou em outro aparelho público, o Centro Esportivo Miécimo da Silva, e jogou nas Olimpíadas de Londres 2012. Foto: André Durão

Tal como Isaac, há outros atletas treinados e revelados pela Mangueira no Olimpo. Em sua quarta participação (Atenas 2004, Londres 2012, Rio 2016 e Paris 2024), Érika de Souza, cria de Palmares, Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, foi lançada na Estação Primeira.

Nas Olimpíadas do Rio 2016, a atletista Fabiana Moraes participou das competições de 100m com barreiras e não foi a única mangueirense: a favela da Zona Norte esperava ter oito atletas defendendo as cores do Brasil. E em Tóquio 2021, além de Isaac, houve a presença de outros dois atletas da Mangueira: Natasha Rosa, do levantamento de pesos, e Gabriel Constantino, que competiu nos 110m com barreiras.

É importante lembrar que, para além das olimpíadas, esse projeto mangueirense também já formou referências em esportes como o futebol. O meio-campista Philippe Coutinho, lançado pelo Vasco da Gama, mas que já jogou em grandes clubes ao redor do mundo, como Internazionale Milano, na Itália, Liverpool e Aston Villa, na Inglaterra, Barcelona, na Espanha, Bayern de Munique, na Alemanha, Al-Duhail, no Qatar, começou sua trajetória esportiva pela Mangueira. Um terreiro de gente bamba, mas também de esportistas de primeira.

Todo esse legado de esporte só foi possível porque na década de 1970, uma pioneira mangueirense, mulher negra, desbravou o Olimpo. Silvina das Graças Pereira da Silva fez parte da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Montreal 1976, no Canadá, disputando as provas de salto em distância e 200 metros rasos. Hoje, Silvina está eternizada junto a outras mulheres mangueirenses em um painel de grafite na Mangueira.

Silvina Pereira, atleta mangueirense que disputou os Jogos de Montreal em 1976 é eternizada em painel de grafite na estação de trem da comunidade. Foto: Malu Vibe/Divulgação
Silvina Pereira, atleta mangueirense que disputou os Jogos de Montreal em 1976 é eternizada em painel de grafite na estação de trem da comunidade. Foto: Malu Vibe/Divulgação

Como se vê, o esporte na Mangueira tem raízes profundas e tem dado muitos frutos. Entre suas promessas para o futuro do esporte brasileiro está Taiane Justino, atleta do levantamento de peso. A cria da Mangueira esteve nos Jogos Olímpicos de Paris para participar do programa Vivência Olímpica do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que leva às Olimpíadas jovens promessas do esporte que possivelmente competirão pelo Brasil nos próximos Jogos.

Em Paris 2024, diversos atletas favelados e de origem periférica participaram e trouxeram orgulho para suas comunidades, mesmo sem conquistar medalhas. Em um vídeo que viralizou, sonhando com sua participação na Olimpíada de Paris, o ainda menino Ygor Coelho emocionou o público brasileiro. Mesmo em um esporte pouco tradicional no Brasil, o badminton, Ygor, cria da favela da Chacrinha, localizada entre os bairros de Praça Seca e Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, persistiu e, pela terceira vez, participou dos Jogos Olímpicos. Sua formação enquanto atleta aconteceu a partir dos três anos de idade no projeto Miratus, fundado por seu pai, Sebastião Dias de Oliveira, na Chacrinha em 2000. Antes da França, ele já havia competido no Rio em 2016 e em Tóquio em 2021.

Assim como a maioria dos esportistas citados nesta reportagem, Gabriele Sousa dos Santos, atleta do salto triplo, cria de Santa Cruz, é fruto de um projeto social que existia em sua comunidade. No entanto, depois de não se classificar e terminar em 27ª no salto nas Olimpíadas de Paris 2024, em entrevista, a atleta desafiou o conceito de derrota. Para ela, a favela estar presente nesta competição já é uma vitória em si:

“Estou muito feliz de estar aqui, é meu primeiro campeonato olímpico! A menina que começou correndo lá na favela do Rio de Janeiro nunca ia imaginar que ia estar aqui, entende? Não é só uma questão de ganhar ou perder medalha, olimpíada… Eu venci muita coisa para estar aqui. Eu já sou vencedora por estar aqui. Estou representando toda uma geração de meninas, de crianças, que começaram o atletismo comigo e muitos se perderam no caminho. Represento a minha família, meus amigos, estou representando muitas pessoas, então, será realmente que eu perdi?”

