Centenas de moradores da Vila União de Curicica lotaram a escola de samba Parque União de Curicica, na noite de segunda-feira 22 de dezembro, para saber sobre a mudança proposta na rota da linha do BRT. A comunidade da Zona Oeste fica cerca de 1km do futuro Parque Olímpico e estava sendo ameaçada com uma das maiores remoções já anunciadas para as Olimpíadas de 2016.
Rumores sobre a nova rota estavam circulando na comunidade durante a semana anterior, mas nada oficial tinha sido anunciado até então. Os moradores foram abordados pelo deputado estadual eleito Tiago Mohamed, o sub-prefeito Alex Costa, o deputado federal eleito Pedro Paulo Carvalho e o coordenador do projeto de BRT, Eduardo Fagundes, da Secretaria Municipal de Obras. Os logos olímpicos apareceram com destaque na apresentação, acompanhados por músicas de Coldplay.
O novo plano revelou, em uma apresentação de Powerpoint, que a BRT TransOlímpica atravessará a favela e, em seguida, correrá ao longo de sua borda norte. No âmbito do plano anterior, 881 famílias seriam removidas de suas casas, enquanto que no novo plano só será necessário 191 remoções dentro da comunidade com mais 50 propriedades formais indenizadas nas redondezas, e mais promessas de urbanização da comunidade. O novo plano foi recebido com alívio pelos moradores na esperança de permanecerem em suas casas, mas muitos dos que tinham aceitado a transferência para unidades habitacionais públicas na Colônia Juliano Moreira, através do programa habitacional federal Minha Casa Minha Vida (MCMV) ficaram extremamente chateados, pois as autoridades deixaram implícito que aqueles que não estão no caminho do projeto da rodovia estão desqualificados de receber uma unidade.
O anúncio não fez menção às manifestações e mobilização daqueles que lutam para ficar na Vila União, mas com certeza foi entendido como uma conquista pelo grupo, que agora vai se concentrar para que a Prefeitura mantenha a sua palavra em relação às promessas de urbanização.
“Nós incomodamos o governo e agora a Prefeitura está respondendo, mas a mobilização vai continuar mais forte a cada dia”, disse Robson da Silva Soares, membro da resistência.
O anúncio colocou as pessoas que queriam a habitação pública contra aqueles que queriam ficar. E cada grupo se reuniu atrás de alguns moradores que tiveram a chance de falar ao microfone. Alguns questionaram se a motivação real das autoridades era causar perturbações gerando conflitos entre os moradores, o que, em seguida, facilitaria as remoções. Infelizmente, esta estratégia de “dividir para conquistar” é um instrumento muito familiar, que também atuou contra a luta pela permanência da vizinha Vila Autódromo.
Para aumentar a complexidade, um subgrupo daqueles que desejam permanecer preferem uma indenização justa para os seus lares em vez de um apartamento. Estas são as pessoas que têm investido grandes quantidades de tempo, dinheiro e trabalho em suas casas. Pedro Paulo também reconheceu que as ofertas até agora têm sido muito baixas e que o gabinete do sub-prefeito vai continuar a se reunir com essas pessoas de forma individual.
Antes que os diagramas do projeto fossem revelados cada autoridade presente teve tempo para abordar a comunidade. Dando outra reviravolta em seus argumentos em relação à prévia reviravolta responsabilizando os moradores, Tiago Mohamed explicou que a razão da mudança da oferta de habitação pública para o aluguel social há algumas semanas foi porque o financiamento passou a ser realizado através do Banco do Brasil, em vez da Caixa Econômica, passando a exigir muito mais papelada. Mohamed e Paulo ambos afirmaram que o novo plano é mais caro para a Prefeitura, acrescentando um adicional de R$100 milhões para desembolso total do projeto, mas que eles estão constantemente buscando alternativas para deslocar o menor número de moradores possível, em tom de discurso eleitoral.
Pedro Paulo, recentemente indicado pelo Prefeito Eduardo Paes como seu sucessor, fez a maior parte do discurso. Ele argumentou que nos projetos anteriores as modificações foram mais fáceis porque o investimento foi inteiramente público, mas como a BRT TransOlímpica é uma parceria público-privada, com 30% do financiamento sendo privado, por isso o processo de modificação foi mais difícil. Embora brevemente, Pedro Paulo indicou que a comunidade agora irá receber a titulação de terras e urbanização–que tinha sido prometido originalmente em 2012 sob o extinto programa Morar Carioca da Prefeitura. Caso sua palavra seja mantida, este nível de segurança permitirá que os moradores que deixaram de investir em suas casas por medo da remoção possam retomar seus projetos e construções, e melhorias vitais serão feitas permitindo que os moradores permaneçam e floresçam.
Paulo terminou seu discurso enquadrando a mudança no plano como um enorme favor que a Prefeitura está fazendo para a Vila União, brincando que era um presente de Natal antecipado que haviam trazido para a comunidade.