Vila Autódromo Fortalece Sua Resistência com Segunda Ocupação Cultural

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“As Olimpíadas estão chegando e a pressão da Prefeitura está cada vez mais violenta, mas um grupo forte de moradores continua lutando por seu direito à moradia. Pois a Vila Autódromo existe, resiste, insiste e re-existe!” – Página do Facebook do festival.

No dia 28 de novembro, os moradores da Vila Autódromo realizaram o segundo Ocupa Vila Autódromo, anunciado no Facebook como a celebração de suas vidas, lutas e resistências. O evento #OcupaVilaAutódromo uniu indivíduos e grupos de diversas origens, incluindo membros do vizinho Quilombo do Camorim, estudantes e professores universitários, músicos, pesquisadores, mobilizadores comunitários de outras favelas, ONGs e líderes e moradores da comunidade para apreciar a música, dança, capoeira, uma cerimônia de premiação, comida e bebida e exibição de filme. Moradores foram entrevistados pela Record e fotografados para o projeto “Remoções Têm Rosto” por Guilherme Imbassahy. Foi um dia muito importante para a comunidade que “trouxe pessoas de fora para celebrar e dar suporte a nós… para mostrar que nossa comunidade não está abandonada”, comentou o morador Luiz de Oliveira.

VA-Festival-w-Band

O festival levou semanas sendo preparado e foi realizado a céu aberto entre escombros e os resquícios do que outrora foi uma comunidade vibrante. Embora diversas casas da Vila Autódromo não se mantiveram, o espírito da comunidade continua forte e isso ficou bem evidente no evento de sábado.

Sandra Damias, uma mãe de uma das 40 famílias que sobraram das 600-700 iniciais, destacou, “Não são as casas que fazem nossa comunidade, somos nós”. Ela continuou, “[Esse evento] é mais uma força, é mais uma felicidade para mostrar que a comunidade não está morta!”.

Duas bandas foram convidadas para contribuir com a ‘energia positiva’ do dia, Ataque Brasil e Marofas Grass Band, assim como a apresentação do grupo de capoeira da comunidade do Quilombo do Camorim.

Vila-capoeira

Na sequência do dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, um tributo especial foi entregue para a moradora de longa data e líder espiritual Heloísa Helena Costa Berto, uma sacerdotisa de Candomblé, a qual a casa (também um centro espiritual em homenagem a Nanã, Orixá da Lagoa) está entre as duas últimas casas marcadas para demolição com base no decreto de desapropriação apresentado pela prefeitura em março passado. No evento, Heloísa foi agraciada com a prestigiada medalha Pedro Ernesto da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, e com o prêmio Dandara da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro pela sua resistência e força na luta pela sua terra e direitos religiosos. Cartões postais foram distribuídos com uma citação de Heloisa dizendo: “Não é questão de valor [econômico da propriedade], mas sim de amar a sua terra, seu lar, e querer continuar na sua casa. É por isso que lutamos!”.

Heloísa Helena segura sua premiação com três de seus quatro filhos e (à direita) o Vereador Renato Cinco, que atribuiu o prêmio.

A exibição de estreia do documentário ‘The Fighter: A Dark Side of Sport‘ (O lutador: O lado negro do esporte) aconteceu no final da tarde. O filme da diretora sul-africana Dara Kell mostra a história da moradora Naomy, de 12 anos de idade da Vila Autódromo. O filme foi premiado no Festival de Cinema Golden Panda no Canadá no início desse ano.

Os moradores da Vila Autódromo foram muito ativos na organização e promoção do festival, e também no compartilhamento das informações na página do Facebook sobre o evento para cerca de 3.500 convidados, demonstrando o alcance da comunidade e uma ampla rede de contatos. Criada na comunidade, a moradora Nathalia Silva, 29, disse: “O dia de hoje é muito importante [para a comunidade] porque é mais um momento que a gente está passando… cada dia é mais delicado, e hoje, dia 28 de novembro de 2015, a gente têm amigos e têm pessoas lutando conosco”. Ela continuou: “É maravilhoso receber todas essas pessoas hoje na comunidade que eu tanto amo, onde eu cresci, onde eu quero permanecer”.

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As remoções têm rosto. SOS. Vila Autódromo. Projeto por Guilherme Imbassahy

Os moradores da Vila Autódromo têm lutado contra as remoções em curso e maus-tratos exercidos pela prefeitura desde o anúncio das Olimpíadas do Rio de 2016 em 2009. Localizada em uma propriedade que se tornou valiosa próxima da principal instalação do Parque Olímpico, a comunidade tem passado décadas lutando pelos direitos a terra, pela qual eles receberam títulos de posse de 99 anos. A comunidade tem trabalhado duro para realizar eventos e abordagens para dar suporte à sua posição, incluindo um plano de urbanização premiado (agora em sua quarta versão) confirmando que os moradores querem e podem coexistir com a construção do Parque Olímpico.

Entretanto recentes remoções relâmpago e más condições de vida levaram os moradores a protestar. Na quarta-feira, dia 3 de dezembro, a Vila Autódromo fez uma barricada na entrada da comunidade pedindo melhoras nas ruas, cuja atuais condições levam os moradores a andarem com lama até os tornozelos. Os moradores insistem em continuar os protestos até que as providências sejam tomadas para melhorarem suas condições. Inclusive, faz todo sentido que a urbanização agora chegue, pois agora só restam os moradores desinteressados em indenizações e que querem fazer valer a promessa do prefeito de permanência dos que querem ficar.