Gabriele Santos, atleta do salto triplo, cria de Santa Cruz. Foto: Wagner Carmo/Confederação Brasileira de Atletismo
Gabriele Santos, atleta do salto triplo, cria de Santa Cruz. Foto: Wagner Carmo/Confederação Brasileira de Atletismo
Laura Amaro, atleta do levantamento de peso, cria e Cascadura mostra sua tatuagem, onde se lê excelência, respeito, amizade. Foto: Larissa Carvalho/ge.globo
Laura Amaro, atleta do levantamento de peso, cria e Cascadura mostra sua tatuagem, onde se lê excelência, respeito, amizade. Foto: Larissa Carvalho/ge.globo

Outra atletas apoiada por políticas públicas foi Laura Amaro, cria de Cascadura, bairro na Zona Norte do Rio. A “cria de verdade“, como se define, teve sua formação atlética em um projeto social no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), na Penha, oferecido pela Marinha do Brasil. Aos 13 anos de idade, ela entrou no Programa Forças no Esporte (PROFESP), onde iniciou o treinamento de alto nível em levantamento de peso, que a levou às Olimpíadas de Paris.

É interessante remarcar o impacto dessa e de outras políticas públicas da força naval voltadas ao investimento no esporte. Em Paris 2024, atletas da Marinha conquistaram 30% das medalhas do Brasil.

Cria do Grande Rio, Mariane Fernandes, de 28 anos, é armadora esquerda da seleção brasileira de handebol e participa de sua primeira olimpíada. Ela nasceu em Niterói e foi criada em uma favela do bairro de Anchieta, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela sente que viveu um sonho só pelo fato de defender a seleção brasileira nas olimpíadas.

“Toda vez que eu coloco a camisa da seleção brasileira eu sinto que estou vivendo meu sonho… A Mariane de 13 anos, quando começou a jogar handebol, não imaginava o tanto que ela ia conhecer o mundo… ela sonhava, mas parecia um sonho muito distante, mas não, os sonhos se tornam realidade.”

A atleta começou sua trajetória no handebol na cidade vizinha de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, no início da adolescência. Aos 16 anos, recebeu convite para defender o clube de handebol Associação Desportiva e Cultural Metodista, de São Bernardo do Campo, interior de São Paulo.

Recentemente, um vídeo de Mariane emocionada e orgulhosa de sua trajetória e origem viralizou nas redes sociais. A gravação do vídeo aconteceu assim que ela chegou à Vila Olímpica em Paris. Nele, a atleta refletiu sobre sua vida enquanto esportista favelada e pediu atenção das autoridades às favelas e aos talentos favelados, que têm sido negligenciados historicamente.

Atletas de grande destaque nas Olimpíadas 2024, os irmãos da seleção brasileira de vôlei, Darlan Souza e Alan Souza, são crias de Nilópolis, cidade na Baixada Fluminense. Ambos jogam como oposto, posição responsável por virar a bola e fazer pontos nos momentos mais importantes e tensos do jogo. Alan Cunha, de 29 anos, antes de tudo, é uma inspiração para o caçula, que seguiu seus passos.

“Minha maior referência no esporte é meu irmão [Alan]… ele passou por certas situações… pra ele ir treinar, ele tinha que catar latinha. Pra ter o trocado dele pra pegar o trem e ir treinar. Então, ter alguém que realizou o sonho dele e que vem do mesmo lugar que você, é algo que motiva bastante… você sabe o que ele passou, você viu a caminhada dele, os obstáculos que ele superou. Então, pra mim, não tem ídolo melhor e maior que meu irmão.” — Darlan Souza

Alan começou sua trajetória no vôlei aos 14 anos, jogando na Escola Municipal Maria da Conceição Cardoso em Nilópolis. Um aluno muito pensativo e inteligente, seu professor de educação física viu potencial nele para o vôlei. Professor Xandão percebeu que montar um time de vôlei na escola poderia interessar os alunos, no entanto, não esperava que a equipe seria tão competitiva. A escola chegou a conquistar o terceiro lugar nos Jogos Estudantis.

