A Orquestra Maré do Amanhã se apresentou no Museu da Maré no dia 3 de maio, seguida da exibição do filme Contramaré, documentário que conta a história dessa extraordinária orquestra. A noite terminou com um painel de debate com dois integrantes da orquestra, o cineasta, e o fundador e diretor executivo da orquestra.
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Contramaré: superando obstáculos através da música
Depois da apresentação, as luzes foram apagadas para a exibição do Contramaré. Um documentário de 30 minutos, acompanhado por uma trilha sonora, que apresenta a música da orquestra, usando os limites para criar um impacto duradouro. Cada pessoa que acompanhamos através do filme viveu uma vida extraordinária. A cuidadosa edição de Daniel Marenco comunica poderosamente as lutas e sucessos desses jovens músicos. O documentário é de alguma forma intimista e de longo alcance ao mesmo tempo. Somos convidados a entrar na casa dos jovens músicos da Maré, cenários que muitas vezes contrastam com as filmagens das performances dos músicos por todo o Brasil, incluindo tocar para um público lotado no suntuoso Teatro Municipal do Rio e uma apresentação para o Papa.
Também ficamos sabendo como os integrantes da orquestra ganham a vida, através de um programa em que todas as pré-escolas da Maré recebem aulas de música. Além de trazer música para a sala de aula e tornar a orquestra sustentável, as aulas também estão mudando uma geração de vidas de crianças, com alunos talentosos tendo a oportunidade de frequentar uma das duas escolas de música locais. No início do documentário, cenas de crianças pré-escolares rindo e batendo palmas em suas aulas de música são justapostas com cenas que mostram alunos e professores em barricadas nos corredores da escola, devido a um tiroteio ocorrendo nas proximidades.
O documentário termina com a orquestra tocando uma versão do funk popular ‘Eu So Quero Ser Feliz‘ em um parque com vista para a Maré. O primeiro verso é: “Eu só quero é ser feliz /Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é /E poder me orgulhar /E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. Depois dos créditos, a câmera se desloca para a comunidade antes que a tela fique escureça, deixando o público com as seguintes estatísticas: “A violência atinge essa área da cidade. Dados da Redes da Maré mostram que em 2017, tiroteios fecharam as escolas por 35 dias. Os postos de saúde tiveram suas atividades suspensas durante 45 dias. No total, 42 pessoas morreram em consequência de confrontos. Isso representa uma morte a cada nove dias”.
“É muito legal ter nossa luta documentada”
Após a exibição, uma sessão de perguntas e respostas contou com o diretor de cinema Daniel Marenco, o diretor de orquestra Carlos Eduardo Prazeres e dois integrantes da orquestra no documentário: o violinista David Vicente e o flautista Cristiano Souza. Os jovens demonstraram camaradagem com o cineasta Daniel e riram ao falar sobre como foi ser filmado por nove meses. Eles explicaram que, na maioria das vezes, Daniel era tão discreto que eles nem percebiam que estavam sendo filmados. David falou sobre convidar Daniel para sua casa e como ele está feliz com o documentário, refletindo: “É muito legal ter nossa luta documentada”.
Daniel, por sua vez, descreveu como conheceu a orquestra através do seu trabalho como fotógrafo no O Globo, o que acabou evoluindo para a gravação deste seu primeiro documentário. Ele enfatizou que o projeto nunca teria sido possível sem o apoio da comunidade, incluindo dois moradores da Maré que trabalharam no documentário: Diogo Nascimento, criador da impressionante trilha sonora, e Paulo Barros, que trabalhou na fotografia adicional.
Carlos Eduardo, que iniciou a orquestra depois que seu pai foi assassinado na Maré, falou sobre a visão da orquestra para o futuro, que é a criação de uma rede na Maré para garantir que todas as crianças possam ter acesso a diferentes atividades–seja pelo que for que elas se apaixonem. “O que importa”, afirmou, “é nunca deixar uma criança solta na rua”.