No dia 12 de dezembro, moradores, estudantes e voluntários se reuniram na Vila Autódromo para medir a área que se tornará uma creche da comunidade. A creche é uma parte fundamental do premiado Plano Popular da Vila Autódromo, um projeto de urbanização desenvolvido pelos moradores em parceria com as equipes de planejamento urbano da UFF e UFRJ. No âmbito do Plano Popular, a Vila Autódromo receberia uma melhoria na infraestrutura que coexistiria com o Parque Olímpico. O custo estimado da execução deste plano é de R$13 milhões, 35% do valor que a prefeitura já pagou para remover os moradores.
As discussões para o Plano Popular começaram em outubro de 2011. A Vila Autódromo e os urbanistas das duas universidades apresentaram o projeto na Câmara Municipal em agosto de 2012. O Plano Popular cita quatro pilares para a urbanização da comunidade: habitação, saneamento, infraestrutura e meio ambiente. Em dezembro de 2013 o Plano do Popular ganhou o prestigioso prêmio Deutsche Bank Urban Age Award e apesar da pressão, em curso, por parte da prefeitura e as remoções, o Plano continua sendo atualizado.
Apesar das remoções continuarem com as desapropriações, negociações secretas com a prefeitura e remoções relâmpago, A Vila Autódromo está se reconstruindo a partir dos escombros deixados pelas escavadeiras da prefeitura. Maria da Penha, uma moradora e uma voz na luta contra a remoção, disse que a creche “teria sido [construída] na antiga associação de moradores, mas a prefeitura se apropriou do terreno com a desapropriação”. A comunidade, desde então, decidiu construir a creche ao lado da igreja, que fica em uma área sem marcação para projetos do governo.
“Nós vamos levar a creche e a associação de moradores para perto da igreja porque a igreja tornou-se um ponto de resistência“, disse Fernanda Santos, uma arquiteta e pesquisadora da UFF. “[A creche] é um símbolo da resistência da comunidade e do seu desejo de permanência”.
A associação de moradores estava no meio de um processo de captação de recursos, com eventos semanais, para construir a creche em 2009, quando a decisão de que o Rio iria sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi anunciada, levando a associação a mudar seu foco e se concentrar em resistir à remoção.
Apenas duas das 58 casas notificadas para a desapropriação no decreto de março permanecem hoje. Maria da Penha é uma das moradoras que ainda se mantém na sua casa. A outra moradora, a candomblecista Heloisa Helena Costa Berto, que tem sofrido com o terror do processo de remoção por parte da prefeitura, ainda acredita na permanência da comunidade.
Heloisa vê a creche, um investimento no futuro das crianças da Vila Autódromo, como uma vitória. Ela disse: “A creche vai de encontro a todas as ideias e opiniões das pessoas, políticos ou não, que apostam contra a Vila Autódromo”.