No dia 13 de agosto, a Vila Autódromo sediou o evento Vila Autódromo Ocupa Olimpíada, para a “reafirmação de seu território, de sua existência, de sua resistência e re-existência”. Mais de 100 moradores e apoiadores se reuniram para compartilhar informações e desfrutar de uma celebração à solidariedade e à resistência, que começou a tarde e se estendeu pela noite.
O evento foi uma expressão da duradoura história e luta enfrentadas pela comunidade nos anos que antecederam os Jogos de 2016. A comunidade escreveu na página do evento no Facebook:
“Os #JogosDaExclusão chegaram e a “festa Olímpica” está por todos os nossos lados – mas nós não fomos convidados!
Pagamos pelos Jogos Olímpicos com a remoção violenta de grande parte dos moradores de nossa comunidade, durante anos fomos submetidos a todo tipo de pressão e ameaças por parte da prefeitura, que tentou de todas as formas acabar com a Vila Autódromo.
Resistimos. E somos nós quem vamos contar essa história.”
Localizada a apenas cinco minutos a pé do Parque Olímpico na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, a comunidade ofereceu uma alternativa às lustrosas exibições dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A mostra das instalações do Museu das Remoções esteve em destaque apresentando representações projetadas pela comunidade das remoções que reduziram a comunidade de quase 700 famílias para apenas 20.
Moradores também estavam nas ruas, oferecendo seus relatos sobre como as Olimpíadas afetaram suas vidas, e sobre como eles planejam seguir adiante, agora que finalmente se mudaram para suas moradias construídas pela prefeitura no local. A polícia e as autoridades das Olimpíadas se fizeram notar, dirigindo esporadicamente pela comunidade e também requerendo que os presentes removessem decorações do evento nas ruas para que eles pudessem passar. Apesar disso, contudo, o evento manteve uma atmosfera positiva, acrescido de comida recém preparada, bebida e música.
Mais tarde, à noite, enquanto os integrantes das performances se preparavam para atuarem no evento, parte do grupo foi ao Parque Olímpico para um ato de resistência e para promover a conscientização. Duas jovens garotas andavam com pernas-de-pau acima da multidão, carregando uma faixa que dizia “Memória não se remove”, chamando a atenção entusiasmada de vários espectadores Olímpicos que deixavam o local.
Outros manifestantes abriram faixas contra as Olimpíadas e os impactos do megaevento. Uma faixa dizia “Terrorista é o Estado”. Os manifestantes argumentaram que a frase não se referia apenas às questões endêmicas da violência policial e intimidação, mas também sobre o fracasso do estado em oferecer serviços públicos. Um manifestante disse: “O próprio estado causa o terror quando não fornece saúde, educação, saneamento básico. Essas Olimpíadas são uma Olim-piada”.
Os manifestantes conseguiram seguir adiante sem a interferência policial, repetindo frases e distribuindo panfletos informacionais aos que passavam, a medida em que os eventos Olímpicos terminavam e os espectadores começavam a sair. Alguns dos que passavam por perto também ofereciam apoio, gritando a exclamação, agora comum, contra o presidente interino, “Fora Temer!” Depois de cerca de uma hora de protesto, os manifestantes retornaram à Vila Autódromo.