Faltando 500 dias até o início dos Jogos Olímpicos de 2016, moradores da Vila Autódromo tomaram as ruas para protestar contra o último decreto da Prefeitura para a desapropriação de uma lista de 58 casas para remoção.
Apoiado pelo Comitê Popular da Copa do Mundo e Olimpíadas, na madrugada do dia 1° de abril, os moradores declararam: “Hoje, a manifestação com o bloqueio da entrada de trabalhadores e caminhões do Parque Olímpico, representa a resistência de dezenas de famílias que não vão deixar suas casas para um megaevento de um mês”.
Após criarem uma barricada com os escombros de casas destruídas, os 35 manifestantes, vestidos com camisetas escritas “S.O.S. Vila Autódromo”, marcharam para Avenida Abelardo Bueno, parando o trânsito com bandeiras e cantando: “A nossa luta é todo dia para garantir o direito a moradia”.
O protesto foi uma resposta à última declaração do Prefeito Eduardo Paes, do dia 19 de março, que anunciou que 58 casas serão desapropriadas para uso público–uma decisão histórica que está em desacordo com a política anterior. A política era de negociação e oferta de indenização a preço de mercado para moradores e prometia a permanência para todos que desejavam continuar na comunidade, que então passaria a ser menor e receberia urbanização.
Nascido na Vila Autódromo, o morador Jota, de 27 anos, enfatizou a importância de eventos como esse: “Quando eles falam a respeito das Olimpíadas, eles falam desse mundo fantasioso, mágico, bonito mas não mostram o que está acontecendo ao lado: famílias sendo destruídas e sendo tiradas dos seus lares, algumas à força e algumas com promessas de dinheiro fácil”.
Após uma batalha de 20 anos contra as remoções, a antiga população de 3000 da Vila Autódromo agora possui 150 famílias.
Uma declaração dos manifestantes enfatizou que: “propagandeada como via de desenvolvimento econômico e social, a Olimpíada tem representado a perda de nossas moradias, nossa vida em comunidade, nossa história e dignidade”.
O discurso entre os manifestantes focou na crítica ao programa internacionalmente elogiado da Prefeitura que oferece indenização a preço de mercado, uma política que foi posta em questão por acadêmicos de MIT no mês passado. Como Jane Nascimento, moradora de longo prazo e ativista explicou, essa é “uma outra espécie de violência. Eu posso, eu posso, eu posso, eu posso. Eu sou o poder econômico”.
Representantes do Coletivo Rua, presentes no protesto para demonstrar solidariedade, enfatizaram que agora a resistência na Vila Autódromo é uma luta entre o poder econômico e as pessoas. É uma luta “Por uma sociedade mais justa, uma sociedade para as pessoas e não para o dinheiro”, eles disseram. “Sai o capital, sai o Paes, sai o Comitê Olímpico e o povo fica porque esse lugar aqui é do povo que o construiu”.
Inácia Passos, moradora da comunidade há 30 anos, ecoou o sentimento: “Eu não estou com nenhuma placa de venda, e a justiça me dá direito de permanecer, então é preciso fazer valer os meus direitos. Se eu quero permanecer, a justiça me dá esse direito de permanecer”. Apesar do seu direito legal, ela tem poucas esperanças de que ainda existirá uma comunidade na Vila Autódromo em 2016.