Favelas do Rio Já São Familiarizadas com Falta de Água que Poderá Afetar a Todos

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22 de março de 2015, Dia Mundial da Água–O Brasil, que mantém 12% da água doce do mundo, está no meio de uma das mais graves secas de sua história. As principais reservas de água do Rio de Janeiro estão chegando ao limite, já que estão dependendo de escassas reservas quando não chove, e com as reservas subindo pouco quando chove.

Apesar do reconhecimento internacional da gravidade da situação e quase uma década de alertas, políticos e companhias de água (Nova Cedae no Rio) têm sido devastadoramente lentos em agir. Eles negam irregularidades e o fato de que a crise levará ao racionamento, enquanto adotam apenas soluções mínimas de curto prazo. A Cedae espera lutar contra a crise com uma pequena campanha sobre a mudança dos hábitos de uso da água (ver Código Notícia 2865 da Cedae). A companhia de água de São Paulo Sabesp tentou mas falhou, com a “semeadura de nuvens“, uma técnica que envolve enviar aviões para dispersar substâncias adicionais ao ar para indução de chuvas. A maioria das dúbias, caras e variadas soluções propostas ainda não chegam na raiz da crise: o desmatamento–uso abusivo dos recursos das florestas através da agricultura (cerca de 70%) e da indústria (cerca de 20%).

Borbulhando, água tóxica no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon. O canal foi criado para manter praia do Leblon limpa de lixo e poluição e permanece como um símbolo de prioridades distorcidas do governo em termos de alocação de água e infra-estrutura.
Água tóxica borbulhando no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon. O canal foi criado para manter a praia do Leblon limpa de lixo e poluição e permanece como um símbolo de prioridades distorcidas do governo em termos de alocação de água e infraestrutura.

O colapso hídrico do país está mais avançado em São Paulo, onde existem rumores oficiais de rodízio de água–de ‘cinco dias sem, dois dias com’–para controlar o uso da água, onde os bairros mais pobres e periféricos da cidade já sofreram com períodos de até uma semana sem água nos últimos meses. A crise, no entanto, também chegou ao estado do Rio de Janeiro, maior consumidor de água do país, com 301 litros de água consumidos por pessoa por dia, o triplo do que as Nações Unidas considera suficiente.

Pouco tem sido dito sobre quanto esta seca afetou, e continuará afetando, bairros pobres e as favelas de maneira mais profunda que aos ricos, nem sobre o risco de conflitos de violência social que já ocorrem em menor escala no que pode vir a ser uma guerra pelo recurso essencial. Em locais que sofrem cronicamente de pouca ou inexistente infraestrutura e saneamento inadequado, a forte seca pode comprometer as vidas em um nível perigoso.

O governo da cidade prometeu à Associação dos Moradores da Vila Laboriaux um espaço para reuniões e eventos da comunidade após ter permitido que uma ocupação temporária da antiga sede da associação sair do controle. Após diversos anos, o que eles ofereceram? A cidade os presenteou com esse porão escuro, cujo piso é coberto em esgoto a céu aberto. Questões de água e esgoto continuam a estar na vanguarda das agendas das associações comunitárias em toda a cidade, pois o governo não fornece essas necessidades básicas.
A Prefeitura prometeu à Associação dos Moradores da Vila Laboriaux uma sede após ter permitido que uma ocupação temporária da antiga sede da associação se consolidasse. Após diversos anos, o que eles ofereceram? A Prefeitura os presenteou com esse porão escuro, cujo piso é coberto em esgoto a céu aberto. Questões de água e esgoto continuam a estar na vanguarda das agendas das associações comunitárias em toda a cidade, pois o governo não fornece essas necessidades básicas.

Os esquemas de racionamento baseados em um rodízio são favoráveis aos mais ricos, que têm recursos para investir em caixas e cisternas de água para guardar água dos dias de fornecimento. A população de baixa renda, por outro lado, é capaz de estocar menos e pode ficar sem água por certos períodos ou pagar preços inflacionados por grandes garrafas de água ou caminhões de abastecimento em dias sem água. O racionamento baseado na necessidade e em quantias de água per capita, ainda que seja uma medida impopular, ao menos visa distribuir os recursos de maneira equitativa. No entanto, como o ex-presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, disse, os ricos podem sempre comprar Perrier em momentos de desespero.

A grande maioria das favelas do Rio, direta ou indiretamente recebe água da Cedae, seja formalmente ou, em muitos casos, informalmente através de canalizações da rede oficial, em locais onde o serviço não chegou oficialmente. Nas favelas, muitas vezes, a água é fornecida por alguns dias da semana e não outros, seja isso em favelas grandes e centrais, como já ocorre ha muitos anos em Roupa Suja, na Rocinha na Zona Sul, ou seja em pequenas comunidades como a Vila Paciência na Zona Oeste, onde o aparente racionamento teve início com a seca deste verão.

Algumas poucas favelas dependem de fontes naturais. O Rio Rainha, por exemplo, corre normalmente através do Parque Natural Municipal da Cidade, servindo aos moradores da favela Parque da Cidade. Mas desde que o rio secou a favela está por 9 dias sem água. O Vale Encantado, uma favela que está trabalhando para tornar-se totalmente sustentável, também está vivenciando a seca de uma de suas fontes naturais neste verão. O biólogo João Paulo de S. Rosas, que trabalha no parque, relaciona a crise local com o desmatamento nacional. Ele disse: “a saúde das pessoas depende da saúde das florestas. Se a floresta morre, aí que as pessoas vão realmente sentir a crise”.

Parque Natural Municipal da Cidade, que faz fronteira com a favela Parque da Cidade e serve como um ponto de entrada para a Floresta Nacional da Tijuca, é de alto risco. Suas fontes de água secaram durante os últimos anos como consequência da seca e desvio por moradores ricos do parque. Embora o parque tenha sido originalmente um recurso público, as famílias ricas têm comprado terras e casas construídas no topo das colinas, desviando água usada por moradores de favelas e frequentadores do parque para uso doméstico e para encher suas piscinas.
O Parque Natural Municipal da Cidade, que faz fronteira com a favela Parque da Cidade e serve como um ponto de entrada para a Floresta Nacional da Tijuca, é de alto risco. Suas fontes de água secaram durante os últimos anos como consequência da seca e desvio por moradores ricos do parque. Embora o parque tenha sido originalmente um recurso público, famílias ricas têm comprado terras e casas construídas no topo das colinas, desviando água usada por moradores de favelas e frequentadores do parque para uso doméstico e para encherem suas piscinas.

As favelas têm um histórico de viver com, debater e implementar soluções para os problemas de água e saneamento. Com a crise crescente, algo será feito apenas quando as torneiras secarem e a situação das favelas for sentida por todos?

A “fonte”, ou chafariz, de água potável localizada na floresta que fica atrás da comunidade da Rocinha Vila Laboriaux. Com os serviços de água irregulares e a água natural sendo vista como mais saudável que a água da cidade, os moradores fazem a caminhada para a floresta carregando sacos ou recipientes para trazer de volta a água para suas casas.
A “fonte”, ou chafariz, de água potável localizada na floresta que fica atrás da comunidade Vila Laboriaux na Rocinha. Com os serviços de água irregulares e a água natural sendo vista como mais saudável que a água da CEDAE, os moradores fazem a caminhada para a floresta carregando sacos ou recipientes para trazer de volta a água para suas casas.
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Uma outra fonte no Parque da Cidade.