No dia 24 de maio, apoiadores da comunidade Hípica de quase 80 anos se encontraram no Parque Lage para dialogar com os administradores do Parque Nacional da Tijuca sobre o futuro da comunidade. O encontro começou um pouco tenso com Ernesto Viveiros de Castro, diretor do Parque Nacional da Tijuca, reconhecendo que têm havido longas tensões entre os moradores e a administração do Parque. Esforços foram realizados para garantir que as discussões fossem sucintas e respeitosas entre os membros da platéia, que incluía moradores da Hípica, bem como moradores do Horto, da Vila Autódromo e do Vale Encantado. Também havia representantes de diversas organizações governamentais e não-governamentais, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Movimento Inter-Religioso do Rio de Janeiro.
Roberta Leocádio, responsável pela consolidação territorial do Parque, e Ernesto Castro, diretor do Parque, começaram o encontro com apresentações de PowerPoint sobre a história do Parque com a Hípica e o posicionamento acerca de moradia nos limites do Parque. Os representantes do Parque culparam a antiga má administração do Parque pelos atuais conflitos–reconhecendo que enquanto os antigos administradores estavam sendo mais tolerantes com comunidades como a Hípica, os novos administradores não estavam mais dispostos a serem.
O diretor também negou que o Parque estivesse mirando a Hípica especificamente quando restringiram o acesso a eletricidade para algumas casas há três anos, quando a rede elétrica foi atualizada. Os apoiadores da comunidade apontaram que os restaurantes na área possuem eletricidade, e reclamaram também sobre a construção de torres de telecomunicação–que são mais prejudiciais ao meio ambiente do que casas. Ernesto defendeu as ações do Parque ao observar que, de acordo com o regulamento do Parque, devem ter restaurantes no Parque, enquanto não há nenhum mandato do tipo em relação à moradia. Ernesto também sustentou que o Parque é contra esses novos desenvolvimentos.
A resposta imediata após a apresentação foi frustração. Marcello Deodoro, um ativista social, expressou sua irritação pelo fato de que nada na apresentação falou sobre direitos humanos e ele também estava “envergonhado” pela falta de respeito por parte da administração do Parque para com os moradores da Hípica. Para ressaltar o lado humano da questão, o presidente da Associação de Amigos e Moradores do Alto da Boa Vista, que inclui a Vila Hípica, Otávio Barros, falou de dois antigos moradores que morreram devido ao corte de eletricidade. Luci Rosa de Alcomtona apresentou a notificação de remoção e os documentos médicos de seu falecido pai, dizendo à audiência que sua saúde piorou devido à falta de acesso à eletricidade. Desafiando a antiga afirmação de que comunidades como a Hípica levam à degradação ambiental e que então devem ser removidas, Luci contou à atenta platéia que apesar de ninguém desmatar, eles são mantidos sem luz.
No momento, o caso da Hípica está atrelado ao que Ernesto chama de “imbróglio judicial”. Alguns membros da audiência expressaram sua falta de confiança no sistema judiciário. O Vereador Reimont declarou que o juiz atribuído ao caso não entende as vidas de pessoas comuns, enquanto outro membro da audiência disse que se o tribunal defender a remoção da comunidade da Hípica, qualquer aplicação da lei seria uma “aplicação da justiça que não é justa”.
Apesar da discussão tensa, o encontro terminou com uma nota positiva. Bettino Zanini, da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Botânico (AMAJB), sugeriu que os participantes, incluindo os representantes do Parque ali presentes, enviassem uma carta de protesto diretamente ao escritório do procurador-geral demandando que a eletricidade seja religada na Hípica. Os interessados esperam receber uma resposta do Parque dentro de uma semana.