Nesta quarta-feira, 13 de janeiro, a Vila Autódromo acordou por volta das 7 horas da manhã e encontrou, em torno do bairro que hoje é lar para algumas dezenas de famílias, um grande número de policiais da Tropa de Choque do Rio, teoricamente a polícia apropriada para o controle de grandes distúrbios em manifestações civis e eventos públicos. Os moradores não tiveram nenhum aviso que eles estariam lá ou o que estava para acontecer. Na falta de informações, os moradores temiam uma repetição da tentativa de demolição, a mesma ocorrida em junho passado, que resultou em conflito com a Guarda Municipal e pelo menos seis feridos.
Acompanhada do sub-prefeito da Barra da Tijuca, Alex Costa, e sua assistente Marli Peçanha, a Tropa de Choque instalou uma grande cerca branca em toda a estrada principal da comunidade, que agora corta uma grande parte do acesso da comunidade à lagoa. A cerca isola as casas de duas famílias que permanecem na parte da margem da Vila Autódromo, conforme descrito neste vídeo por um dos moradores remanescentes. Agora, essas famílias terão de chegar a suas casas através do Parque Olímpico, que ainda está em construção, solicitando permissão cada vez que receber um convidado em suas casas para entrar através do Parque. Um morador mediu a distância que essas duas famílias agora têm de andar até o ponto de ônibus mais perto de sua casa, algo como cinco a seis quilômetros através do Parque.
Embora a polícia deixou a área antes de meio-dia, os membros da comunidade ficaram juntos depois para discutir formas de reagir. Um morador falou sobre a necessidade de identificar as leis específicas que protegem o direito da pessoa de acesso à sua própria casa. Moradores também sugeriram que os funcionários municipais sabem exatamente que essas leis existem, mas que se aproveitam de moradores que não têm a mesma familiaridade com essas leis.
Em resposta à construção do muro, um grupo de moradores foi até a polícia local para registrar um boletim de ocorrência. Os moradores queriam ter certeza de que todos os aspectos do incidente fossem registrados formalmente. Eles acreditam que a chegada, que o horário, logo pela manhã cedo do incidente, foi para surpreendê-los, e sentiram a falta de notificação aos moradores antes de vir e o uso das tropas de choque armadas como descabido e constituindo um crime. Na primeira, a Polícia Militar não iria registrar o incidente, uma vez que acreditava que não havia crime cometido; a Polícia Civil deu a mesma resposta.
Quando os moradores da Vila Autódromo insistiram que pelo menos um relatório de eventos deveria ser registrado, o primeiro relatório da polícia foi vago e não incluía detalhes, tais como a presença das tropas de choque ou a falta de aviso prévio. Mesmo depois de adicionados mais detalhes e o relatório formal do que aconteceu apresentado, o incidente foi classificado como um “fato atípico,” o que significa que não há crime cometido.
Na página da comunidade no Facebook moradores escreveram: “Impediram nosso acesso a uma parte da comunidade, usaram a tropa de choque GM para intimidar, fecharam uma VIA PUBLICA. Então, o que é crime?”
Ontem de manhã, quinta-feira 14 de janeiro, moradores relataram ainda mais um motivo de preocupação. A barricada que os moradores haviam erguido e mantido na entrada da comunidade, com vigilância 24×7 por moradores desde dezembro, foi removido pela Guarda Municipal durante a noite. Moradores substituiram a barricada original com uma nova. A barreira original feita de tábuas, caixas de madeira e móveis, foi construída para evitar que grandes caminhões arruinem ainda mais a estrada principal que atravessa a Vila Autódromo em seu caminho para o canteiro de obras do Parque Olímpico, e para impedir as demolições não consensuais que ocorrem em propriedades que ainda não tenham recebido a devida compensação. Mais uma vez, os moradores não receberam aviso prévio e eles escreveram no Facebook: “Como sempre, não sabemos o que poderá acontecer.” Eles declararam a intenção de impedir a Guarda Municipal de remover a barricada se tentassem novamente, e pediram ajuda para aqueles que os apoiam: “Quem puder nos apoiar vem pra cá, porque a situação pode ficar tensa!”
Deste desenrolar dos acontecimentos na Vila Autódromo, a partir do uso da Tropa de Choque tradicionalmente associada à reintegração de posse de terras urbanas, até a remoção da barricada que fornece alguns elementos de proteção e aviso para os moradores, a semana pinta um quadro sombrio para a violência que pode vir a acontecer nas próximas semanas, pois já entramos em 2016 e aparentemente a Prefeitura está desesperadamente tentando remover os moradores remanescentes da Vila Autódromo.