Protestos Anti-Olimpíadas no Rio na Véspera dos “Jogos da Exclusão”

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Ao longo da semana, uma série de eventos protestando as Olimpíadas estão ocorrendo no Rio, culminando em uma grande manifestação antes da cerimônia de abertura, no dia 5, sexta-feira. Sob o lema “Jogos da Exclusão”, vários movimentos sociais e coletivos têm se reunido para organizar uma série de eventos que destacam os problemas com a realização das Olimpíadas na cidade.

Há muitos motivos para os moradores do Rio protestarem contra as Olimpíadas. O projeto urbanístico do Prefeito Eduardo Paes mudou a cidade tornando-a mais desigual, segregada e dividida. Em nome dos jogos mais de 77 mil moradores de favela foram removidos de suas casas e outros moradores, tanto das favelas como da cidade formal, foram forçados a sair de suas residências por causa do processo de gentrificação. Cerca de 2.500 cidadãos foram mortos pela polícia na cidade, desde que o Rio foi selecionado para sediar os jogos em 2009. Todos os planos, considerados grandiosos, de legados ambientais, incluindo a limpeza dos canais da cidade, foram desfeitos. Além de não ajudar o meio ambiente, os jogos ajudaram a danificar ainda mais a natureza, o campo de golfe construído na Reserva Municipal Marapendi sendo um exemplo desse prejuízo ao meio ambiente.

Apesar das alegações de que os Jogos Olímpicos são para todos, várias instalações desportivas comunitárias da cidade foram fechadas e foram substituídas por instalações para a elite, excluindo a população local. A população indígena da Aldeia Maracanã foi expulsa do seu museu perto do estádio do Maracanã antes da Copa do Mundo, e ainda não ouviram qualquer notícia sobre o museu que foi prometido pelo Comitê Olímpico Brasileiro. A nível nacional as Olimpíadas serão lançadas por uma pessoa que muitos veem como líder de um golpe contra a presidente eleita democraticamente, Dilma Rousseff, que estará ausente dos Jogos Olímpicos.

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Mapa dos impactos Olímpicos, incluindo as remoções, intervenções urbanas, impactos ambientais e militarização. Mapa Rio 2016 – Os Jogos da Exclusão

O custo mínimo das Olimpíadas foi, de forma conservadora, estimado em cerca de R$40 bilhões (embora esse custo deve aumentar ainda mais após os jogos). Esse valor alto levou os serviços públicos a uma paralisação. Há pouco o Estado do Rio de Janeiro declarou um estado de calamidade para poder contar com a liberação de financiamento federal adicional, uma vez que não podia pagar os funcionários públicos, incluindo a polícia que trabalhará na segurança dos Jogos. Por causa de gastos Olímpicos, cortes na área da saúde e educação levaram ao fechamento de hospitais e a greve dos professores, apoiados por estudantes que ocuparam as suas escolas.

Uma parte significativa dos gastos Olímpicas está sob investigação–por parte da Operação Lava Jato–pois há indícios de corrupção em seus contratos. Enquanto a Prefeitura diz que a maior parte do dinheiro para os Jogos Olímpicos veio de fontes privadas, muitas contribuições para o orçamento Olímpico vieram de empreendedores imobiliários que ganharão terras públicas uma vez que os Jogos Olímpicos tenham terminado. O dinheiro foi levantado com a venda sorrateira de bens públicos a preços de saldos.

Embora haja todas essas questões para protestar sobre os jogos, novas leis, introduzidas para os Jogos Olímpicos, ameaçam definir protesto como terrorismo legitimando, assim, a violência do Estado. Uma equipe de segurança do metrô atacou manifestantes e jornalistas quando eles protestavam contra os Jogos Olímpicos, algumas semanas atrás. A tudo isso deve se acrescentar a negação do direito à cidade a muitos cariocas. O Rio está sendo pensando e formatado como uma cidade onde pessoas investem seu dinheiro às custas de quem vive nela.

