No dia 14 de março, a pracinha do Vidigal estava em festa. Idosos e jovens se juntaram para curtir o dia e celebrar os 75 anos do Vidigal. A comemoração é a primeira de várias planejadas ao longo do ano e durou o dia inteiro. Foi organizada por um grupo de voluntários do morro e a Associação de Moradores.
O aniversário foi visto como uma oportunidade para criar união no morro e dar visibilidade aos diversos projetos criados no Vidigal. O dia começou com um show de capoeira do professor William de Paula Lucas, ou Ninho. Durante o show a chefe de cozinha Graça dos Prazeres instalou sua oficina de Detox, e o stand de atividades de reciclagem oferecia atividades para as crianças. Mais tarde, as crianças foram sensibilizadas sobre a importância da consciência ecológica através de atividades de criação de jogos com material reciclado.
Graça dos Prazeres, moradora do Vidigal, explicou seu projeto e as ações do seu coletivo Verdigal, fazendo uma oficina detox. A chefe de cozinha orgânica promoveu boa comida e reflexão ambiental. Através de atividades de degustação de sucos verde, ela incentivou moradores a pensar na importância de uma alimentação saudável. Além dessas oficinas e da presença do posto de saúde, bandas do morro como Casa do Swing e Morenas do Sol tocaram até meia-noite, animando a praça.
A festa teve sua origem a partir da criação do telhado medicinal no ponto de kombi da comunidade. O arquiteto urbanista Guto Graciano criou um telhado verde com plantas medicinais na entrada do Vidigal. Esse projeto foi financiado por comerciantes do morro e por uma colheita beneficente no Vidigal. A idea do projeto é fortalecer a integração dos moradores através de uma criação comum que todos podem aproveitar.
A iniciativa “Made in Vidigal” criou um telhado cheio de plantas verdes cultivadas de maneira orgânica, que não precisam de água além da água de chuva e se mantêm sozinhas. Depois de criar esse “telhado vivo” eles continuaram o projeto para criar um lugar “vivo que se renove“, explica Guto Graciano. Assim, a segunda etapa foi a criação de um muro de grafite. Para isso artistas foram convidados a pintar a história do Vidigal na parede da Galeria Viva. “A história do Vidigal e do Brasil vão ser contadas sobre esses muros daqui a pouco. As crianças, os turistas, os alunos da escola Stella Maris, poderão aprender mais sobre a história daqui”, explicou. E foi nessa dinâmica de pesquisas históricas para enfeitar os muros que nasceu o projeto para a comemoração dos 75 anos do Vidigal.
“75 anos, o que é isso? Eu tenho 80 anos e o Vidigal já estava aqui!”, exclama um morador na praça. Esse é o objetivo desse dia, além de festejar os 75 anos, o projeto de comemoração quer discutir a idade do morro. 75 anos é somente o aniversário do registro do morro na Prefeitura, mas com certeza Vidigal é mais velho que isso. O aniversário é também uma oportunidade para os idosos contarem histórias e repassarem as lendas do morro para os mais jovens.
Teresa e Araci, duas moradores, foram convidadas a falar sobre o Vidigal delas: um Vidigal sem luz, sem kombi, e com poucas casas. As histórias e as lendas do Vidigal tiveram vida na pracinha: “É verdade que uma baleia ficou encalhada na praça do Vidigal?”, pergunta uma morador.
Sentados nos degraus, os moradores ouviram a história do lugar deles, as mudanças que ocorreram e também as lutas que aconteceram aqui. Armando Almeida Lima, um dos fundadores da Associação de Moradores, contou sobre as lutas passadas contra as remoções durante a ditadura militar e a vitória na justiça que salvou o Vidigal. Ele contou também da luta para salvar a praia do Vidigal da privatização pelo Hotel Sheraton. Foi um depoimento comovente que mostrou que sem essas lutas, o Vidigal nunca seria como é hoje.