Comitê Popular Promove Debate sobre Militarização, Racismo e as Olimpíadas

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No dia 11 de novembro, um debate sobre militarização, exclusão e racismo em relação aos Jogos Olímpicos foi realizado na Cinelândia, em frente à Câmara de Vereadores do Rio. Organizado pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, o evento reuniu diferentes movimentos sociais e ONGs preocupadas com a violência policial e os abusos contra os moradores mais vulneráveis da cidade e particularmente contra cidadãos negros.

O objetivo do debate foi gerar um espaço para refletir sobre como as questões da militarização, o aumento da segregação e o racismo são fundamentais para o modelo de cidade que está sendo implementado por elites econômicas e políticas do Rio. A Comissão argumentou que a cidade de megaeventos e mega projetos, do espetáculo e da especulação é dependente da repressão sistemática e contenção dos cidadãos mais vulneráveis em prol da especulação imobiliária e da acumulação de capital. “Recuperar a cidade para o seu povo” é o objetivo central do comitê e o principal motivo do evento ser realizado em uma praça pública central.

O debate ao ar livre foi complementado por uma exposição fotográfica de Luiz Baltar. As fotos mostram momentos de violência policial e a resistência pacífica nas favelas do Rio.

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O debate abriu com uma breve apresentação por Hertz Leal da Comissão que, em seguida, passou o microfone para Monique Cruz do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro.

Moradora de Manguinhos, Monique Cruz descreveu diferentes tipos de controle, humilhação e vexame que os moradores de favelas vivem todos os dias nas mãos da Polícia Militar. Ela falou de como a juventude é impedida de se mover em torno de ruas e espaços da favela onde eles cresceram, e de como a polícia agride crianças na escola por exibir uma ‘conduta incivil’, invade a privacidade dos moradores da favela em suas casas, e confisca o equipamento de meios de comunicação de base comunitária.

Monique também enfatizou como “especialmente a juventude negra é vista como uma inimiga que precisa ser eliminada“, e os jovens são sistematicamente mortos com o pretexto de ser uma ameaça para a polícia. Ela denunciou a corrupção tanto da polícia quanto do sistema judiciário, que manipula processos judiciais de homicídio, sentenciando como autos de resistência da polícia, casos como o da recente morte de Eduardo de Jesus, de 10 anos, que foi morto a tiros na frente de sua casa no Complexo do Alemão. Monique argumentou que esta é uma agressão à memória das vítimas e de seus pais, mencionando a luta de mães como Ana Paula Oliveira, cujo filho Jonatha foi morto a tiros pela polícia em Manguinhos, em maio do ano passado. Em uma nota final, Monique Cruz acrescentou que o sistema jurídico e os meios de comunicação reforçam a máquina do Estado racista e excludente.

O segundo orador, Deley de Acari, poeta e mobilizador comunitário de longa data da favela de Acari na Zona Norte do Rio, descreveu o que para ele é o único legado das olimpíadas para as favelas do Rio: o aumento da militarização com um dramático aumento do investimento público em equipamentos de segurança. Ele contrastou isto com os cortes orçamentais em outras necessidades urgentes, tais como educação e saneamento.

Maria de Lourdes do Movimento Unidos do Camelôs chamou a atenção do debate para a Guarda Municipal, denunciando a violência contra os camelôs. Apesar dos camelôs estarem lutando por anos para a regularização dos seus trabalhos, tentando aprovar uma nova lei na Assembléia Legislativa do Estado, agressões cotidianas contra eles só aumentaram no contexto dos megaeventos.

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A última oradora, com o evento estendido até a noite, foi Maren Mantovani, uma ativista da campanha Olimpíadas Sem Apartheid. Maren apelou para que o Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 cancele o seu contrato com a empresa de segurança israelense International Security and Defense Systems. Mantovani, uma ativista pró-Palestina, explicou como as estratégias e armamento que a Polícia Militar do Rio de Janeiro estão empregando são importados do exército israelense. Ela traçou um paralelo entre a forma como os palestinos e os moradores das favelas são tratados pelas forças de segurança, sendo impedidos de circularem livremente e sendo mortos a tiros sob o pretexto de que os soldados militares ou da polícia não estão suficientemente treinados. Maren Montovani destacou que o militar está muito bem preparado e treinado para matar e atirar diretamente nos corações e nas cabeças de civis, tanto em favelas do Rio como nos territórios palestinos. Maren também falou sobre a lei anti-terrorismo aprovada em agosto: “Membros do governo brasileiro ao retornar de uma viagem a Israel projetaram uma lei anti-terrorista para garantir a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Eles aprenderam lá, [em Israel]”.

Depois de algumas intervenções do público, os oradores fizeram suas últimas chamadas para a mobilização da sociedade civil contra os interesses particulares e de empresas que lucram com a militarização da cidade. Finalmente, a Comissão proclamou o seu pleno compromisso de agir como uma rede e um catalisador das mobilizações sociais que visam recuperar o direito à cidade entendido como a plena participação na vida da cidade da maioria que está sendo excluído até à data. “Eu não sou excluída das obras, eu não sou excluída do trabalho. A exclusão que nós estamos falando é a do acesso”, afirmou Monique Cruz.