No Dia Mundial das Cidades—31 de outubro—Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio, serviram como ponto de encontro para ativistas e iniciativas comunitárias focadas na gestão de resíduos no evento “O que eu faço com esse lixo?”.
O debate foi organizado pela Fave.Lar (uma empresa social que trabalha para oferecer assistência técnica para reformas e construções de casas em favelas) em parceria com o Favela Hub (um centro de inovação social e educação da ONG Viva Rio) como parte do Circuito Urbano 2018, uma série de três meses de eventos patrocinada pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) para destacar as temáticas de desenvolvimento sustentável, gestão de resíduos sólidos e resiliência. Sediado no espaço do Favela Hub no Cantagalo, o encontro foi destinado a expor projetos de inovação social em favelas, além de servir como uma oportunidade para criar redes de contatos para formar alianças críticas.
Fábio Morães, fundador da Fave.Lar, abriu o evento falando da importância de se enxergar o lixo como uma questão social, especialmente nas favelas do Rio. Fábio citou estatísticas do Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Rio de Janeiro de 2014 (PERS), mostrando que a região metropolitana do Rio de Janeiro produz 5.322.042,73 toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano, o que representa 83% dos resíduos de todo o estado do Rio de Janeiro. Em um âmbito mais local, Fábio indicou que a comunidade—lar de 16.000 moradores—produz, cerca de dezesseis toneladas de resíduos por dia (presumindo que seus moradores consomem a taxa regional média de 1,19 kilogramas per capita por dia).
O evento prosseguiu abrindo espaço para que lideranças comunitárias e assessores técnicos apresentassem projetos que visam responder aos desafios descritos por Fábio. Esses empreendimentos sociais se constituem a partir de valores de autonomia e de sustentabilidade para enfrentar os sérios problemas relativos à coleta de lixo nas favelas, especialmente quando se observa que a Comlurb não atende efetivamente às favelas—muitas vezes levando moradores a descartar o lixo em locais como calçadas, riachos e aterros não oficiais.
“Tudo o que é do governo tem prazo—tem prazo para começar e terminar. Fico triste”, desabafou Nivaldo Cavalcante, fundador do Favela + Limpa e morador do Cantagalo, ao falar sobre iniciativas governamentais que falharam em manter as favelas limpas. Por esse motivo, Nivaldo resolveu lidar com o problema com suas próprias mãos. Juntamente com Leandro Abrante, também morador do Cantagalo, Nivaldo criou o Favela + Limpa no Cantagalo e no Pavão-Pavãozinho para encorajar os moradores a descartar seu lixo de modo apropriado, e para tanto o projeto compensa aqueles que separam seu lixo e materiais recicláveis com dinheiro e material de limpeza, ao passo que fazem uso criativo de jingles e cartazes para promover conscientização.
Jorge Tonnera Jr., um biólogo que se especializou em gestão e educação ambiental, também foi um dos palestrantes do evento. Jorge lidera os projetos “Não Jogue Lixo, Jogue Sementes!” e CompostaVargem, em Vargem Grande. Suas iniciativas procuram educar as pessoas sobre os benefícios de manter hortas comunitárias. Jorge vê seus projetos como uma alternativa aos—com frequência inacessíveis e limitados—espaços verdes da cidade.
De Olho No Lixo-Rocinha—um projeto do Viva Rio em parceria com a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA)–também apresentou seus múltiplos projetos. Como descrito por Ricardo Gonçalves, um consultor técnico da iniciativa, o grupo trabalha para reunir e descartar os resíduos, entregando-os nos locais de coleta da Comlurb—tendo coletado e removido mais de 1.186 toneladas de resíduos sólidos desde 2016. “De Olho No Lixo” também formou uma cooperativa de mais de setenta moradores dedicada à reciclagem, fornecendo uma fonte de renda para aqueles envolvidos.
O evento concluiu com uma dinâmica de grupo em que líderes comunitários, ativistas e os empreendedores dialogaram sobre maneiras de cooperar. “A gente não está jogando fora o lixo. O lixo está no planeta—nossa primeira casa“, enfatizou um participante do evento, referindo-se aos desafios ambientais causados pela produção dos resíduos. “O lixo não vai sumir. Ele vai apresentar um montão de problemas”.
Para enfrentar esses desafios, os participantes declararam sua dedicação em tornar a cidade e suas favelas mais limpas, mais sustentáveis e mais socialmente responsáveis.