No domingo, 18 de setembro, moradores da favela do Horto na Zona Sul do Rio realizaram um protesto intitulado “Fica Horto, Fora Globo” protestando contra a notificação de despejo em curso contra a comunidade. Mês passado, no dia 10 de agosto, o Tribunal de Contas da União (TCU) emitiu uma decisão dando ao Jardim Botânico 90 dias para remover os moradores do Horto. Até esse momento, nenhuma outra ação foi tomada pelo Jardim Botânico ou pelo governo federal, mas moradores esperam que o Jardim Botânico tome medidas em relação a remoção da comunidade após as eleições municipais de 2 de outubro ou, se houver segundo turno, após 30 de outubro.
Os moradores do Horto reivindicam a terra há 200 anos: situada à sombra do Cristo Redentor, a comunidade foi fundada por trabalhadores do Jardim Botânico–estabelecido em 1808–que receberam permissão para habitar o local adjacente ao parque com suas famílias. Nos anos 60, o Presidente Juscelino Kubitschek construiu uma escola municipal para as crianças da vizinhança. Os moradores possuem documentos legais de gerações anteriores comprovando seus laços lá. Se há uma favela no Rio que possui o direito sobre sua terra, é o Horto. É por isso que há tanto em jogo para os moradores da comunidade e para além deles.
Moradores e simpatizantes se reuniram na entrada do Horto por volta das 10h da manhã para se prepararem para o protesto pacífico e familiar, seguido de uma ampla organização com carro de som, tambores, músicas, cânticos e cartazes para todos os participantes.
Às 11h da manhã, os líderes da comunidade conduziram mais de 100 moradores pela Rua Pacheco Leão até o ponto central do protesto: em frente à sede da Globo na mesma rua. As Organizações Globo são o maior grupo midiático da América Latina com a segunda maior rede comercial de televisão em faturamentos anuais em todo o mundo. Os moradores do Horto agora atribuem as crescentes pressões pela sua remoção à Globo, já que as ameaças de remoção começaram somente após a empresa ter começado a realizar suas operações no bairro durante o regime militar nos anos 60, e tem aumentado com a gentrificação do bairro ao redor, alimentada pelo crescimento da Globo.
Reunida em frente ao prédio da Globo, Emília de Souza, ex-presidente da Associação de Moradores e Amigos do Horto (AMAHOR), falou primeiro e então introduziu outros sete moradores que discursaram brevemente cada um detalhando a atual situação da comunidade. Três temas foram reiterados ao longo dos discursos: a Globo publica mentiras sobre o Horto, o argumento ambiental para remoção do Horto é equivocado e a união é essencial para a resistência.
Moradores reagiram as declarações da Globo que os chamavam de invasores, entre outras acusações. “Toda propriedade começa com uma posse, e a nossa se estende até dois séculos atrás”, disse Emília. “Nosso direito à moradia digna, ao nosso bairro e à nossa cidade é reconhecido pelo próprio governo, previsto na Constituição e nas leis brasileiras e internacionais. Mas, na tentativa de nos roubar este direito, e de promover uma limpeza étnica e social, a Globo não hesita em inventar fatos e divulgá-los como verdades”. Como exemplo, Emília citou uma declaração de 2013 do diretor da Escola Nacional de Botânica Tropical atribuindo uma bomba caseira aos moradores do Horto. Embora o diretor tenha rapidamente retirado a declaração, Globo a publicou. Mais recentemente, a Globo publicou uma matéria atribuindo aos moradores do Horto um email anônimo ameaçando o presidente do Jardim Botânico. A Globo frequentemente se refere aos moradores do Horto como “invasores”, mesmo que a comunidade tenha existência conjunta ao Jardim Botânico por mais de 200 anos.
Em seguida, oradores contestaram o argumento ambiental para a remoção do Horto, definindo-o como irônico e injusto. Emerson de Souza, atual presidente da AMAHOR, descreveu como o Jardim Botânico removeu centenas de árvores antigas e nativas para a construção de um estacionamento para os funcionários do Jardim Botânico perto da entrada do Horto. Outros enfatizaram que o Horto é uma comunidade muito verde que vive em harmonia com o meio ambiente.
Finalmente, os oradores enfatizaram a união: “Cada morador é relevante, cada morador é importante”, disse um deles. Os moradores do Horto pretendem resistir à remoção e os líderes da comunidade frequentemente destacam que a união será essencial para o sucesso da resistência.
Os moradores realizaram protestos semelhantes contra a remoção anteriormente, mais recentemente em abril deste ano. Desde 2013, o Horto tem enfrentado uma ameaça crescente de remoção, mas tem resistido até agora. Os moradores esperavam que as ameaças de remoção fossem se acalmar depois das Olimpíadas, mas a notificação de 90 dias emitida em 10 de agosto tem os impulsionado a continuar seus esforços de resistência.