Perfil de Mídia Comunitária: FavelaDaRocinha.com

Rocinha. Foto por Flávio Carvalho

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Esta matéria faz parte de uma série sobre veículos de comunicação comunitária

Por mais de dez anos, o site de notícias FavelaDaRocinha.com tem sido uma fonte importante de reportagens locais sobre a cultura da favela, eventos e projetos sociais inovadores para moradores da Rocinha, na Zona Sul do Rio, bem como para pessoas interessadas de outras partes da cidade e em todo o mundo.

Estabelecendo FavelaDaRocinha.com Como Referência

O FavelaDaRocinha.com foi iniciado por Leandro Lima, um jovem morador, que desde criança sonhava em se tornar jornalista e compartilhar histórias positivas sobre sua comunidade. “Hoje, tenho orgulho porque nos tornamos uma referência. Atualmente, existem muitos projetos de mídia comunitária que estão sendo criados na Rocinha. Todos os meses ouvimos um novo nome. Eles sempre pedem para explicarmos como foi no início e [para descrevermos] os desafios que enfrentamos, porque nós colocamos muito profissionalismo neste projeto”, diz Leandro.

Como morador da Rocinha, Leandro lembra que o único contato que teve com jornalistas antes de lançar o projeto foi durante momentos de conflito. “Infelizmente, os anos passaram e nada foi feito [para mudar a narrativa] porque a Rocinha sofria com a violência, o tráfico, mortes, tiroteios, drogas”—tipicamente os principais tópicos representados na cobertura da grande mídia sobre a comunidade.

Isso o levou a criar um blog online focado em notícias positivas e alternativas sobre a Rocinha durante seus primeiros anos como estudante de jornalismo, tornando-se gradualmente uma importante fonte para a mídia tradicional por reunir informações em primeira mão sobre a Rocinha. Com o crescimento do blog ele se transformou no site de notícias FavelaDaRocinha.com.

Ele começou a formar uma equipe com colegas, estudantes de jornalismo da Rocinha e de outras favelas, proporcionando oportunidades para que esses estudantes ganhassem experiência em campo, dada a dificuldade de obter estágios em grandes empresas de mídia. “A ideia era proporcionar uma oportunidade aos universitários das favelas”, diz Flávio Carvalho, que nasceu na Rocinha, também estudou jornalismo e que se juntou à iniciativa em 2009.

Características Especiais: Um Ponto de Vista de Dentro da Favela e de Projetos Sociais

Como moradores da Rocinha, os jornalistas do FavelaDaRocinha.com, estão familiarizados com a realidade local. Portanto, abordam seus trabalhos através de uma lente única, pois relacionam-se com outros moradores como colegas e navegam em questões complexas com nuances. “Já temos contato com as pessoas e já as conhecemos. Temos um certo nível de intimidade para pedir coisas específicas e podemos falar sobre essas questões com maior propriedade. Conhecemos suas experiências de vida—vemos, enquanto acontecem, as histórias dessas pessoas que estão envolvidas em atividades na Rocinha”, explica Flávio.

“Naturalmente, queremos ouvi-los porque também somos moradores. Ouvimos os moradores conversando em um bar ou na rua”, acrescenta Leandro.

Além de seu foco jornalístico, o FavelaDaRocinha.com trabalha para apoiar projetos sociais na Rocinha. Leandro relata: “Apresentamos pessoas que querem fazer a diferença. Tivemos até um coletivo de fotografia chamado ‘Fotografando FavelaDaRocinha.com’. Participamos de algumas exposições, incluindo uma na Biblioteca do Parque da Rocinha. O feedback de pessoas que antes não conheciam a Rocinha foi muito bom. Ver a [Rocinha] pelos olhos de um morador—é muito especial”.

Além de seus projetos sociais, o FavelaDaRocinha.com está ativo no Facebook diariamente, informando aproximadamente 14.850 seguidores—moradores e não moradores—sobre o que está acontecendo na Rocinha. Além disso, o grupo têm conta no Instagram, canal no YouTube e presença no Twitter com 10.300 seguidores. Leandro orgulhosamente descreve que o grupo usa tecnologias digitais como o Google Apps e o Dropbox para estruturar o trabalho em equipe.

Além da Reportagem

“Eu acho que o FavelaDaRocinha.com tem um grande potencial que também vai além das reportagens. Nós sempre produzimos algo. Estou sempre à procura de maneiras de melhorar e realizar mais”, descreve Leandro. Essa ambição fica ainda mais visível pela intenção de Leandro de planejar o FavelaDaRocinha.com com funcionalidades adicionais, incorporando elementos audiovisuais, para poder servir mais do que só como uma fonte de notícias. Como experiente operador de câmera da TV Globo, Leandro tem muitas idéias para projetos em campo.

O jovem estudante de jornalismo Eduardo Carvalho também trabalha para a Globo enquanto participa simultaneamente como membro da equipe do FavelaDaRocinha.com. A ambição de Edu como aspirante a jornalista impressionou seus companheiros de equipe, que o incluíram na iniciativa, quando ele tinha apenas treze anos de idade. Hoje, Edu se surpreende ao saber do alcance de seu trabalho para além das fronteiras brasileiras—evidenciado pela visita de um estudante nepalês que passou três meses na Rocinha para aprender sobre a iniciativa.

Além da ressonância global de seu trabalho, os jornalistas comunitários do FavelaDaRocinha.com visam impactar diretamente sua comunidade de maneira positiva. Isso inclui a criação de parcerias estratégicas com outras iniciativas locais e com formadores de opinião, influentes, na comunidade. Por exemplo, Leandro está convencido de que um evento “Você é o que lê”, realizado em fevereiro na Garagem das Letras, na Rocinha, contribuiu para a reabertura da Biblioteca Parque da Rocinha, que havia sido fechada há mais de um ano, em março. “Foi uma coisa pequena, mas deu confiança a grupos de artistas que são muito influentes aqui.”

Em última análise, a realização de todo o potencial das reportagens comunitárias depende do trabalho em rede e da colaboração entre veículos de comunicação comunitária. Para isso, o FavelaDaRocinha.com desenvolveu uma parceria com o Voz das Comunidades, uma iniciativa de jornalismo comunitário que começou no Complexo do Alemão, na Zona Norte, e desde então expandiu a cobertura para outras favelas por todo o Rio. Como resultado dessa colaboração, o FavelaDaRocinha.com começou a distribuir suas reportagens em formato impresso em pontos localizados por toda a comunidade, complementando sua plataforma online.

“A mídia está amadurecendo. [Grupos de mídia comunitária] estão crescendo e entendendo o que realmente significam para a sociedade. Não se trata apenas de informar. Nossa responsabilidade é muito maior”, conclui Leandro.

Para mais informações, acesse FavelaDaRocinha.com, ou acompanhe-o no Facebook, Twitter, Instagram ou Youtube.