Exposição de Arte ComPosições Políticas Oferece Uma Imagem Crítica do Rio

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De 2 de abril até 21 de maio, o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica está sediando a exposição ComPosições Políticas: Outras Histórias do Rio de Janeiro. A exposição apresenta o trabalho de 12 artistas de diferentes partes do Rio: Hevelin Costa, Leila Danziger, Lívia Diniz, Guga Ferraz, Naldinho Lourenço, Josinaldo Medeiros, Davi Marcos, Wagner Morais, Rafucko, Aleta Valente, Francisco Valdean e Gê Vasconcelos.

Os 19 trabalhos que formam a ComPosições Políticas, têm como proposta estética e ponto de partida as recentes imagens de favelas e periferia do Rio, que circularam amplamente na mídia tradicional e nas redes sociais–como a foto do carro com 111 buracos de balas depois da Polícia Militar atirar em cinco jovens dentro do carro em Costa Barros, sendo que os jovens estavam saindo para fazer um lanche. Os trabalhos questionam como essas imagens fazem visíveis as invisíveis vidas dos moradores de favelas, que têm que lutar contra a violência policial, serviços públicos ruins, o racismo, a marginalização e a estigmatização. Dos 19 trabalhos, apenas três são considerados finalizados pelos próprios artistas, fazendo com que a exposição esteja sempre mudando.

A exibição surgiu das quatro semanas de residência dos artistas no Galpão Bela Maré no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Lá eles trabalharam tanto individualmente como coletivamente, para desenvolver suas obras, enquanto também viviam com artistas locais e ficavam imersos no forte histórico da Maré de organização comunitária e produção de cultura. Famílias que perderam pessoas amadas por conta da violência policial também compareceram e conversaram com os artistas, possibilitando que aqueles que aparecem nessas imagens, altamente divulgadas, pudessem trabalhar com os artistas enquanto eles refletiam sobre as questões de memória coletiva, testemunho de atrocidades, direitos de imagem e a própria representação.

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A composição de Leila Danizinger, Para-ninguém-é-nada-estar, inclui fotografias com a data carimbada de artigos de jornais amassados com manchetes anunciando mais uma vítima da violência policial, convidando o leitor a refletir sobre a onipresença desse tipo de tragédia e sobre o contexto efêmero em que nós consumimos e descartamos estas notícias.

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As esquecidas manchetes justapostas da instalação Saudades Eternas de Wagner Novais, falam do luto que as famílias devem suportar pelo resto de suas vidas após a perda de um ente querido pela violência do Estado. Composta de camisas com os rostos das vítimas de violência policial penduradas em um varal, um banner com os cinco jovens de Costa Barros com os anéis Olímpicos diz: “Rio, há 450 Anos Campeão Olímpico de Assassinatos a Índios, Negros e Pobres”, e um vídeo das mães contando histórias sobre o último dia de seus filhos ainda vivos projetadas em camisas brancas lisas, o Saudades Eternas usa a imagem de roupas no varal para destacar que a violência do Estado é a experiência de todo dia para muitos, dado que é parte da estrutura histórica do Brasil.

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O trabalho também explora como nós definimos e somos definidos pelo espaço urbano. O trabalho Até onde o mar vinha, até onde o Rio ia, de Guga Ferraz, usa uma pintura por cima do mapa oficial da Maré para mostrar como as pessoas mudaram a paisagem física da cidade.

A instalação de vídeo Segundo o corpo: em trânsito de Hevellin Costa, apresenta quatro monitores que exibem vídeos de quatro câmeras que ela colocou no seu corpo durante as quatro horas de ida e volta de deslocamento diário no transporte público, ressaltando o desgaste físico que muitos moradores do Rio passam enquanto transitam por trajetos cada vez mais longos.

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Enquanto muitas pessoas nas imagens originais são vítimas da violência e por consequência não podem falar por elas mesmas, a obra Dani de Naldinho Lourenço apresenta a imagem e um texto impressionante de Danielly Cantanhede protestando de frente a policiais. Os pensamentos de Danielly daquele dia aparecem em letras vermelhas sobre um canto da foto. Juntamente com sua postura dinâmica enquanto ela aborda a polícia, o texto dá a fotografia uma qualidade quase audível, permitindo que a voz de Dani continue exigindo seus direitos: “paz sem voz não é paz é medo! Essa na foto ai em cima sou eu… estava exigindo o meu direito de ir e vir; sou cidadã, trabalho, pago meus impostos… sou negra, moro em favela e estava pedindo mais respeito”.

Os espectadores também podem adicionar suas próprias mensagens a parede branca em volta da foto, algo que a própria Danielly tirou proveito enquanto visitava a exposição, para lembrar aos espectadores que a galeria também é um espaço de elite que também ignora e silencia as vozes dos marginalizados: “Uma simples mulher da favela para uma exposição! Meu nome é favela”.

Protesting

A questão da auto-representação veio à tona com o trabalho do satirista Rafucko. Sua obra MonstruáRio 2016, concebida como uma loja de anti-souvenirs que vende imagens que celebram os abusos de direitos humanos no Rio, foi acusada de racismo por alguns ativistas negros e seus aliados. Entre os anti-souvenirs estão: um carro de brinquedo com 111 buracos vendido por R$111,00 recordando a tragédia em Costa Barros; a “Sandália do Apartheid” que vem com uma ilustração de homens negros fazendo fila para serem revistados contra um ônibus da cidade, uma “dura”–tática que a prefeitura tem usado contra jovens negros que pegam ônibus da Zona Norte; e cartões postais com pequenos pedaços de tijolos da Vila Autódromo–a comunidade que tem sido sistematicamente removida em nome das Olimpíadas de 2016. Os ativistas aproveitaram a exposição para lançar um amplo debate sobre a banalização e monetização das experiências reais de moradores negros do Rio de Janeiro, que são desproporcionalmente as vítimas da violência do Estado, o que muitos acreditam ser um genocídio.

As diversas exibições juntas convidam o espectador a pensar criticamente sobre as imagens que vemos, curtimos, compartilhamos e comentamos, perguntando: “Como evitar o distanciamento produzido pela proliferação de atrocidades num contexto de saturação imagética?”.