Na terça-feira, dia 10 de novembro, mais de 50 membros de comunidades e ativistas se reuniram para discutir a questão, fortemente debatida, sobre aumento da poluição na Baía de Guanabara, e também para discutir os problemas que afetam a população que vive em torno dela. Como parte da série de diálogos do Viva Favela e Swissnex, o evento contou com um painel de quatro representantes de diferentes áreas para discutir a falta de políticas públicas específicas para a Baía, especialmente porque os efeitos impactam negativamente o cotidiano dos moradores. A Baía de Guanabara está localizada ao leste da cidade do Rio de Janeiro, formando um dos três lados da península do Rio. Com uma área de mais de 415 km2, é a segunda maior baía do país. Hoje mais de 10 milhões de pessoas vivem nas áreas em torno da Baía, em mais de 15 municípios diferentes.
As condições da Baía de Guanabara só se tornaram amplamente conhecidas ao longo dos últimos meses, após uma investigação da Associated Press (AP) nas preparações do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016. Com apenas 1,7% dos resíduos do Rio de Janeiro reciclados através de canais oficiais e mais de 70% do esgoto não tratado flutuando diretamente na Baía de Guanabara, o lixo e a água são preocupações crescentes.
A discussão do dia 10 foi mediada pelo ativista e ambientalista Sérgio Ricardo, que começou o debate com três perguntas principais: “Existe uma identidade universal para todos aqueles que vivem ao redor da Baía de Guanabara? Como é possível que em 2015 ainda não existam políticas públicas e soluções no local para salvá-la? E o que podemos fazer para parar a liberação ilimitada de poluição das indústrias ao redor, que jogam seus resíduos na Baía?”.
Edilene Estevam da FAPP-BG (Fórum dos Atingidos pela Indústria de Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía da Guanabara) argumentou que todos os que vivem na região afetada pela Baía de Guanabara devem ter uma palavra a dizer nas decisões que os afetam. O fórum é formado por representantes de movimentos sociais, comunidades de pescadores, moradores e sindicatos.
FAPP-BG argumentou que aqueles que vivem perto de refinarias de petróleo e gás estão extremamente vulneráveis a todos os tipos de malefícios e efeitos colaterais. Eles correm o risco de inundações, carecem de um abastecimento regular de água potável, e não podem desfrutar de atividades como pesca e natação. Bruno Amaral, da Associação dos Pescadores da Baía de Guanabara, declarou que, até a década de 70 o Estado do Rio de Janeiro foi o segundo maior produtor de peixe da nação. As comunidades do entorno da Baía de Guanabara sofreram problemas recorrentes durante anos. As prioridades imediatas do grupo são saneamento, poluição, economia e saúde.
Projetos de base foram criados com o intuito de melhorar a participação democrática na resolução das injustiças ambientais que afetam a Baía de Guanabara. A terceira palestrante, Janete Guilherme, trabalha com as Mulheres do Salgueiro, de São Gonçalo, ensinando-as a fazer roupas e vestidos a partir de materiais descartados. Ela diz que o programa tem ajudado a mudar a forma como os participantes vêem o lixo. Muitos agora guardam frascos de xampu e outros itens normalmente jogados fora e os reutilizam de forma adaptativa. Elas produzem uma gama de produtos, incluindo vestidos e flores decorativas. O grupo Mulheres do Salgueiro despertam a consciência na população sobre o lixo, e também apoiam vítimas de violência doméstica.
O palestrante final foi Ricardo Souza, do grupo socioambiental Carcará, do Caju. Ele levantou a questão de como os espaços culturais, como a restaurada Casa de Banhos de Dom João VI, podem desempenhar um papel de integração no fornecimento de espaços para a construção de conscientização da comunidade que vive em torno da Baía. Na década de 90 a Casa de Banho hospedava oficinas culturais e eventos que promoviam a organização da comunidade. Souza disse: “Uma vez que a comunidade se torna ciente do problema da poluição, é mais fácil para eles ter empatia, mudar sua mentalidade e fazer algo sobre isso”.
A Sauna desde então tem caído em desuso e agora está fechada ao público. A falta de atenção dada a este espaço valioso e histórico em uma comunidade que tem desempenhado um papel importante na história do Rio reflete um padrão geral de abandono do governo nas comunidades em torno da Baía de Guanabara, como Caju.
Apesar da exposição dada pela atenção internacional para a Baía de Guanabara ser recente, os grupos presentes no evento, de toda a Baía, demonstram que a organização em torno da justiça social e ambiental na área não tem nada de novo. Comunidades da Baía de Guanabara estão comprometidas a ver uma mudança na qualidade de vida dos habitantes da região e estão ativamente tomando medidas para melhorá-la.