O último mês de 2015 foi o momento de fazer um balanço do estado das coisas no Rio de Janeiro e no Brasil antes de 2016, o ano Olímpico, começar. Com os relatórios de violações de direitos humanos e análises da cobertura da mídia internacional, juntamente com a cobertura de questões fundamentais como a Vila Autódromo e a violência contínua contra moradores negros das favelas, estamos prontos para entrar no ano mais crítico de todos para amplificar a voz de moradores das favelas. Para ajudar nossos leitores a ter conhecimento das maiores notícias e temas do mês passado, fizemos um resumo das histórias que publicamos aqui no RioOnWatch junto com algumas outras leituras obrigatórias que saíram na mídia. Veja todos os nossos resumos mensais aqui.
Antes da entrada de 2016 e da culminação do RioOnWatch, projeto iniciado em 2010 pela Comunidades Catalisadoras (ComCat) para documentar as transformações acontecendo nas favelas do Rio em função dos Jogos Olímpicos de 2016, nós olhamos para 2015 com nossa mais recente análise das melhores e piores reportagens internacionais sobre as favelas do Rio. Dois dos melhores artigos foram do próprio mês de dezembro: uma matéria inovadora e altamente visível sobre a Vila Autódromo na revista TIME e uma história sobre remoções pré-Olímpicas no Vice, ambos os quais a equipe da ComCat deu apoio.
Nossa própria cobertura da Vila Autódromo incluiu uma análise das pressões que vêm aumentando e se tornando cada vez mais opressivas com a Prefeitura se agarrando a curtos prazos como ferramenta para pressionar os moradores, até então informados que poderiam ficar. Cobrimos a terrível história de remoção da Dona Mariza, que foi deixada sem moradia quando sua casa foi destruída em outubro, e eventos criativos de resistência que continuam ocorrendo semanalmente nessa comunidade implacável, como o festival cultural #OcupaVilaAutódromo e a desobediência civil dos moradores conforme eles se juntaram para trabalhar na sua tão esperada creche.
Este mês, o Comitê Popular da Copa do Mundo e Olimpíadas publicou o seu maior e mais extensivo dossiê de violações dos direitos humanos à frente dos “Jogos de Exclusão”. Mais de 22.059 famílias já foram removidas de suas casas em todo o Rio. Pelos direitos humanos, como o direito à moradia, tanto moradores de cidades brasileiras e juízes possuem igual falta de conhecimento dos direitos legais duramente conquistados por moradores de favelas. Na mesma semana do lançamento do dossiê, centenas de ativistas debateram e cerca de 50.000 pessoas comemoraram o Dia Internacional dos Direitos Humanos, em Madureira.
Madureira também foi o local de um protesto poderoso contra o assassinato de jovens negros, na sequência da polícia inexplicavelmente ter matado cinco jovens em Costa Barros. Como uma forma de reflexão e resistência à violência em curso, as mulheres do Caju e Manguinhos mapearam a violência em suas comunidades. Alguns ativistas de favela dizem que o foco na luta contra a violência sistêmica que afeta a população negra das favelas é uma das razões por trás da baixa participação de moradores de favela nos protestos de dezembro contra o impeachment da presidente Rousseff.
Um artigo expressando indignação pelo ativista-jornalista do Alemão, Raull Santiago, defende a importância da elaboração de relatórios sobre violações de direitos, como a violência policial, e ao mesmo tempo de mostrar o lado positivo das favelas, que é um ato de resistência em si. A paralisação temporária do WhatsApp em dezembro e a enorme indignação (e humor), expressado pelos brasileiros de todos os lugares nas mídias sociais, destacou o papel fundamental das novas tecnologias de internet e plataformas em amplificar a voz de cidadãos.
Também neste mês, o controverso Museu do Amanhã finalmente abriu e um perspicaz artigo do CityLab abordou o simbolismo complexo do edifício na região do Porto, fundamental para a herança afro-brasileira como o maior porto de escravos na história do mundo. Não muito longe do museu, o quilombo Pedra do Sal e apoiadores comemoraram dez anos do reconhecimento da importância histórica do quilombo e da candidatura em curso para o reconhecimento como Património Mundial da UNESCO.
E finalmente, os moradores da Vila Laboriaux e colaboradores transformaram um terreno baldio mirando o desenvolvimento de uma floresta urbana comestível para a comunidade. Essa revitalização constitui um de vários projetos de melhorias e de desenvolvimento sustentável comunitário que os moradores da Vila Laboriaux estão implementando, o que é mais marcante visto que a Prefeitura pediu a remoção da comunidade após os deslizamentos de terra de 2010.
Aguarde pelo nosso próximo resumo dos artigos de janeiro conforme entramos no importante ano Olímpico.
Você pode se inscrever aqui para receber diretamente no seu email o Favela Digest em inglês a cada mês.