No dia 23 de maio, o Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) realizou uma mesa redonda para discutir o racismo e “branquitude” no ambiente universitário. O evento foi mediado pela estudante de Relações Internacionais Bruna Silva, e foi realizado em uma sala de aula no campus das 15 às 17h. Os palestrantes do evento incluíam Lourenço Cardoso, professor adjunto na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); Natany Luiz, estudante de Relações Internacionais da PUC-Rio e membro do Coletivo Nuvem Negra (CNN); e Fransérgio Goulart, historiador e membro do Fórum Social de Manguinhos.
O propósito do evento era questionar como as universidades no Rio de Janeiro, especificamente a PUC-Rio, perpetuam a dominação branca juntamente com a conexão da colonização epistêmica e o racismo no ambiente da sala de aula. Infelizmente, aqui no Rio de Janeiro as disparidades raciais e econômicas permanecem predominantes e essas desigualdades estão comumente refletidas na composição das faculdades e universidades. Ao longo da última década, o Brasil implementou um programa de cotas reservando 50% das vagas em universidades públicas para estudantes de escolas públicas, famílias de baixa renda ou descendentes africanos ou indígenas. A PUC-Rio, entretanto, é uma universidade privada e sem fins lucrativos, então as cotas das universidades públicas não se aplicam a este caso. Ao invés disso, a PUC oferece bolsas de estudo e assistência financeira a estudantes de baixa renda.
Fransérgio Goulart, nesta discussão, apontou que o reconhecimento do privilégio não é suficiente para acabar com o racismo nas universidades e mencionou como deve haver mais ação por parte dos estudantes e professores para mudar essas dinâmicas. Natany Luiz, que falou em seguida, destacou diversas de suas próprias experiências enquanto estudante negra em uma universidade predominantemente branca como a PUC-Rio. Ela explicou como muitos estudantes negros sofrem de baixa autoestima acadêmica e frequentemente pensam em largar a faculdade. Ela então continuou mencionando diversas formas de violência (não necessariamente física) que estudantes negros enfrentam nas salas de aula, seja por meio de comentários ou ações por parte dos professores e dos colegas estudantes. Fazer queixas formais, de acordo com Natany, apenas piora a situação. “Os professores acham que você está se vitimizando”, ela explicou. “Eles também pensam que é racismo reverso”.
Finalmente, Lourenço Cardoso adentrou em uma discussão mais teórica e deu um contexto histórico ao problema em questão. “O que nós estamos vendo aqui é um re-colonialismo em vez de pós-colonialismo”. Entretanto, ele fez questão de tocar na principal questão enfrentada por muitos estudantes nas universidades brasileiras atualmente: “Universidades são lugares onde pessoas brancas se sentem bem. Deveriam ser um lugar onde todo mundo se sente bem. Existe uma dualidade entre a experiência branca e a experiência negra”.
O evento terminou com várias perguntas da platéia, que foram todas respondidas por Lourenço, Fransérgio, Natany e Bruna. Durante o restante da semana, Lourenço Cardoso também realizou um mini-curso de dois dias na PUC-Rio: “Branquitude, Identidade Branca e Branquidade”, que incluiu uma discussão teórica acerca do significado de identidade branca.