Com isso, outros treinadores da região começaram a ver o potencial do jogador e, então, surgiu a oportunidade de participar da seleção de Nilópolis em um campeonato contra as cidades vizinhas da Baixada. Apesar de não ter feito seu melhor jogo, um técnico e olheiro do Botafogo viu o jogo convidou ele a se federar pelo clube da Zona Sul do Rio. Como a falta de dinheiro e a distância seriam obstáculos, o clube concordou em dar uma ajuda de custo para ele.

Em menos de dois anos de trajetória no vôlei, ele foi selecionado para a seleção carioca, que disputaria um campeonato nacional. Logo em seguida, foi convidado a participar dos treinamentos da seleção brasileira no Centro de Treinamento de Saquarema da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Aos 17 anos, ele foi contratado pelo Cruzeiro e teve que se mudar para Belo Horizonte. Depois de sair do Cruzeiro, ele jogou em diversos estados do Brasil, na Rússia e na Polônia.

Alan Souza e seu irmão caçula Darlan Souza, ambos jogadores da seleção brasileira de vôlei. Foto: Redes sociais
Alan Souza e seu irmão caçula Darlan Souza, ambos jogadores da seleção brasileira de vôlei. Foto: Redes sociais

Já o caçula Darlan Souza, de 21 anos, é substituto de seu irmão mais velho na seleção, mas tem tido oportunidade de jogar porque Alan se lesionou e tem sido poupado. Darlan é muito fã de Naruto e ficou famoso na internet pelas comemorações em forma de ‘jutsu, movimentos com as mãos baseados no anime japonês. Um dos principais destaques da seleção, ele foi um dos grandes responsáveis pela campanha pré-olímpica vitoriosa e peça fundamental na trajetória olímpica do time masculino do Brasil. Em sua primeira Olimpíada, em seu jogo de estreia, Darlan foi o maior pontuador da partida, apesar da derrota para a Itália. Sozinho, o nilopolitano foi responsável por 25 pontos.

O caçula Darlan Souza, a matriarca da família e Alan Souza no último treino antes do começo do pré-olímpico. Foto: Redes sociais
O caçula Darlan Souza, a matriarca da família e Alan Souza no último treino antes do começo do pré-olímpico. Foto: Redes sociais

Em uma participação no podcast Ubuntu Esporte Clube, Darlan contou sua trajetória e a importância do apoio de sua família, sobretudo de sua mãe, e do companheirismo dos irmãos. Ele também exaltou o papel central que a Escola de Voleibol AN2, do professor Miúdo, em Nilópolis, teve em seu desenvolvimento atlético e no de seus irmãos. Depois de meses de treino, seu professor articulou uma oportunidade de treinamento de alto nível, mas em outra cidade, em um bairro bem distante de sua casa. No entanto, essa oportunidade veio acompanhada de inúmeros obstáculos. Ele compartilhou os desafios que teve nesse processo enquanto um morador da Baixada Fluminense e os alicerces de seu sucesso.

