Diversos levas de moradores da Favela Metrô-Mangueira, na Zona Norte do Rio, estão lutando contra às remoções desde novembro de 2010. O episódio de remoção mais recente começou na quarta-feira, 27 de maio, quando a prefeitura começou a demolir lojas e propriedades na favela sem aviso prévio.
Esse episódio é o mais recente de uma série de diversas remoções na comunidade, que já foi pega de surpresa com as demolições de propriedades anteriormente. A Favela do Metrô fica localizada próximo ao estádio do Maracanã, onde ocorreu a final da Copa do Mundo de 2014 e onde será realizada a cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016.
Na quinta-feira, 28 de maio, aconteceu um protesto de moradores, com apoio de estudantes da UERJ, contra as ações da prefeitura. Na sequência, ocorreram atos de violência, obrigando os moradores e estudantes a se esconderem enquanto a polícia usava gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Os estudantes documentaram a violência por meio de vídeos e publicaram no Facebook.
De acordo com o portal de notícias G1, três propriedades foram demolidas até agora, com a prefeitura declarando que elas estavam abandonadas e desabitadas. No entanto, os comerciantes e moradores da área afirmam que aproximadamente 100 empregos foram perdidos e algumas famílias foram removidas de suas casas por conta das demolições.
O comerciante Gustavo Duarte, 41 anos, afirma que a comunidade está em choque no dia de hoje, sexta-feira, 29 de maio. Ele afirma que, apesar das promessas de novos espaços para os comerciantes da área, todos receberam um aviso de retirada da permissão para operar no local. O aviso “não falava o motivo, mas nós recebemos dez dias para contestar”.
“As pessoas tentaram lutar contra a ordem [de retirada da permissão], mas a resposta que recebemos deles foi essa demolição”, explica.
Embora 80% das lojas ainda estejam em funcionamento, ele afirma que “a situação é tensa, a violência pode acontecer novamente, nós estamos preocupados”. O trânsito na área é caótico e a rua está sendo fortemente patrulhada pela polícia. Se todas as lojas forem retiradas, isso resultaria na perda de 500 empregos.
Gustavo acrescenta: “Eu gostaria de enfatizar que, em setembro de 2013, aconteceu uma reunião com o Prefeito Eduardo Paes na igreja evangélica da comunidade e ali ele afirmou que qualquer pessoa que morasse aqui teria uma casa, o que não aconteceu em todos os casos, e quem trabalhasse aqui continuaria a ganhar seu sustento na nova área comercial, o que não aconteceu. A resposta que nós recebemos das autoridades foi a demolição e é uma total falta de respeito com os trabalhadores e moradores desta comunidade”.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) foi até a área e está tentando ajudar os comerciantes e moradores.
Dentre as 700 famílias originais que ocupavam a Favela do Metrô e foram desalojadas há dois anos da comunidade, Eomar Freitas ainda continua operando seu bar na área comercial. Agora ele tem medo de perder sua fonte de renda e afirma que a prefeitura mentiu à imprensa ao dizer que os prédios demolidos estavam desocupados.
“Em 8 de maio, a prefeitura veio e perguntou quem tinha licença para operar aqui”, afirma ele. “Nos deram uma intimação para legalizar nosso negócio e pediram para que nós fôssemos até à prefeitura para regularizar nossa situação. Então, nesta semana, eles começaram a demolir tudo. Eles falam para a imprensa que estão demolindo propriedades vazias, e isso é mentira. E nós precisamos dar um jeito de pagar nossas contas. Meu bar funciona aqui há cinco anos. O Prefeito nos enganou, disse que haveria um local para nós trabalharmos, mas é uma mentira”.
Marcia, a irmã de um trabalhador que foi retirado de seu negócio para que ele fosse demolido, descreveu como a remoção aconteceu.
“Em poucos minutos, eles pediram para que ele saísse. Disseram: ‘Você tem alguns minutos para tirar suas coisas’, e por sorte nós somos unidos e nos juntamos para tirar toda a mercadoria. Meu irmão perdeu seu sustento, ele perdeu o emprego, ele é pai e agora não tem dinheiro para pagar a pensão. Eles estão fazendo tudo ao contrário do que foi prometido”.
Ela também disse que “precisaram tirar o dono de um lixão à força” para demolir outra propriedade que a prefeitura declarou que estava abandonada.
As promessas feitas às pessoas que trabalham nas lojas da área eram grandes. A prefeitura se comprometeu a construir um novo corredor comercial em uma área que, de acordo com o secretário municipal de habitação, Pierre Batista, “impactaria fortemente as pessoas, pois o comércio atualmente é feito de maneira precária. Agora, eles serão regularizados”.
O proprietário do bar, no entanto, está preocupado, pois não conseguirá alimentar seu filho de um ano se a prefeitura continuar removendo de forma forçada as pessoas da comunidade.
“Se ao menos o prefeito pagasse nossas contas, pois isto aqui é o meu sustento”, afirmou ele.