Vila Autódromo Lança Plano Popular 2016 e Campanha “Urbaniza Já!”

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Cerca de 250 pessoas se reuniram na Vila Autódromo este sábado, 27 de fevereiro, para o lançamento oficial do atualizado e premiado Plano Popular da Vila Autódromo, projetado pelos moradores da Vila Autódromo com a assistência técnica de pesquisadores da UFRJ e da UFF. O evento aconteceu após uma semana tensa na comunidade, com a demolição da Associação de Moradores e da casa de Heloísa Helena Costa Berto, e a ameaça de demolição da casa de Maria da Penha.

“Urbaniza Já, a Vila Vai Ficar!”

A manhã começou com moradores, apoiados por estudantes, marcando os lotes atuais da comunidade, de acordo com o Plano Popular. Aqueles que vieram para apoiar a comunidade foram entretidos por uma companhia de palhaços da Escola Livre de Palhaços, enquanto as crianças desenhavam o seu próprio “Planinho Popular”, mostrando como eles querem que a Vila Autódromo seja urbanizada.

Depois do almoço, os moradores se prepararam para sediar o evento de lançamento na casa de Penha, mas tiveram que se mudar para o parquinho da comunidade para acomodar a multidão que lá estava. No lançamento lideranças comunitárias, como Maria da Penha, Sandra Maria e Jane Nascimento, assim como dois dos planejadores urbanos que compuseram a equipe técnica do Plano Popular–Carlos Vainer e Regina Bienenstein–falaram com as pessoas reunidas. Eles descreveram a luta para permanecer na terra até este momento, e suas esperanças para o futuro, que estão detalhadas no Plano.

Planinho

Maria da Penha iniciou as falas, declarando que embora “a Associação caiu, nós não caímos”. Ela continuou com uma nota pessoal: “Não abro mão de meu direito, nem de minha casa”.

Ela passou a explicar que a prefeitura as vezes argumenta que a Vila Autódromo não pode ficar, porque “não tem como urbanizar a Vila“, mas o Plano Popular mostra que esse argumento é sem fundo.

Sandra Maria foi a próxima a pegar o microfone, e usou seu discurso para desafiar o Prefeito Eduardo Paes para manter sua palavra para que a comunidade permaneça. Ela e outros moradores presentes no evento de sábado lançaram um desafio a todos os apoiadores da comunidade para postarem vídeos de si mesmos nas mídias sociais convocando o prefeito para manter sua palavra usando a hashtag #UrbanizaJá para rastrear os vídeos.

O chefe do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio também falou, garantindo o apoio do seu escritório para a luta da comunidade.

Carlos Vainer da UFRJ falou sobre a necessidade de urbanização, dizendo: “A habitação não é apenas uma casa, é a integração com a cidade”. Ele olhou para cima para o novo hotel construído para os Jogos Olímpicos e disse: “Eles [do hotel] não querem a vizinhança dos moradores da Vila Autódromo, mas [os moradores] querem se integrar”. Penha entrou na conversa: “E lembre-se que chegamos primeiro!”.

Vainer

Vainer elogiou os moradores por sua luta, adaptando o lema dos moradores “Vila Autódromo existe e resiste”, dizendo que “Vila Autódromo existe porque resiste”.

Em vários pontos dos discursos, a multidão clamava “Urbaniza Já, a Vila Autódromo vai ficar!”.

Muitos moradores usaram seus discursos para agradecer a massa de apoiadores que se reuniram na comunidade para o evento, e também durante a semana quando eles fizeram resistência à demolição da Associação de Moradores, o centro espírita de Heloisa Helena Costa Berto, e a casa de Maria da Penha, centros simbólicos da resistência.

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Com o lançamento oficial do plano atualizado, os moradores afirmaram seu desejo de permanecerem na comunidade, com a urbanização. Os planos originais para o Parque Olímpico da empresa de infraestrutura global, AECOM, mostravam uma grande parte da Vila Autódromo coexistindo com o Parque Olímpico. Além disso, o Prefeito Eduardo Paes tem afirmado repetidamente que os moradores que querem ficar podem ficar. Mas as ações da prefeitura na realidade não correspondem as suas palavras.

Intimidação psicológica e remoções relâmpago foram usadas para dizimar a comunidade, em uma campanha que custou a cidade bem mais de R$200 milhões, 16 vezes mais do que o custo estimado da implementação do Plano Popular. O Plano Popular representa uma visão para a Vila Autódromo não apenas para ficar, mas para florescer, e esta visão foi reconhecida, na sua versão anterior ao ganhar o prestigiado prêmio Deutsche Bank / London School of Economics UrbanAge.

O Plano Popular

O Plano Popular foi atualizado para refletir as demolições que têm sido levadas a cabo e projetando lotes para todos os moradores que escolheram ficar e que não têm interesse em negociar uma indenização com a prefeitura. Além da construção de uma nova Associação de Moradores, o Plano propõe a restauração do jardim da comunidade, uma creche comunitária, um espaço multi-uso para realização de eventos na comunidade, um pequeno parque, e a expansão de um sistema de esgoto e drenagem.

O plano foi bem recebido por seus méritos técnicos, e está alinhado com os ideais da ONU-Habitat para um bom design. Além disso, o Plano foi um esforço participativo entre a comunidade e parceiros acadêmicos. Vainer disse: “O Plano não é um desenho. Um Plano é feito de coragem, de paixão e de luta”.

Solidariedade com a Vila Autódromo

Apesar da intensidade da luta e do aumento da tensão da semana passada, o evento foi uma celebração inspiradora de resistência em curso repleta de solidariedade de apoiadores e renovação de otimismo para a implementação do Plano Popular.

Dentre as pessoas reunidas estavam moradores, líderes comunitários, políticos, defensores públicos que trabalharam no caso da Vila Autódromo, e apoiadores que têm mantido a vigília na Vila Autódromo durante a semana passada em face de demolições. Apoiadores de outras comunidades, como a Cidade de Deus, foram reconhecidos. Penha disse à multidão que a situação traz “tristeza, mas muita alegria por todos que estão presente”. Mesmo trabalhadores da obra do Parque Olímpico ao lado pararam para ouvir os discursos entusiasmados.

Vila-pano

No final do evento, os ativistas fizeram chamadas para que os apoiadores mantivessem a presença na Vila Autódromo. Eles enfatizaram primeiro a importância de manter a vigília na comunidade na próxima semana, e, em seguida, falaram sobre a presença de apoiadores ao longo prazo. Um convite permanente para realização de eventos, tais como grupos de capoeira e teatro na Vila Autódromo foi estendido para a multidão. No próximo sábado, 5 de março, haverá a comemoração do lançamento do livro de Raquel Rolnik, Guerra dos Lugares: A colonização da terra e da moradia na era das finançasRaquel Rolnik, recente Relatora Especial da ONU sobre Direito à Moradia Adequada, é professora da USP e uma defensora de longa data da Vila Autódromo.

Os próximos dias são novamente cruciais, os moradores e apoiadores tentam deter a remoção da casa de Maria da Penha, um local-chave de resistência. Colocada sob uma ordem de demolição na última segunda-feira, os moradores esperam que a prefeitura tente demolir a casa a qualquer momento, e por isso estão constantemente vigilantes. Eles continuam esperançosos no entanto, e a exibição de apoio no evento do lançamento, visivelmente renovou a moral dos moradores. Como Penha disse: “A luta vai continuar”.