Mais de 50 entusiastas do ciclismo de toda a área metropolitana do Rio se reuniram na semana passada para a Bicicletada Metropolitana da Casa Fluminense, um passeio de 3 dias e 118 quilômetros que iniciou na quinta-feira, 25 de agosto, partindo de Japeri na Baixada Fluminense, e terminou na tarde de sábado, 27 de agosto, na Praia das Pedrinhas em São Gonçalo, na costa leste da Baía de Guanabara. O passeio ajudou a lançar a campanha #Rio2017, que mobiliza o diálogo e a participação de numerosos grupos da sociedade civil para a Agenda 2017, uma lista de ideias viáveis para melhorar a vida na cidade no período pós-Olímpico.
“Com a pauta Rio2017 estamos apresentando propostas para os políticos, a fim de transformar o Rio em uma cidade mais justa, democrática e sustentável”, disse Henrique Silveira, um dos coordenadores da Bicicletada da Casa Fluminense. “Este passeio de bicicleta é um esforço para mobilizar a sociedade e os cidadãos individualmente para refletir sobre o futuro do Rio de Janeiro depois dos Jogos Olímpicos”.
No dia de abertura do passeio, os ciclistas pedalaram do sudeste de Japeri, na região periférica da Baixada, até Nova Iguaçu e, finalmente, ao ponto de descanso no Centro Cultural Lira de Ouro em Duque de Caxias. Ao longo do percurso, o grupo reuniu-se com membros do Instituto Enraizados, uma organização comunitária focada no hip-hop baseada em Nova Iguaçu.
No segundo dia os ciclistas foram do sul da Baixada ao centro do Rio, passando pelo Complexo da Maré onde se uniram às crianças da comunidade e tiveram um debate de ideias com líderes de favelas da Maré. Eles terminaram o dia na Região do Porto e acamparam na Spectaculu, uma escola de arte e tecnologia instalada em um antigo armazém.
No sábado os ciclistas cruzaram a Baía da Guanabara de balsa antes de seguirem para o norte de Niterói, para São Gonçalo. Guilherme Karakida– que também ajudou a organizar o passeio–sentiu um momento de profunda reflexão quando se aproximou do ponto de chegada. “Assim como nós estávamos contemplando a beleza da Baía de Guanabara, o que veio até mim foi a magnitude do desafio que a limpeza da baía apresenta, que é um dos principais objetivos da Casa Fluminense”, disse ele.
Ciclistas relataram que decidiram participar por uma variedade de razões. Alguns estavam ativamente envolvidos na campanha, enquanto outros simplesmente pensaram que ver a cidade de cabo a rabo seria uma experiência reveladora. Mas Carlos Leandro, do grupo Queimados Pedalando para o Futuro, participou em parte como treinamento. Leandro começou a andar de bicicleta como uma solução econômica de transporte depois de perder seu emprego, mas agora vê o esporte tanto como um meio de transporte acessível como um passatempo agradável. Esta primavera ele tem intenção de pedalar do Rio até Mariana, em Minas Gerais, onde ocorreu em novembro passado o maior desastre ecológico da história do país, para produzir um documentário em honra das vítimas.
Os ciclistas notaram que a desigualdade na qualidade das estradas em toda a cidade muitas vezes reflete a desigualdade de renda. Enquanto na Baixada e em partes do Leste Metropolitano eles foram forçados a andar em ruas movimentadas ou ao lado da auto-estrada, na Zona Sul há quilômetros de ciclovias relativamente bem cuidadas. Os membros do clube de ciclismo de São Gonçalo também lamentaram as más condições que eles são forçados a andar regularmente. De acordo com Renan Braga, ciclista morador do Méier na Zona Norte, “Na Zona Sul as ruas têm árvores, enquanto em São Gonçalo não tem nenhuma“. Os projetos rodoviários na Zona Sul e Zona Norte são muito diferentes. Ele disse que enquanto bairros como Copacabana tem um sistema organizado de pequenos quarteirões, muitas áreas da Zona Norte não têm quarteirões nenhum. “Muitas partes das calçadas na Zona Norte são ilegalmente ocupadas por propriedade, e muitos negócios usam as calçadas para mostrar seus produtos o que torna a prática de ciclismo difícil”.
As lideranças da Casa Fluminense enxergam inúmeros benefícios para a melhoria da infraestrutura cicloviária em áreas fora da Zona Sul. “Transporte ativo democratiza o espaço público e incentiva as relações entre as pessoas. A cidade deve ser feita para bicicletas e para as pessoas também, não apenas para os carros”, disse Guilherme Karakida. Além de ser um ponto de vista político, Guilherme Karakida simplesmente aprecia o ciclismo como uma opção de vida saudável. “Além disso, usar a bicicleta com meio de transporte produz uma maior qualidade de vida e libera endorfinas”.
Em seguida, a Casa Fluminense continua com sua agenda cheia em torno da campanha #Rio2017, com o próximo Fórum Rio 2017 em Niterói agendado para a próxima segunda-feira, dia 12, e um enquete online para a população definir suas prioridades dentro da Agenda encaminhada para politicos de toda a Região Metropolitana. Tire um minuto e participe aqui.