Nos últimos cinco anos, Irenaldo Honório da Silva, presidente da Associação de Moradores do Pica-Pau, em parceria com a Prefeitura e entidades sociais, tem ajudado a organizar um dia de entretenimento na sua comunidade situada na Zona Norte do Rio. O último evento que ocorreu no dia 25 de maio, começou como uma iniciativa para fortalecer a cultura local e a ação coletiva, combinando a celebração do Dia do Trabalhador com o Dia das Mães. Desde a realização de uma parceria com a igreja local, o evento ocorre três vezes por ano para os moradores de Pica-Pau, aumentando o reconhecimento da comunidade pelas autoridades locais.
Famílias se misturando ao redor do palco de música, crianças abrindo seus pacotes de lanche e agentes de saúde distribuindo escovas de dente grátis contradizem a realidade de uma área historicamente carente de serviços públicos. Reunidos em uma quadra de concreto na entrada do bairro, Irenaldo explica o pano de fundo das casas de tijolo. A maioria destas casas, ele explica, foi construída pelos próprios moradores e há algumas estruturas precárias que estão em risco de desabar. Um carro queimado interrompe a série dos vários estandes à sombra ao redor da quadra, insinuando o lado mais sombrio da vida na comunidade Pica-Pau. O crack é uma grande ameaça para a juventude aqui, de acordo com o religioso Sebastião da igreja Semear de Brás de Pina. “A maior alegria para nós é ser capaz de levar os jovens para fora do ciclo das drogas e do desemprego, para vê-los limpo e com esperança sobre o futuro”, disse ele, passando a descrever o programa de reabilitação da igreja, estabelecido por meio da colaboração com a Associação de Moradores.
O evento é ao mesmo tempo prático e simbólico. A presença de agentes de controle de animais possibilitou aos moradores a chance de vacinar os seus gatos e cachorros contra a raiva, enquanto o crescimento na participação reflete o vibrante engajamento da comunidade e a melhoria na provisão de serviços municipais. Órgãos públicos, como o DETRAN estavam agindo para agilizar a papelada para os moradores que não possuem documentos formais, bem como estavam presentes o SESC, e a COMLURB que é responsável pela coleta de lixo. A Clínica da Família, criada há dois anos, tem intensificado gradualmente a presença dos agentes comunitários de saúde na comunidade e eles aproveitaram o evento para promover exames de mamografia no local. Apesar de um melhor acesso à saúde pública, os moradores também contam com ONGs locais para o fornecimento de assistência médica, juntamente com médicos munidos de estetoscópios e monitores de pressão arterial. Alguns membros da igreja se tornaram defensores abertos da mudança, indo além das atividades religiosas para unir forças com a Associação de Moradores e convidar os trabalhadores para participar do movimento.
Apesar de progressos terem sido feitos para levar os serviços para a região de Pica-Pau, o alarme falso da assistência do governo reforça a necessidade de soluções lideradas pela comunidade que não dependam dos fracos comprometimentos das autoridades. Um caso notável é o programa Morar Carioca, uma medida que visa a urbanização completa das favelas do Rio de Janeiro até 2020, que passou por várias fases de reuniões com os moradores para projetar intervenções financiadas pelo governo que melhorariam a qualidade de vida da região. Esta ambiciosa iniciativa municipal foi elogiada como um primeiro passo como estratégia de planejamento participativo e aumentou as esperanças entre moradores, até que o financiamento foi cortado alguns meses atrás. Isto deixou os moradores sozinhos para lidar com os problemas graves de saneamento, infra-estrutura e problemas de saúde, e um futuro incerto para grandes planos. Enquanto isso, um agente que representa o gabinete de projetos da Casa Civil do Sub-Prefeito estava presente para encontrar maneiras de fornecer apoio às organizações locais.
Quando perguntado sobre a importância deste evento, Irenaldo acena para as crianças que estão claramente se divertindo em um pula-pula, hipnotizadas pela performance de um palhaço e correndo com picolés. “É para eles”, ele diz, “de outra maneira eles nunca teriam essas coisas”. O impacto mais duradouro, no entanto, vem do contínuo esforço que ele e outros ativistas investem na garantia de serviços públicos e as relações entre os grupos comunitários. Refletindo mais um minuto sobre o que o próximo ano traria, Irenaldo acrescenta, “o que realmente queremos é o Morar Carioca”.