Jules Boykoff* foi um dos participantes do Fórum de Debate do The New York Times sobre a possibilidade de adiamento das Olimpíadas Rio 2016. Veja aqui a matéria original:
Em 2009, os licitantes do Rio Olímpico abarcaram os Jogos Olímpicos de 2016 como uma chance de mostrar o Brasil como uma democracia estável com uma economia forte. Sete anos mais tarde, ao invés disto, os Jogos prometem mostrar uma disfunção política e um mal-estar econômico. Mas o fato de adiar ou cancelar os Jogos Olímpicos Rio 2016 seria negar um presente involuntário dos Jogos: uma destacada demonstração pública do direito de dissidência política. Os manifestantes poderiam mostrar a prerrogativa de contra-atacar.
Adiar ou cancelar os Jogos Olímpicos de Rio seria negar um presente involuntário dos Jogos: uma destacada demonstração pública do direito de dissidência política.
Neste último ano, mais manifestantes foram para as ruas brasileiras do que todos os manifestantes do resto do mundo somados. Os Jogos Olímpicos darão aos ativistas de todas as matizes políticas uma outra excelente oportunidade para dar voz as suas queixas, mas desta vez sob o brilho dos holofotes da mídia global. Os Jogos Olímpicos levantaram uma série de razões para a dissidência: remoções (cerca de 77.000 pessoas, e a contagem continua), a militarização do espaço público (85.000 agentes de segurança vão inundar Rio, mais que o dobro do número em Londres), e falhas nas prioridades com os gastos (bilhões gastos nos Jogos Olímpicos, enquanto os hospitais estão fechados).
Sete anos atrás, as pessoas do Rio de Janeiro receberam um ramalhete de promessas, e agora só ficaram com os talos. Adiar os Jogos não vai consertar isso. Os protestos, talvez.
Toda vez que os Jogos Olímpicos são incapazes de atingir o prometido, os críticos aconselham fixar permanentemente os Jogos numa só cidade–geralmente Atenas. Mas será que os atenienses sequer querem os Jogos Olímpicos? Ainda lembramos muito bem a divida que surgiu logo após 2004, um fiasco fiscal que alimentou os infortúnios econômicos da Grécia. As instalações olímpicas estão dilapidadas, e remodelá-los seria caro. E é difícil imaginar o Comitê Olímpico Internacional concordando em se aninhar em qualquer lugar, com sua propensão insaciável para empurrar os Jogos para terrenos frescos, onde exerce sua influência através do processo de licitação. Além disso, precisaríamos de forte evidencia que prove que o enraizamento dos Jogos, para sempre, num só lugar seria realmente um benefício para os moradores dessa metrópole.
Uma noção mais convincente seria fazer uma rotação dos Jogos entre um punhado de Cidades Olímpicas no mundo. Isso cortaria a necessidade de novas construções, embora os locais já existentes ainda requeiram manutenção. Trocando os Jogos Olímpicos entre um circuito pequeno de cidades (digamos, cinco para os Jogos Olímpicos) seria algo mais aceitável para as elites do Comitê Olímpico que parecem gostar de viajar por todo o mundo e que poderiam se mostrar hesitantes ante a ideia de se desfazerem totalmente disso. Mesmo assim, com uma mudança nos ventos geopolíticos, o bom sujeito de outrora poderia perfeitamente se tornar um lobo em pele de carneiro, o que poderia significar a vil cimentação dos direitos humanos numa cidade anfitriã olímpica eterna.
Nenhuma dessas opções ajudam a cidade anfitriã atual, Rio de Janeiro. Mas o mundo inteiro está vendo, e os brasileiros estão bem versados na dissidência. Que comece o Jogo!
Jules Boykoff é o autor do “Power Games: A Political History of the Olympics”. Ele ensina ciências políticas na Pacific University em Oregon.