Na noite da última quinta-feira, estudantes, intelectuais conhecidos, demais cariocas, autoridades do governo, e alguns turistas estrangeiros se reuniram na Escola Voluntários da Pátria, em Ipanema, para discutir sobre problemas relacionados às favelas. O evento foi organizado por Henrique Mello, um professor de história da escola. “Eu quis iniciar uma conversa sobre os problemas enfrentados pelas favelas atualmente no Rio de Janeiro, e eu realmente acredito que os meus alunos poderiam se beneficiar após ouvirem diversas perspectivas acerca deste tema, então eu convidei pessoas de origens diferentes”, disse Mello, apontando na direção de um casal francês. Mello planeja continuar com esses encontros a fim de pressionar o governo do Rio a agir. Ele acredita que se moradores de elite da Zona Sul falarem sobre os problemas ocorridos nas favelas, a prefeitura irá fazer alguma coisa.
O encontro começou com a organização dos participantes em pequenos grupos de discussão para que eles pudessem deliberar acerca de alternativas para melhorar a situação das favelas. Em seguida, os grupos apresentaram as suas ideias e soluções.
Alguns grupos propuseram a criação de mais centros culturais nas favelas, procedimento que seria igual em cada uma delas, pois todas as favelas são iguais. “Eu acho que as favelas precisam de mais centros culturais onde as crianças possam ir, ao invés de se envolverem com traficantes de drogas”, disse Marina, uma estudante da escola. “Eu acho que essa é a questão mais urgente de cada favela do Rio”. Outro grupo destacou que se as favelas precisam melhorar, os seus moradores deveriam se tornar “mais cultos”; logo, estes centros culturais poderiam ajudar em alguma coisa.
Anna, turista de uma cidade não revelada, apenas compareceu ao encontro para aprender mais sobre os valores imobiliários em favelas específicas. “Eu gostaria de comprar uma propriedade no Vidigal”, ela explicou. “Eu ouvi que, devido à desvalorização do real, muitas propriedades caras estão agora acessíveis”. Outros turistas disseram que estavam ali porque queriam aprender mais sobre as favelas, mas tinham muito medo de visitar uma.
Passados vinte minutos do encontro, Fabio, um morador do Complexo da Maré, entrou no local da reunião. Nenhum morador de favela havia sido convidado pelo organizador a participar do evento, mas Fábio havia lido sobre o encontro no Facebook. Ele se desculpou pelo atraso, dizendo: “Eu apenas soube do evento hoje. Eu teria chegado a tempo, mas desde que a cidade cortou várias linhas de ônibus que vinham da Zona Norte para a Zona Sul, eu fui obrigado a trocar de ônibus diversas vezes durante o trajeto”.
Fábio começou a falar sobre as necessidades dos seus vizinhos, se concentrando nos problemas de saneamento, saúde e educação, mas foi rapidamente interrompido por Maria Campos, uma professora universitária: “Eu estudei sobre as favelas por muito tempo e, atualmente, eu ensino como é a vida nas favelas. Eu não acho que a história deste homem é precisa. Eu sei, pois sou uma especialista”. Depois disso, Fabio foi informado, educadamente, que, caso ele continuasse interrompendo a reunião, seria obrigado a sair.
Após o evento, os participantes retornaram às suas casas e aos hotéis próximos na região.
Este é um texto satírico e todos os nomes apresentados são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas existentes, ou com o nome do evento, é mera coincidência.