Um debate para discutir o turismo na favela como ferramenta de inclusão social aconteceu na terça-feira, 11 de março no Tabajaras, Copacabana. O evento foi o 12o organizado pelo jornal O Dia sob o projeto Rio Sem Fronteiras. Cinco palestrantes discutiram o desafio de criar uma forma positiva de turismo na favela, em contraste com o turismo visto como negativo que tem surgido desde a introdução das UPPs.
Os palestrantes iam de guias locais de turismo a representantes da Sebrae, Rio+Social (antigamente conhecido como UPP Social), e outros representantes do governo municipal.
O turismo de favela se tornou um grande negócio nos últimos anos. De acordo com os palestrantes, 60% dos turistas estrangeiros querem visitar uma favela. Tours podem custar por volta de US$40 por pessoa.
O foco deste debate foi em como se afastar do estilo de turismo que transforma a favela em uma vitrine, onde os turistas olham mas não se engajam com a comunidade visitada. Ao invés disso, os participantes visam encorajar uma forma positiva, produtiva e saudável de turismo dentro das favelas.
Para encorajar um turismo mais positivo, os palestrantes enfatizaram a importância da interação entre moradores da comunidade e visitantes, para combater o estereótipo negativo das favelas, perpetuado pela grande mídia. Carmen Givoni, guia do Morro dos Prazeres, disse que o turismo responsável tem o potencial de “desmistificar o que é a população de favela, levar pessoas lá em cima é desmistificar o que as pessoas de fora pensam sobre o que seja uma comunidade, eles pensam que é um lugar que só tem coisas negativas”.
Carmem frizou que o valor do “encontro humano” por conta dessa interação é diretamente benéfico para os moradores da comunidade. Ela explicou: “O que a gente tenta provocar nos jovens é a curiosidade do encontro, do diálogo, de saber de onde os outros vêm, o que eles fazem. Isso é fundamental para o conhecimento do outro, para a abertura do mundo, para a tolerância”.
Os palestrantes também discutiram como o turismo pode trazer prosperidade além do fator econômico. Gilmar Lopes, presidente da organização de turismo Tabritur, de Tabajaras, enfatizou: “Nós não podemos pensar apenas em dinheiro, pois o turismo traz dinheiro, mas também inclusão social”.
A Tabritur oferece oportunidades de caminhada que explicam a história da comunidade tanto do Tabajaras quanto do Morro dos Cabritos, para que moradores bem como turistas sejam mais conscientes da história da favela. Gilmar disse acreditar que “através do turismo você descobre cultura, você descobre conhecimento, você tem a oportunidade para melhorar a sua vida”.
Representantes do Sebrae e do Rio+Social discutiram como atingir essa forma responsável e positiva de turismo. Fabiana Ramos, representante da Sebrae, tomou como referência um estudo que “contava que o turista gastava em médio R$5 no território quando ia a visitar, e que era uma água o que ele comprava”. Em outras palavras, a maioria dos turistas não se engaja em transações econômicas que beneficiem significativamente as comunidades que visitam. Logo, ela argumenta, os negócios precisam ser desenvolvidos para que os turistas fiquem mais e gastem mais. “Turismo é integração da cadeia produtiva, através da gastronomia, do artesanato e da produção cultural”.
Membros do debate também mencionaram a importância de encorajar turistas brasileiros, especialmente do Rio de Janeiro, a visitar favelas. O fato de que a maioria dos cariocas nunca estiveram em uma favela reflete a distância e a falta de comunicação entre os grupos sociais, bem como o impacto dos estereótipos negativos. Carmem Givoni acredita que com um turismo melhor as pessoas vão entender que “na favela não há pobreza”. Ele afirmou: “Pobreza, para mim, significa pobreza de espírito. Na favela existe dificuldade material”.