No Rio, Estudantes Ocupam Escolas Estaduais Devido aos Cortes de Verba para a Educação

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Duas escolas públicas do Rio de Janeiro foram ocupadas por estudantes, que protestaram contra a proposta de cortes de gastos na educação pública, para a redução da dívida de R$166 milhões da Secretaria Estadual de Educação.

Em 21 de março, após vários protestos no Complexo do Alemão, Penha e Tijuca, os estudantes iniciaram ocupações no Colégio Estadual Prefeito Mendes Moraes na Ilha do Governador e no Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade no Complexo da Penha.

Muitas de suas exigências são semelhantes aos dos professores, atualmente em greve, de escolas públicas, citando demissões arbitrárias do pessoal da limpeza e da equipe de segurança, a deterioração da infraestrutura escolar, o desmantelamento das disciplinas de ciências humanas e artes, e salas de aula superlotadas, onde há um professor responsável por uma turma de entre 45 a 70 alunos.

“Eles querem tirar as disciplinas que nós achamos que são fundamentais”, disse Laetitia, 17, uma das estudantes que ocupa o Colégio Gomes Freire. “Sociologia e filosofia hoje são essenciais. Como que a gente vai votar, com 16 anos a gente irá votar, sem uma base de entendimento?”

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Os alunos ficaram sem aula desde 2 de março, quando professores de escolas públicas em todo o estado do Rio de Janeiro entraram em greve. Eles dizem que estão enfrentando uma grave instabilidade no emprego, devido aos salários em atraso, aumento de contribuições para a previdência e a pobreza das condições nas escolas onde os recursos são decrescentes.

“Com esse calor infernal, em aulas com 50 alunos, sem climatização… fica impossível manter a atenção dos alunos”, explicou, balançando a cabeça, o Adno Soares Ferreira Jr., professor do Colégio Mendes Moraes.

Ele continuou: “Todos os colégios estaduais no Rio de Janeiro estão agora sem inspetores, sem porteiros, e isso gera uma grande segurança, porque alguém pode entrar no colégio e muitos colégios não estão situados em áreas particularmente seguras. Esta não é uma situação que acontece em um colégio particular”.

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Os estudantes do Colégio Mendes Moraes disseram que o Secretário Estadual de Educação Antonio Neto entrou em contato com eles após duas horas de ocupação em 21 de março. No final da tarde, depois de não conseguir chegar a um acordo com os alunos, Antonio Neto denunciou as ocupações, chamando a ação de uma “invasão” e um resultado de “manipulações” de  professores. Em 29 de março, ele insistiu na Rádio Globo que as questões são limitadas a escolas específicas e que poderiam ser resolvidas internamente.

“Os alunos são os primeiros a sofrer todas as consequências da completa falta de investimento na educação no Rio de Janeiro”, comentou Cristiane Ferreira, professora do Colégio Mendes Moraes.

“Como professores, inicialmente nós não apoiamos o movimento porque nós todos estávamos muitos temerosos. Por causa da integridade física dos alunos tentamos convencê-los de não ocuparem, pois a Polícia Militar do Rio de Janeiro costuma ser violenta. Mas acreditamos que os estudantes têm razão em protestar.”

Os estudantes que ocupam ambas as escolas dizem ter recebido apoio, visitas e doações de suas comunidades locais, e amplamente de comunidades online e de todo o país.

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Marcos, 18, foi um dos estudantes que ocupou sua escola em São Paulo durante mais de dois meses em 2015, que veio ao Colégio Gomes Freire para ajudar quando ele ouviu falar sobre a ocupação.

“O que está acontecendo no Rio agora é o mesmo que aconteceu em São Paulo“, disse ele.

“Em São Paulo, o governo pensou que a melhor maneira de cortar o dinheiro era fechando as escolas; aqui, eles talvez não estejam fechando escolas, mas eles estão tirando coisas vitais e arruinando a educação dos alunos. ”

Como Marcos, alunos e professores especulam que os cortes do Estado do Rio na educação estariam ligados aos próximos Jogos Olímpicos, a crise financeira e o escândalo de corrupção em geral.

João Victor, aluno que lidera a ocupação Mendes, disse, “O governo do estado hoje construiu um Rio de Janeiro para turistas, não para os moradores. Não tem dinheiro para os funcionários públicos, professores e médicos, mas a Olimpíada vai acontecer e a realidade é isso aqui: têm alunos quem estão dormindo no colégio a mais de uma semana, reivindicando seu direito de estudar“.

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João e Marcos ambos esperam que o movimento de ocupação se espalhe, sentindo que os esforços dos estudantes até agora não foram suficientes para desencadear discussões genuínas com o Estado sobre as questões que estão enfrentando.

Mas os estudantes e professores também estão cautelosos com repercussões potencialmente violentas em resposta a suas ações, como visto contra estudantes em São Paulo no ano passado.

“Com certeza nós temos medo. Adno fez uma careta, lembrando o uso de gás lacrimogêneo e da pulverização de pimenta contra os professores, quando eles protestaram do lado de fora da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, há algumas semanas. “Nós não temos uma polícia que é amável e que tem respeito aos direitos humanos.”

Alessandro, um estudante de 18 anos do Colégio Mendes Moraes, insistiu que o medo da violência não vai parar os alunos.

“Eu tenho medo como qualquer pessoa”, ele disse. “Mas a gente vai resistir até o final, porque a luta por nossa educação é uma luta justa.”