No domingo, 22 de fevereiro, cerca de 20 ativistas se reuniram na Praça São Judas Tadeu, do lado da estação do bondinho que leva até o Cristo Redentor, no bairro de Cosme Velho no Rio de Janeiro. Vindos do Cerro Corá, uma favela que fica apenas cinco minutos a pé a partir deste ponto turístico movimentado, eles queriam combater a invisibilidade das favelas do Rio e “mostrar aos cariocas e aos turistas o que acontece debaixo do Cristo Redentor”.
Os ativistas, membros do Cerro Corá-Moradores em Movimento, destacaram uma série de problemas atualmente enfrentados por favelas do Rio: demolições de casas e remoções, insuficiência de serviços básicos, como água e eletricidade, e violência policial contra moradores de favela, todos problemas divulgados. Assistidos por multidões de turistas em seu caminho até a estátua, os ativistas levavam bandeiras e cartazes em português, inglês e espanhol com dizeres como: “A Favela é parte da cidade” e “Cabral: Opressor de 1500 a 2014”.
O protesto incluiu uma performance assistida por transeuntes. Um índio, um escravo e um morador da favela de hoje, todos amarrados e algemados por “Cabral”, um híbrido de Pedro Álvares Cabral e seu xará moderno, o Governador Sérgio Cabral. Cabral explicou seu desejo de conquista e controle, enquanto os três prisioneiros explicaram os males e sofrimentos vividos em suas mãos.
Uma vez a cena terminada, um tambor começou a soar e o grupo começou a cantar, com interpretações de clássicos do funk, como o Rap da Felicidade—“Eu só quero ser feliz / E andar tranquilamente na favela onde eu nasci”–e canções sobre a corrupção, violência e o direito da favela à cidade.
David dos Santos, um dos organizadores do evento, explica: “Hoje decidimos descer da favela para um ponto turístico a fim de explicar um pouco para os visitantes o que está acontecendo nas favelas do Rio de Janeiro…Nós fizemos uma apresentação que fala um pouco sobre a situação de hoje, que não é muito diferente da colonização”. Ele continuou: “Há remoções acontecendo em todo o Rio de Janeiro. Nós estamos aqui resistindo. Estamos aqui para dizer que a favela foi abandonada”.
“Há cinco minutos de distância do Corcovado, as pessoas vêem uma bela paisagem, mas nem desconfiam que nós vivemos lá sem água e sem eletricidade”, disse Jeferson Dias da Cunha, membro do grupo e um dos atores na performance. “A importância do evento de hoje é trazer esta realidade e mostrá-la para os turistas que vêm aqui, para mostrar que o Rio não é simplesmente maravilhoso. É maravilhoso, mas tem uma população cujas necessidades têm de ser atendidas”.
O Cerro Corá – Moradores em Movimento foi fundado no ano passado por moradores para fazer campanha e proteger os direitos da comunidade. Seus projetos incluem a criação de um museu comunitário e de uma biblioteca. De acordo com Jeferson, eles querem “inspirar os moradores e trazer uma consciência política para que eles não esperem que o Estado faça alguma coisa, porque eles só vêm a cada quatro anos para pedir votos”.