Uma nova exposição de arte no Rio de Janeiro explora os efeitos das remoções forçadas em preparação para os próximos Jogos Olímpicos. O projeto “Favela Olímpica” do fotógrafo Marc Ohrem-Leclef inclui uma coleção de fotografias e um novo documentário. O filme foi lançado no Studio-X do Rio, quinta-feira, 21 de janeiro. O filme também foi exibido na Vila Autódromo em um evento especial com a participação de moradores e membros da Defensoria Pública na segunda-feira, 25 de janeiro.
O projeto de quatro anos conta a história de moradores de favelas que foram alvos de remoção no período da preparação para as Olimpíadas de 2016. Desde sua primeira viagem ao Rio em 2012, Marc fotografou moradores de 14 comunidades em todo o Rio, incluindo a Vila Autódromo, Vila União de Curicica, Santa Marta, Estradinha e Providência. O artista, que nasceu na Alemanha e atualmente vive no Brooklyn, foi inicialmente motivado para documentar remoções forçadas que antecederam os Jogos Olímpicos depois de ler sobre os despejos em Pequim, antes dos Jogos Olímpicos de 2008.
Descrevendo a sua experiência em trabalhar com indivíduos que resistem à remoção, Marc disse: “Eu encontrei pessoas que têm um grande orgulho de suas casas e suas comunidades, mas que estão profundamente inseguros sobre seu futuro enquanto lutam uma batalha desigual com a Prefeitura e os tribunais”.
Além de fotografias retratando moradores na frente de casas marcadas para demolição, a exposição também exibe retratos de moradores que levantam tochas de fogo, de emergência. O gesto tanto invoca um sentido de urgência, como retrata a luta dos moradores para permanecerem em suas casas, e também faz alusão à conexão com os Jogos Olímpicos de 2016.
Marc explicou que nestas fotografias, “os moradores não são sujeitos passivos, mas sim figuras ativas abraçando a oportunidade de representar a sua comunidade, sua luta, e sua resistência“.
O pequeno documentário segue vários moradores da Vila Autódromo antes da remoção, e lindamente captura a dor e desafio entre as diferentes gerações de uma comunidade.
Na abertura da exposição no Studio-X, em 21 de janeiro, Marc foi acompanhado por Julia Baker do Museu de Arte de Rio e Julia Michaels do RioReal Blog para discutir a trajetória do projeto. Tendo se engajado com as comunidades marcadas para remoção ao longo de vários anos, Marc descreveu como a situação evoluiu, como alguns de seus personagens foram bem-sucedidos em suas batalhas para permanecerem, e outros que foram deslocados para condomínios do Minha Casa Minha Vida.
Citando uma conversa com um morador que foi fotografado em ambos Vila Autódromo e mais tarde em seu novo apartamento do Minha Casa Minha Vida no condomínio Parque Carioca, Marc recorda como este morador (que preferiu permanecer anônimo) descreveu o processo de remoção e reassentamento. Quando questionado sobre como o apartamento se diferencia de sua casa na Vila Autódromo, o morador explicou que na sua nova habitação faltava “liberdade”.
Este sentimento foi reiterado por um grupo de dez pessoas que figuram nas fotografias. Eles descreveram a ruptura de suas respectivas comunidades compartilhando como familiares, vizinhos e amigos foram transferidos para habitação em toda a cidade.
Documentando visualmente as remoções enquanto também elevando as perspectivas e experiências daqueles diretamente afetados, Marc proporciona um retrato muito humano do processo de remoção e muitas vezes o devastador impacto que tem sobre a vida das pessoas.
A coleção das fotos foi publicada num livro em 2014 e foi reconhecido como um dos melhores livros de fotografia do ano pela American Photo Magazine.
A exposição está aberta ao público no Studio-X na Praça Tiradentes 48, até 26 de fevereiro de 2016.