Educadores Ambientais Discutem Iniciativas nas Favelas do Rio [VÍDEO]

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No dia 4 de agosto, educadores ambientais e ativistas, cujos trabalhos acontecem em favelas ao redor da Zona Norte do Rio, participaram de um debate, em uma live no Facebook e no YouTube, falando das próprias atividades e dos novos desafios apresentados pela pandemia do coronavírus. O evento foi organizado pelo Baía Viva, um grupo de defesa ambiental focado na manutenção da Baía de Guanabara. Todos os participantes disseram que o envolvimento de moradores de favelas, com questões ambientais em suas próprias comunidades, era essencial, justamente porque tais questões tocam em todos os aspectos de suas vidas, incluindo nutrição, saúde, moradia, bem-estar geral e segurança pública.

O debate foi moderado por Sérgio Ricardo, ecologista e fundador do Baía Viva. Os palestrantes foram Edson Gomes, co-fundador do Verdejar, uma organização que promove desenvolvimento socioambiental sustentável no Complexo do Alemão, e na floresta no seu entorno, a Serra da Misericórdia, Zona Norte; Leonardo Bueno, um ativista de Manguinhos, Zona Norte, na Frente Popular Favelas pela Democracia; Julia Rossi, coordenadora do projeto Maré Verde, da organização Redes da Maré, na Zona Norte; Jocelino Porto, coordenador do Núcleo Ecológico Pedras Preciosas (NEPP), baseado no bairro Honório Gurgel, Zona Norte; e Maria do Carmo, Presidente da Cooperativa Quitungo, uma organização em Brás de Pina, Zona Norte, que trabalha em defesa do meio ambiente e da reciclagem.

A participação democrática por parte dos moradores é crucial, eles argumentaram. Julia Rossi ainda adicionou que somente os moradores podem entender suas próprias realidades e desafios, dizendo que todos os ativistas deveriam se perguntar: “Como é que a favela conta suas próprias lutas ambientais?

Indo pela mesma linha, Edson Gomes disse que também é importante se libertar da narrativa típica que a imprensa divulga a respeito das favelas, ao retratá-las como um problema e uma terra sem lei. Ele enfatizou que as pessoas não devem cair na armadilha de achar que “a culpa é de quem mora nas comunidades… É muito importante a gente não culpabilizar a pobreza“.

Sérgio Ricardo acrescentou que ver os pobres como culpados é uma forma de racismo socioambiental que prevalece no modo com que as cidades veem as favelas.

A educação ambiental tem exercido um papel bem importante na mobilização de moradores para participarem de mutirões de limpeza, ajudando reduzir a poluição e o lixo, disseram os palestrantes. Para Maria do Carmo, “[Como moradores de favela] a gente ve a necessidade que tem de [fazer] limpeza nos rios, especialmente no Rio Quitungo“, que passa por Brás de Pina, onde Maria do Carmo nasceu.

Um dos métodos fundamentais de educação ambiental, para moradores de favelas, começa nas escolas. No entanto, Jocelino Porto, envolvido na causa desde 1992, lamentou que no governo do Prefeito Eduardo Paes foi mais difícil para os ambientalistas se engajarem com as escolas. “A escola nos afastou, e a gente não queria isso“, ele disse.

Durante a pandemia, muitos grupos ambientalistas entraram em atividades no combate ao coronavírus, e os palestrantes enfatizaram a conexão entre o trabalho ambiental e a promoção da saúde pública. Júlia disse que a pandemia deixou ainda mais clara a importância de uma oferta básica de segurança alimentar e boas condições sanitárias a longo prazo.

Apesar de tantos desafios, os palestrantes manifestaram otimismo ao dizerem que estão fazendo o melhor possível dadas as presentes condições. “Temos que ver como o que hoje é visto como problema, pode virar oportunidade para as comunidades“, disse Edson.

Pegando o embalo da busca por oportunidades, Jocelino fez um convite, pedindo para que as pessoas plantem uma árvore durante a Semana Nacional da Árvore, que começa no dia 21 de setembro. Ele argumentou que mesmo ações pequenas e individuais–como plantar uma árvore–podem ser um passo significativo na direção certa.

Nos últimos minutos do evento, o músico e educador ambiental Bhega Silva—do Parque União, na favela da Maré—e sua filha Thaina se juntaram e fizeram uma apresentação ao público. Sendo ativistas, muitas de suas canções abordaram o meio ambiente e o empoderamento da favela, demonstrando o potencial da música como uma ferramenta educacional para aumentar a consciência sobre as questões ambientais no Rio.

Assista ao debate aqui:


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