Este minidocumentário faz parte da série de matérias do projeto antirracista do RioOnWatch e também de uma parceria com o Núcleo de Estudos Críticos em Linguagem, Educação e Sociedade (NECLES), da UFF, para que seja utilizada como um recurso pedagógico em escolas públicas de Niterói. Conheça o nosso projeto que traz conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021: Enraizando o Antirracismo nas Favelas. Para contribuir com essa pauta, clique aqui.
Mesmo diante da ADPF 635, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu as operações policiais em favelas do estado do Rio de Janeiro durante a pandemia, em 19 de agosto de 2020, houve a ocupação militar do Complexo de Viradouro, em Niterói, cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A pedido da Prefeitura de Niterói, que realizava obras no local, a Polícia Militar invadiu e ocupou o território de maneira definitiva, inclusive com a instalação de cabinas blindadas fixas da PMERJ nas comunidades.
Relatos de abusos, truculência, agressões, invasões de casas de moradoras e moradores e de prisões arbitrárias—padrão recorrente da Política Militar em Niterói—começaram a se acumular e as moradoras do Complexo decidiram agir: fizeram faixas #LardeMoradoraRespeite e penduraram nas casas, para dissuadir novas invasões e abusos. Além disso, as mulheres negras do Viradouro retomaram suas ruas e becos tocando instrumentos de percussão, declamando poesias e gritando: “Respeito! Respeito! A favela é nossa! Respeito! Respeito! É lar de moradora!”. Uma contra-ocupação cultural e artística, no melhor estilo “nós por nós”, chamada inicialmente de “A Gente Pela Gente” e depois de Ocupação Cultural Artística do Viradouro (OCA).
Com a continuação das violações, no dia 12 de junho de 2021, a OCA realizou um evento para protestar contra novos abusos sofridos por moradores do Morro do Africano, uma das favelas do Complexo do Viradouro. Desta vez, suas faixas #LardeMoradoraRespeite, penduradas em suas portas e janelas, foram esfaqueadas ou retiradas pela Polícia Militar durante uma operação à noite.
Além disso, houve também a prisão ilegal de Luiz Henrique Nunes. Negro e trabalhador, era operário das obras da prefeitura no Complexo do Viradouro, onde também morava. Segundo sua família, policiais militares invadiram sua casa e forjaram provas para sua prisão. As irmãs Tainá Nunes e Cláudia Nunes tentam a todo custo provar a inocência de Luiz Henrique, mas até agora, ele segue preso.
Novamente, entoando frases pedindo respeito, moradores ocuparam artisticamente as ruas de suas comunidades com música e poesia de protesto. Pregaram placas #LardeMoradoraRespeite nos muros e portões de moradoras, para tentar evitar que esses símbolos de protesto sejam rasgados de novo.
Além da contra-ocupação cultural e artística, OCA fez um abaixo-assinado pela liberdade de Luiz Henrique Nunes, articulações com mandatas de Niterói, com a OAB, e promoveu rodas de conversa com a comunidade. Ainda neste dia 12 de junho, houve o lançamento da cartilha “O Que Fazer em uma Abordagem Policial?”, iniciativa da OCA e do mandato da vereadora Walkíria Nictheroy.
O ato terminou com um cortejo do Morro do Africano até o Ponto 53, ao som de tambores e com declamação de poesias pelos becos.
Assista o Minidoc por Eloanah Gentil Aqui.
Sobre a autora: Eloanah Carolina Gentil é moradora do Morro da União, no Complexo do Viradouro. É mãe, mulher preta favelada, produtora cultural pelo IFRJ, integrante do colegiado gestor do Centro de Teatro do Oprimido (CTO/RJ), multiplicadora da Rede Magdalena Internacional Teatro das Oprimidas, artivista da luta antirracista, curinga do Coletivo Madalena Anastácia e bacharel em administração pela Universidade Estácio de Sá.
Essa matéria é parte de uma série de matérias do projeto antirracista do RioOnWatch. Conheça o nosso projeto que traz conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021: Enraizando o Antirracismo nas Favelas. Para contribuir com essa pauta, clique aqui.