Complexo do Alemão Não Esqueceu Menino Eduardo de Jesus, Morto pela UPP no Ano Passado

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O dia 2 de abril marcou uma data importante no Complexo do AlemãoZona Norte do Rio. Este dia completa um ano desde que um policial da UPP atirou e matou Eduardo de Jesus Ferreira de 10 anos de idade. O incidente foi amplamente coberto pela mídia local, nacional e internacional, e passou a simbolizar a desconfiança que existe entre moradores de favela e a polícia, dado o seu uso excessivo de força e impunidade. O policial ainda tem de ser responsabilizado por suas ações e a mãe de Eduardo, Terezinha de Jesus, tem-se dedicado a encontrar a justiça para seu filho e outras vítimas de violência policial.

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Em face da indiferença do Estado e do sistema de justiça penal, membros da comunidade decidiram homenagear Eduardo–em um evento chamado “Eduardo Presente!“–através da reapropriação do beco onde ele viveu e morreu. Ativistas usam frequentemente esta expressão para lembrar aqueles que perderam suas vidas devido a violência policial. Juntamente com a Anistia Internacional, o Coletivo Papo Reto, e outros pais que perderam filhos para violência policial, Terezinha de Jesus conduziu uma procissão de moradores e ativistas pelo bairro Areal no Complexo do Alemão antes de chegar ao beco renomeado: Beco Eduardo de Jesus Ferreira.

Segurando uma bandeira da Anistia Internacional com a hashtag #JustiçaParaEduardo, Terezinha de Jesus apresentou um apelo apaixonado por justiça: “Eu deveria já ter pedido isso bem antes, mas eu vou pedir agora ao Ministério Público que ele peça a prisão preventiva deste policial que tirou a vida do meu Eduardo. Ele não pode estar solto, ele não pode estar nas ruas, porque se for ele vai matar mais uma criança”.

Artistas locais de rap e grafite entreteram a multidão na cerimônia de renomeação. Para Thainã de Medeiros do Coletivo Papo Reto, o evento teve um peso significativo: “Esse é um ponto muito simbólico para nós. A nomeação do beco com a memória do Eduardo é uma forma de ressignificar esse local”.

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Mais tarde, naquele mesmo dia, na Biblioteca Parque do Alemão que fica na estação Palmeiras do teleférico do Alemão, os diretores David Morris e Angélica Melo estreiaram seu filme O Outro Lado do Cartão-Postal. O filme acompanha os acontecimentos logo após a morte de Eduardo, colocando-os no contexto da violência urbana do Rio e na perspectiva dos que consideram a UPP como um modelo policial que falhou. Apresentando entrevistas com ex-traficantes, conhecidos apenas como E e N, com o Coronel da Polícia Militar Ibis Silva Pereira, o ativista de direitos humanos e de mídias sociais Raull Santiago do Coletivo Papo Reto, o fotojornalista Tiago Ramos, e Terezinha de Jesus, o filme explora as raízes da desconfiança da comunidade em relação a polícia.

David Morris, um cineasta britânico e Angélica Melo, uma cineasta brasileira que tem trabalhado em favelas há anos, já tinham mostrado o filme a um grupo de estudantes de cinema no Reino Unido que ficaram chocados com o nível de violência de Estado na Cidade Olímpica.

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Ao longo do filme Terezinha de Jesus narra o último dia da vida de seu filho, mostrando-o como o menino normal de 10 anos que ele era. Muitas vezes a polícia quer plantar provas ou através de um depoimento incompleto, tenta passar a imagem daqueles que eles matam como os agressores iniciais. Um caso semelhante, a alguns meses mais tarde na favela da Providência, chegou aos holofotes globais, pois a polícia foi filmada disparando tiros e plantando uma arma para incriminar Eduardo Felipe Santos Victor por sua própria morte.

O coronel Ibis Silva Pereira é um raro membro moderado da Polícia Militar, que coloca a violência do Estado no Brasil dentro de um contexto sócio-histórico: “Estamos, infelizmente, em um país que mata as pessoas e parece não se preocupar com isso”. Na parte final do filme ele defende a descriminalização das drogas.

Terezinha de Jesus estava presente para o lançamento do filme, junto com outras famílias que perderam filhos para a violência policial. Embora ela não tenha falado no evento do filme, sua força definiu o dia, pois ela luta por justiça para Eduardo, não só em 2 de abril, mas em todos os dias.