O carnaval do Complexo de Manguinhos, conjunto de favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, conta desde 1964 com a escola de samba Unidos de Manguinhos, ainda pouco conhecida dentre cariocas e apreciadores de carnaval. Em sua trajetória, a escola já teve muitas conquistas e agora busca, renovada, refazer seus passos mirando uma posição de destaque.
A Escola já soma 54 anos de vida e luta. Nos primeiros anos, batalhou para possuir uma estrutura e uma equipe de qualidade, até que em 1989 a Unidos de Manguinhos surpreendeu a todos, levando para a avenida cerca de 2.000 componentes, 15 destaques, 6 alegorias e uma bateria com 150 instrumentistas, dirigida pelos mestres Tererê e João. Nos carnavais posteriores, os seus enredos homenagearam sua madrinha, a Estação Primeira de Mangueira, e músicos como Ivo Meireles, Arlindo Cruz, entre outros enredos importantes.
No entanto a estrutura da escola não evoluiu organicamente e nos últimos anos teve perdas significativas em sua estrutura artística e técnica, levando-a ao Grupo E das escolas credenciadas do Rio de Janeiro. Para o carnaval de 2018, a escola teve que fazer um esforço para se reaproximar dos moradores e conseguir compor a equipe necessária para que o desfile acontecesse.
O enredo desse ano falou sobre os povos da floresta e suas festas coloridas. A proposta principal agora é fortalecer essa parceria com a comunidade e crescer mais para os próximos anos.
Para entender melhor os planos futuros da escola e quais as suas metas principais, nós, Edilano Cavalcante e Renata Dutra, respectivamente coordenador e repórter da agência de comunicação comunitária Fala Manguinhos!, conversamos com o Vice-Presidente da Velha Guarda da Unidos de Manguinhos, senhor Marcio Mesquita.
EC e RD: Em sua opinião, o que levou a escola a reduzir drasticamente sua participação no carnaval carioca?
Marcio: Bom, a perda principal foi o afastamento dos moradores do dia-a-dia da escola. Os moradores são os membros principais, sem eles não têm escola. Mas devido às gestões pouco participativas o povo se afastou–e aí a escola caiu muito.
EC e RD: Como a escola pretende restabelecer a relação com os moradores?
Marcio: Nos últimos dois anos retomamos à ideia de trazer a comunidade para dentro da escola. Então a quadra da escola está de braços abertos para que o povo entre e se sinta pertencente daquele lugar. Se grupos de capoeira, de dança ou de festas juninas quiserem utilizar a quadra, serão muito bem-vindos, além dos próprios moradores para suas festas particulares. Basta procurarem alguém da escola antes para agendar.
EC e RD: Como foram os preparativos para esse ano? Qual foi o enredo?
Marcio: A situação financeira da escola é bem complicada, então durante esse ano tivemos que fazer vários eventos, rifas, feijoadas e buscar padrinhos para fortalecer a escola. Foi uma luta, mas conseguimos. O enredo desse ano foi “Hoje a festa é do povo da floresta”, com o propósito de falarmos sobre os índios, povos ribeirinhos e a floresta como um todo. Foi um bom desfile, acima do esperado, estamos bem felizes com o resultado.
EC e RD: Quais foram as metas desse ano? E quais foram os resultados?
Marcio: A meta desse ano era a classificação e não sofrer uma suspensão, que nos deixaria fora dos desfiles pelos próximos quatro anos. Fomos classificadas e ficamos em 7° lugar das 20 que desfilaram na Série E. Fomos inclusive premiados pelo site Samba Rock na Veia nos quesitos de melhor escola, melhor velha guarda, melhor casal de porta bandeira e mestre sala e melhor harmonia, então estamos felizes com o resultado e com muito gás para o ano que vem.
EC e RD: Como a comunidade pode contribuir para o crescimento da escola Unidos de Manguinhos?
Marcio: Participando. Quando eu era criança, lembro que a escola só vivia cheia, sempre tinha alguma coisa acontecendo na quadra e todo mundo ia participar. Dali nascia o interesse em fazer parte dos componentes da escola. Então peço esse voto de confiança dos moradores para que voltem a frequentar a quadra de Manguinhos e sintam-se abraçados lá. Quando o morador percebe que fazendo parte da escola ele também contribui para o desenvolvimento do território, logo ele quer ajudar, quer fazer parte disso. É isso que queremos e que vamos conseguir.
Assim, fica claro que a Unidos de Manguinhos é um ícone valioso para o bairro que representa e, acima de tudo, que ela reconhece a importância da participação popular para que sua história possa ganhar novos capítulos que sejam representativos da cultura local e para que ela seja mais uma ferramenta de união e divulgação dos grandes talentos que moram na comunidade, valorizando os potenciais já existentes e abrindo caminhos para as próximas gerações.
Matéria escrita por Edilano Cavalcante e Renata Dutra e produzida por parceria entre RioOnWatch e Fala Manguinhos!. Edilano é coordenador da agência de comunicação comunitária Fala Manguinhos!. Renata é estudante de jornalismo da UNISUAM, moradora da comunidade do Amorim em Manguinhos e jornalista do Fala Manguinhos!. Como prática de comunicação comunitária produzida por e para Manguinhos, o Fala Manguinhos! tem em sua origem a defesa dos direitos humanos e ambientais, promoção de cidadania e saúde com a participação direta dos moradores e moradoras nas decisões que envolvem a Agência de Comunicação Comunitária de Manguinhos, a partir dos encontros do grupo de comunicação do Conselho Comunitário. Siga o Fala Manguinhos pelo Facebook aqui.