“Os museus contam nossas histórias?” Essa foi a questão central abordada durante um painel intitulado “Museus, Territorialidade e Representatividade: Deixe eu contar minha história”, realizado no dia 22 de maio no Lab Oi Futuro, no Flamengo, Zona Sul. Como parte da 17ª Semana Nacional dos Museus—que teve como foco temático “Museus como Núcleos Culturais: O Futuro das Tradições”—o painel reuniu representantes da Rede de Museus do Estado do Rio de Janeiro, um ramo da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa; o Museu de Favela (MUF) do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho; o Museu Sankofa, na Rocinha; e o Grupo de Museologia Experimental e Imagem da UniRio, que trabalha com o Museu das Remoções na Vila Autódromo.
Além de seus 235 museus, o Estado do Rio de Janeiro abriga 21 Casas de Cultura, três institutos de pesquisa, oito centros de memória, dezoito centros culturais, quatro memoriais e dezessete parques mapeados pela Rede Estadual de Museus. A superintendente Lucienne Figueiredo afirmou que, em resposta a demandas por treinamento e recursos, a Rede de Museus do Estado promove oficinas e auxilia na circulação de coleções e na criação de novos museus, além de oferecer apoio a museus comunitários. Outros participantes do painel trabalham com museus comunitários e oferecem perspectivas de base sobre resistência e representação.
Representantes do Museu de Favela afirmaram que o trabalho do museu comunitário é uma iniciativa de base para criar conexões entre moradores e a cultura local do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (PPG). Ao estabelecer o MUF em 2008, eles queriam mudar a perspectiva de que favelas são algo negativo. Como tal, o museu se concentra em temas como a história da formação da favela, as origens culturais do samba e a migração do nordeste. Dos dezesseis fundadores do MUF, 13 são moradores da comunidade, incluindo Márcia Souza—engenheira de formação que hoje é uma “museóloga empírica” com uma década de experiência. Representando o MUF no painel, ela falou sobre os moradores de sua comunidade: “Não somos objetos de pesquisa, somos um laboratório”. Seu projeto favorito do MUF é o prêmio Mulheres Guerreiras, que reconhece mulheres que mantêm viva a memória e a cultura das favelas do PGG.
Os alunos da UniRio que trabalham com o Museu das Remoções da Vila Autódromo apresentaram o museu com um pequeno vídeo, que descreve que o Museu das Remoções é um museu de resistência destinado a preservar a memória, e que pode servir de modelo para outras comunidades em relação às causas de ameaças de gentrificação e remoções. O museu tem um alcance global. O exemplo mais recente foi o contato que organizadores do Japão fizeram com o Museu das Remoções antes das Olimpíadas de Tóquio em 2020. Alex Venâncio, estudante da UniRio, argumentou que todos os eventos Olímpicos têm um efeito de gentrificação. Ele disse que a representação no museu implica algo que não pode estar (ou que não está mais) presente. É o caso da Vila Autódromo: o espaço onde a comunidade permanece, mas os prédios originais desapareceram. O percurso a pé do Museu das Remoções reconhece 21 locais de memória que marcam os locais de casas e comércios locais demolidos.
Antônio Carlos Firmino, morador da Rocinha, iniciou sua apresentação sobre o Museu Sankofa afirmando que os direitos culturais são direitos humanos. Ele disse que os organizadores do museu procuravam evitar cometer erros frequentemente cometidos na documentação da história “oficial”—como apagar e negar certos aspectos da história. Um dos focos de Sankofa é a promoção de mutirões na comunidade. Ele mostrou fotos de mulheres realizando mutirões e afirmou que uma grande quantidade de trabalho—relacionado ao fornecimento de água e eletricidade em resposta a eventos climáticos extremos—é realizada principalmente por mulheres. Ele argumentou que é importante que os museus reconheçam o papel das mulheres no desenvolvimento das favelas. O museu Sankofa documenta a luta pelo saneamento básico na Rocinha, bem como outros eventos da história da comunidade—desde a construção da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, nos anos 1930, até a visita de um sheik nos anos 1980.
Os museus comunitários do Rio estão trabalhando para serem mais acessíveis a todos, incluindo deficientes visuais, ao coletar e compartilhar histórias orais. Márcia Souza, do Museu de Favela, afirmou que trabalha com emoção: devagar e sempre, com sorrisos e abraços, vai de porta em porta entrevistar moradores de sua comunidade. Márcia afirmou que o MUF está atualmente procurando voluntários para realizar entrevistas, no entanto, as atividades do museu foram recentemente dificultadas por intervenções policiais na comunidade. O museu Sankofa lida com desafios semelhantes. Para enriquecer suas coleções históricas com uma ampla variedade de perspectivas, Sankofa organiza o “Chá da Tarde no Museu”, convidando os moradores de longa data para falar sobre diferentes assuntos.
A troca descontraída continuou com refrescos após o encerramento do painel oficial. Com reconhecimento compartilhado, muito pode ser aprendido nos museus comunitários do Rio. Esses espaços de troca, de base, documentam a história e apresentam as questões de seus territórios enquanto mantêm um diálogo aberto dentro e entre comunidades.