No sábado, 7 de maio, a Prefeitura lançou o muito aguardado programa de urbanização de favelas, o Morar Carioca, na região de Cordovil na Zona Norte. Segundo a prefeitura, cinco comunidades receberão obras de urbanização nesta fase do programa, sendo elas Pica-Pau, Brás de Pina, Bom Jardim, Roraima e Divinéia. O Prefeito Eduardo Paes discursou durante a cerimônia de lançamento que contou com mais de 100 moradores, assim como um número de funcionários da prefeitura, incluindo o Secretário Municipal de Habitação e Cidadania Sérgio Zveiter e Pedro Paulo Carvalho Teixeira, Secretário Executivo de Coordenação de Governo da Prefeitura e candidato nas próximas eleições para prefeito.
Comunidades do bairro de Cordovil têm se desenvolvido desde o início dos anos 60, em grande parte, com pouca assistência pública, e estão precisando com urgência de melhorias de infraestrutura. Milhares de casas não estão devidamente conectadas ao sistema de água ou de esgoto oficial. Ao invés disso contam com um canal de drenagem de águas pluviais que flui para a Baía da Guanabara e que, regularmente, inunda ruas e entra nas casas dos moradores através de chuveiros e torneiras durante chuvas fortes. No caso da comunidade Pica-Pau, várias casas situadas numa encosta em situação precária também estão em perigo de desabamento. Moradores têm solicitado o apoio do governo na modernização da infraestrutura e melhorarias nas condições de saneamento durante décadas, com pouco êxito digno de nota, antes da promessa do programa Morar Carioca.
O bairro de Cordovil foi selecionado para receber as obras de urbanização através do Morar Carioca em 2011, mas os planos do projeto foram cancelados sem aviso ou explicação em janeiro de 2013, apenas alguns meses após a reeleição de Eduardo Paes. No verão passado, as autoridades da Prefeitura voltaram nas comunidades para o levantamento das áreas e os moradores foram informadas de que o projeto tinha recebido um novo financiamento e seria implementado, mais uma vez em um ano eleitoral. Os moradores foram informados de que as obras começariam em abril, mas o lançamento programado foi cancelado sem explicação clara. A falta de transparência e ação em todo este processo de seis anos levou muitos moradores a questionar as motivações da Prefeitura. O evento de sábado foi a primeira indicação em anos de que este projeto vai de fato ser realizado.
No seu discurso no dia 7 de maio, o Prefeito Eduardo Paes não contabilizou o atraso de três anos, mas elogiou os esforços do Morar Carioca em trazer serviços essenciais aos moradores das favelas.
“Nós estamos aqui falando daquilo que é obrigação do poder público: saneamento, pavimentação, água, esgoto, iluminação pública, essas coisas que são óbvias. É um absurdo chegarmos ao século XXI e ainda terem lugares no Rio de Janeiro que não têm isso. E este programa Morar Carioca olha para as comunidades da nossa cidade, que são uma enorme realidade, e busca fazer um trabalho de dignidade. A gente comprova aqui, que existe dinheiro pra fazer isso tudo.”
Da mesma forma, a presença e as breves observações de Pedro Paulo indicam que ele alinhou a sua campanha com o Morar Carioca. Neste sentido, Pedro Paulo está seguindo o exemplo de Eduardo Paes de promover o programa, altamente popular, antes das eleições. Infelizmente, para os moradores de Cordovil, a grande retórica em torno da urbanização da favela durante a campanha de reeleição de Eduardo Paes em 2012 pouco contribuiu para a entrega dos projetos prometidos.
Reações ao lançamento do Morar Carioca variaram. Maria do Carmo da Silva, moradora da favela Pica-Pau há mais de 30 anos, disse que espera que o projeto irá recuperar o meio ambiente, com a melhoria no saneamento e coleta de lixo mais frequente, que o bairro precisa desesperadamente. Mas, acrescentou, “O lugar aqui é maravilhoso, não é ruim, mas falta algo melhor, que nós não temos”.
Outros moradores do Cambuci, que faz fronteira com Pica-Pau, expressaram frustração de que seu pequeno bairro não foi incluído nos planos apesar de sofrer de sérios desafios com abastecimento de água e esgoto. Várias mulheres disseram que se sentem impotentes e abandonadas pelas autoridades públicas, sem as quais os moradores têm pouca esperança de melhorar sua infraestrutura de saneamento.
Irenaldo Honorio da Silva, presidente da Associação de Moradores de Pica-Pau disse que a experiência passada ensinou a comunidade a não presumir que o processo está verdadeiramente andando. Ele obteve as informações de contato direto de Pedro Paulo, e prometeu “ficar em cima dele”, e também do engenheiro-chefe para o projeto, para quem Irenaldo disse que desta vez “não vamos dar mole, não”.