“Meu técnico arrumou pra mim um teste na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), na Lagoa Rodrigo de Freitas. Acabou que consegui passar, minha mãe foi lá junto comigo. Daí, minha vida começou… De Nilópolis pra Lagoa é chão… como eu moro na Baixada, nem eu nem minha família sabia andar lá embaixo, como a gente diz, aí pela Zona Sul. Lembro que, no início era complicado, a gente não sabia o caminho certo a se fazer. Eu moro há uns 20 minutos da estação de trem de Nilópolis, eu ia andando até a estação, pegava o trem até a Central do Brasil e, de lá, pegava um ônibus que passava perto da AABB, mas dava muita volta. Era uma questão de mais ou menos 2 horas até eu chegar ao clube… Depois, meu professor me ensinou um outro caminho. Eu pegava o trem, ia até São Cristóvão, depois pegava o 460, que me deixava em frente ao Flamengo e a AABB era do lado… antes disso, eu perdia muito tempo. O treino terminava umas 19h, 20h e eu chegava bem tarde em casa, mas muitas das vezes, no início, minha mãe ia comigo. E isso me deixava mais tranquilo, me reconfortava… quando eu saí da AABB, fui jogar no Flamengo, fiquei um ano lá. Depois, fui pro Fluminense… mas acho que uma das coisas que me ajudava muito era minha mãe. O treino começava 20h no Fluminense e acabava muito tarde, umas 21:30, 22h, eu chegava muito tarde em casa, mas muito tarde mesmo, chegava em casa meia-noite no mínimo. E todo dia tava minha mãe ali, sentada do lado de fora [de casa], me esperando… Toda vez que eu voltava do treino, ela tava lá, me esperando. Ela me via na esquina, já entrava e ia fazer minha janta. Era algo surreal, minha mãe é uma das pessoas que mais me apoiou. Tinha dia que a gente não tinha uma condição muito boa, então, muitas vezes, ela deixava de comer a carne e dava pra mim. Muitas vezes, ela não tinha o que fazer, mas fazia com todo o carinho do mundo um arroz com ovo e, cara, pra mim tava sensacional. São essas pequenas coisas, que não são pequenas, que te motivam muito, sabe? Muito do que eu sou e tenho devo à minha mãe.” — Darlan Souza

A seleção brasileira de vôlei masculino, infelizmente, não conseguiu medalha e foi eliminada pelos Estados Unidos nas quartas de final. Mesmo assim, a participação de Darlan das Olimpíadas é motivo de comemoração para todo brasileiro fã de vôlei.

@sportv O PODER DO JUTSU! Darlan botando o Brasil de volta no jogo! Vem pro sportv2 torcer! #VoleiNoSportv #Volei #Darlan #Brasil #Naruto ♬ som original – sportv

Ainda na periferia do Grande Rio, mas do outro lado da Baía de Guanabara, desde 2011, os moradores da cidade de Itaboraí podem treinar Taekwondo em alto nível graças ao projeto social Diego Taekwondo Team, que desenvolve atletas jovens mesmo com poucos recursos. Os alunos já competiram em diversos campeonatos nacionais e internacionais, mas, em 2024, o projeto se superou ao classificar três alunos para as Olimpíadas de Paris 2024. Um deles, o lutador Edival Pontes, o “Netinho”, que já havia participado das Olimpíadas de Tóquio 2021, em Paris, ganhou a medalha de bronze para o Brasil. Nascido na Paraíba, se mudou para o Rio de Janeiro para treinar na equipe itaboraiense. Ele conta que, em seu estado de origem, nem tatame tinha para treinar.

Na mesma seleção brasileira do medalhista olímpico, outros dois atletas do projeto social também competiram na França: Henrique Marques, que é cria de Vila Portuense, parte mais humilde do bairro de Porto das Caixas, em Itaboraí, e Milena Titoneli, paulista, que migrou para a cidade do Leste Fluminense para treinar para a sua segunda participação em Olimpíadas. Nenhum dos dois conseguiu medalhas em Paris.

Como se vê, a favela é potência em vários sentidos, inclusive, nos esportes. O legado de Bia Souza, Rebeca Andrade, Duda, Ana Patrícia e tantas outras atletas negras, faveladas e periféricas pioneiras, como Silvina Pereira da Mangueira, têm se destacado. O Brasil tem visto em diversas modalidades a excelência negra aplicada aos esportes. Isso serve como um poderoso lembrete de que, com o apoio necessário, pessoas negras e moradores de favelas são ativos para todo o Brasil. E, ao romperem barreiras em modalidades historicamente dominadas por brancos, como judô, skate, vôlei de praia ou ginástica olímpica, essas atletas demonstram que, com ou sem medalhas, são merecedoras do Olimpo.

Esta é a segunda parte de uma matéria de duas partes sobre as conquistas de representatividade das Olimpíadas de 2024. Clique aqui para Parte 1.

Sobre o autor: Julio Santos Filho é bacharel em Relações Internacionais (UFF) e mestre em Sociologia (IESP-UERJ). Homem negro da Ilha do Governador, trabalha desde 2020 como editor no RioOnWatch. Em 2021, foi editor do Enraizando o Antirracismo nas Favelas, projeto medalha de prata no The Anthem Awards. 


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