Os cariocas que protestam contra os Jogos Olímpicos aderem a uma rica história de protestos contra os impactos locais dos Jogos. Desde 1932 moradores têm protestado contra os gastos Olímpicos e nos últimos tempos as manifestações anti-Olímpica ganharam ritmo. Quer se trate de ativistas preocupados com a gentrificação e segregação racial em Atlanta, indígenas e ambientalistas de Sydney, defensores dos direitos humanos em Pequim; ativistas que lutam pelas liberdades civis, contra a gentrificação e a defesa do meio ambiente em Vancouver e contra a militarização em Londres, os ativistas circassianos em Sochi ou até mesmo os ativistas que lutam pelos direitos dos sem-teto em Tóquio (próxima cidade em sediar os Jogos Olímpicos). Neste movimento, os ativistas do Rio vão ser vistos, e apoiados, por pessoas do mundo todo, que sofreram impactos semelhantes em suas cidades. Os Jogos Olímpicos deixam um rastro de exclusão, promessas não cumpridas e moradores irritados onde quer que passe. A pressão do Rio vai ajudar a forçar os Senhores dos Anéis a fazerem mudanças.

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A semana de protestos teve início nesta segunda, 1 de agosto, e vai até o dia 5 de agosto, sexta-feira. Ontem teve uma vigília de dignidade na Cinelândia, em resposta as ações que têm minado a igualdade entre as pessoas e a natureza. Do dia 2 a 4 de agosto vários eventos serão realizados no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (IFCS/UFRJ) no Centro do Rio. Cada dia terá três temas e atividades na parte da manhã, tarde e noite–incluindo oficinas, debates, exibições de filmes e exposições–seguindo por uma ação na rua para terminar a atividade do dia. Durante a semana será instalado no Largo de São Francisco, do lado de fora do IFCS o Museu das Remoções com instalações criadas por moradores e apoiadores da Vila Autódromo, com o intuito de preservar a memória do local.

Terça-feira, 2 de agosto, temas:

  • Espaço público e meio ambiente
  • Serviços públicos e a calamidade Olímpica
  • A Militarização e o racismo na Cidade Olímpica

Atividade final: Atletas e usuários dos equipamentos esportivos fechados e sucateados da “Cidade Olímpica” farão uma grande caminhada pelo Centro. E exposição pública, na Cinelândia, do filme Olympia.

Quarta-feira, 3 de agosto, temas:

  • Higienização dos espaços públicos
  • Esporte: mercadoria ou direito?
  • As Mulheres e o direito à cidade

Atividade final: Debate no Largo São Francisco de Paula sobre Cidade e Democracia, com debatedores do Rio e de outros estados e países.

Quinta-feira, 4 de agosto, temas:

  • Habitação e direito à cidade
  • Direito ao trabalho
  • Mídia, comunicação e megaeventos

Atividade final: Grande painel dos Jogos da Exclusão, com 16 atingidos pelas violações causadas em nome dos megaeventos.

No último dia, sexta-feira, 5 de agosto, haverá uma grande mobilização na Praça Saens Peña, perto do estádio do Maracanã, onde ocorrerá a cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos. Esses movimentos vêm ecoando desde o protesto contra a Copa do Mundo, quando foi organizado, no mesmo local, uma manifestação no encerramento do evento. Na página do Facebook do evento está escrito a seguinte descrição “Em uma cidade onde o abismo da desigualdade cresce cada vez mais, a base de tratores, tiros e bombas, é fundamental prosseguir e avançar na luta pelo direito à cidade, pela democracia e pela justiça social. Vamos denunciar este projeto de cidade segregada, Rio Olimpíada 2016: os Jogos da Exclusão!”.

Adam Talbot é um pesquisador de doutorado no Centro de Estudos de Esportes, Turismo e Lazer da Universidade de Brighton, no Reino Unido. Ele está realizando um projeto etnográfico com foco em movimentos sociais e ativismo nos Jogos Olímpicos Rios 2016.