Documentário ‘Voz Ecoa’ Destaca Projetos Comunitários de Sustentabilidade em Favelas

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No dia 11 de maio, o jornal comunitário e organização filantrópica Voz das Comunidades, do Complexo do Alemão na Zona Norte do Rio de Janeiro, lançou seu primeiro documentário em curta-metragem, o Voz Ecoa: Meio Ambiente e Sustentabilidade na Favela. Produzido pelo Voz das Comunidades e a Empresa Júnior da PUC-Riouma empresa de consultaria interdisciplinar gerida por estudanteso documentário busca destacar projetos de sustentabilidade nas favelas do Rio de Janeiro e ampliar a conscientização ambiental coletiva dentro dessas comunidades.

Em uma entrevista para o Voz das Comunidades, Gabi Coelho, uma liderança do projeto, disse que os produtores do filme queriam “mostrar pra essa galera qual a importância de trabalhar a pauta ambiental, de mover a nossa vida em prol do meio ambiente… Assim como em favela a gente trabalha com segurança pública por questões óbvias que é a violência, a gente também têm que trabalhar com o meio ambiente”. Gabi citou as hortas comunitárias, espaços verdes, e casas construídas de maneira mais eficiente como potenciais benefícios do ambientalismo para moradores de favelas.

O evento de lançamento aconteceu na Casa Voz, que funciona como sala de redação e espaço de coworking no Morro do Adeus do Complexo do Alemão. Gabi e a equipe da Empresa Júnior apresentaram o projeto e em seguida exibiram o documentário de 11 minutos em sua integridade para o público de moradores da favela, jornalistas, estudantes e organizadores comunitários que estavam presentes.

Os moradores das favelas em destaque no Voz Ecoa falam longamente sobre o impacto negativo do lixo e do saneamento inadequado em suas comunidades. Entretanto, o filme também serve como instrumento para impulsionar projetos locais de sustentabilidade como o Eco Maré, liderado por Juliana Oliveira, moradora do Complexo da Maré, na Zona Norte. Através da seleção e venda de materiais recicláveis descartados, a Eco Maré reduz a quantidade de lixo que se acumula nas ruas da favela.

De acordo com o Voz das Comunidades, o Eco Maré representa “como os projetos de favelas são potentes e podem melhorar a realidade dos territórios em que estão localizados”. Em Voz Ecoa, Juliana compartilha sua experiência como mobilizadora comunitária e discute os impactos prejudiciais do lixo na Maré, incluindo o saneamento deficitário e a falta de orgulho comunitário em relação aos espaços públicos. A Eco Maré busca abordar estes problemas, explica Juliana. “Nós entendemos que a educação tem poder transformador e então organizamos discussões e conversas cobrindo uma série de temas ambientais para o público em geral, incluindo crianças e jovens.”

Intercalado com a história de Juliana, o Voz Ecoa apresenta clipes de um biólogo da PUC que argumenta que a ação coletiva é importante para o ambientalismo porque “nenhum organismo, nenhum ser vivo é individual”. Os cineastas também incorporaram toques de narrativas metafóricas como imagens de atores rasgando embalagens plásticas de seus corpos para representar a comunidade se libertando do sufocamento do plástico e lixo. O Voz Ecoa termina com uma chamada à ação, incentivando o público a considerar a questão, “se não fizermos nada agora, o que vai acontecer com o meio ambiente?” e enfatiza que já que todos os humanos vivem no mesmo planeta, independentemente de qual região vivem, o “ambiente da favela também é seu ambiente” e portanto merece proteção e consideração igualmente.

Após a exibição, André Trigueiro, um jornalista e pós-doutor em administração ambiental na PUC, liderou uma conversa sobre meio ambiente e sustentabilidade em favelas. André enfatizou as ligações entre a sustentabilidade e outras questões como saúde pública, segurança, custo de vida, e saneamento. “Você não pode falar sobre sustentabilidade sem também falar de qualidade de vida”, ele disse ao público.

Recordando de um encontro com um líder comunitário na Rocinha, na Zona Sul, que forrou seu teto com caixas de leite refletivas para diminuir a temperatura de sua casa, André aplaudiu projetos sustentáveis simples com recursos locais. Usando água coletada da chuva para “limpar janelas, aguar jardins, e lavar Ubers e taxis”, disse André, é outra maneira simples de conservar recursos. “O meio ambiente começa com as pessoas”, ele disse, e os moradores das favelas deveriam saber que eles merecem ruas limpas, melhor qualidade de vida e espaços verdes.

André sugeriu que a educação ambiental pode se mostrar importante para melhorar a coleta de lixo e ação ambiental nas favelas, e afirmou que crianças podem conseguir ensinar seus pais “a não jogar lixo nas ruas”. Ele também encorajou moradores a abordar vizinhos que jogam lixo nas ruas e repreendê-los por seu comportamento ambiental irresponsável.

No entanto, alguns moradores de favelas presentes discordaram deste método, preocupando-se que pais não seriam receptivos a seus filhos os censurando, ou que moradores estariam arriscando sua segurança pessoal ao abordar pessoas desconhecidas na rua para pedir que peguem seu lixo do chão. André e os participantes no fim concluíram que mudanças na consciência ambiental nas favelas devem ser de natureza sistêmica e que outras questões sociais e políticas em favelas como as do Complexo do Alemão, tal como segurança pública, também devem ser tratadas como problemas ambientais.

O Voz Ecoa será exibido para crianças em escolas e será utilizado como instrumento educacional por organizações comunitárias em defesa de favelas por toda a cidade. O documentário será exibido no Museu do Amanhã e em outras favelas do Rio, Belo Horizonte e São Paulo.