Na quarta-feira, dia 13 de maio, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) organizou uma mesa-redonda, que contou com a presença de Lucas Faulhaber (na foto acima, à direita), Maria de Lourdes Lopes (no centro, à esquerda), e Guilherme Boulos (à esquerda), para discutir questões relacionadas às remoções e à reforma urbana na cidade olímpica.
Lucas Faulhaber, juntamente com Lena Azevedo, é um dos autores do livro intitulado SMH 2016: Remoções no Rio de Janeiro Olímpico, lançado no mesmo dia do debate. Maria de Lourdes, por sua vez, é ativista e faz parte do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), e Guilherme Boulos é crítico e membro ativo do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Antes de ser iniciada a mesa-redonda, a moderadora Lia Rocha fez referência aos protestos que estavam ocorrendo fora do auditório, e explicou aos presentes que se tratava de uma manifestação contra o tratamento dado pelo Governo do Estado à Universidade, uma vez que muitos funcionários estavam sem receber seus pagamentos por seis meses. A moderadora ainda acrescentou que não iria se desculpar por tais protestos, pois o que o governo está fazendo, tanto à universidade como às vítimas das remoções, é considerado inaceitável em termos de direitos humanos.
Faulhaber foi o primeiro a se pronunciar, dizendo que a motivação do seu livro foi “a ideia de mostrar e denunciar o processo que está acontecendo. Não é só por causa da Copa do Mundo ou dos Jogos Olímpicos, este é um processo recorrente na história do Rio”. Faulhaber também demonstrou o seu descontentamento com a mídia, apontando como a questão das remoções quase não vêm ganhando visibilidade na mídia, além de criticar a mídia dominante por apenas mostrar [favelas] quando há mortes envolvidas, e não quando ocorrem outros problemas. A ele, irrita saber que “todos os dias no Globo estão exigindo que deveriam remover mais pessoas”.
Maria de Lourdes Lopes se pronunciou com veemência, dizendo que estava feliz com a pesquisa de Faulhaber, mas que isso não era suficiente: “O impacto [de pesquisas como essa] que a gente sente é quase nenhum. Cada vez está pior na Vila Autódromo, cada vez somos menos… Nossos gritos não são ouvidos”.
Boulos, o último palestrante, acompanhou a declaração de Maria de Lourdes Lopes. Na opinião do crítico, “nós vivemos em uma crise urbana. Somos ensinados a achar que o crescimento econômico é bom, no modo capitalista, mas tem efeitos colaterais antipopulares… A valorização das terras e o aumento de aluguel cria segregação e gentrificação e expulsa os pobres das regiões centrais para novas periferias”.
Ele prosseguiu discutindo como a especulação imobiliária e a polícia têm ajudado a criar uma verdadeira política de exclusão. De acordo com Boulos, “a especulação do mercado imobiliário tem um componente militar, que exclui o pobre de certas regiões. A especulação imobiliária tem se aproveitado das UPPs. Através da perspectiva de fora e da nossa, isso tem levado a uma política de extermínio da vida de jovens negros nas periferias e nas favelas da nossa cidade”.
Boulos propôs várias soluções aos problemas causados pelas remoções e pela gentrificação, como um monitoramento a nível governamental do mercado imobiliário, de forma semelhante aos modelos praticados nos Estados Unidos e na Europa. Ele também propôs uma política de alocação social em que o programa federal de habitação Minha Casa Minha Vida subsidiasse as famílias, permitindo que elas ficassem próximas de suas casas originais em vez de empurrá-las para periferias. Na opinião dele, enviar famílias para periferias é uma má opção de investimentos que impede o crescimento das comunidades.
Após os palestrantes concluírem as suas falas, abriu-se um espaço para o público fazer perguntas e dar depoimentos. Uma jovem chamada Mariana compartilhou a história de como foi forçada a sair de sua própria casa, da mesma forma que havia ocorrido com outras pessoas que ela conhecia. À medida que mais e mais pessoas se levantaram à frente da mesa de debate e compartilharam as suas experiências pessoais, ficou claro como esse tópico é traumatizante para os muitos afetados. Maria de Lourdes Lopes resumiu todas as declarações: “Eu não quero outra casa, eu quero a minha casa”.