A Vitória de Herdeiras de Marielle nas Eleições do Rio de Janeiro

Arte por Rafael Moura
Arte por Rafael Moura

Click Here for English

O cidadão fluminense foi surpreendido na noite de 2 de outubro. Ao menos, aqueles que acreditaram nas pesquisas de intenção de votos. A margem de erro foi muito além dos nove pontos percentuais previstos por alguns institutos de pesquisa. Com 58,67% dos votos válidos, o Claudio Castro (PL), foi reeleito governador já no primeiro turno das eleições, frente ao adversário Marcelo Freixo (PSB), que teve 27,38%; Rodrigo Neves (PDT) teve 8% dos votos válidos. No entanto, apesar deste resultado—de manter um integrante da extrema direita no cargo de governador—a bancada progressista na Alerj cresceu.

Nestas eleições foram reeleitas representações políticas faveladas e negras, entre elas a mulher mais votada do Rio de Janeiro e terceira parlamentar com mais votos, Renata Souza (PSOL-RJ). A deputada estadual conseguiu obteve 174.132 votos, praticamente triplicando sua votação em relação à eleição passada, em 2018, na qual teve 63.937 votos. 

Cria do Complexo da Maré, jornalista e doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, Renata tornou-se um dos principais nomes políticos em defesa dos direitos humanos e na luta contra o extermínio da população negra, a violência policial nas favelas e as milícias. 

“A política que construímos em defesa da vida e direitos do povo negro e pobre das favelas, da população LGBTIA+, da juventude, do povo de axé, do interior do estado e das mulheres foi o que me fez a mulher mais votada da ALERJ. Nunca foi fácil ser oposição, mas foi pra isso que fui eleita!”, afirmou em entrevista a O Dia

Antes de ser parlamentar, Renata Souza (PSOL-RJ) era assessora da Vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), sendo considerada uma de suas sementes. E também trabalhou em todos os mandatos de Marcelo Freixo quando ele era deputado estadual.

Dani Monteiro (PSOL-RJ), cria do São Carlos, também foi reeleita com mais de 50.000 votos. Negra, cotista da UERJ, ela preside a Comissão de Direitos Humanos na ALERJ. Também trabalhou no gabinete de Marielle Franco como assessora. 

Porém, Monica Francisco (PSOL-RJ), outra assessora de Marielle, eleita após o assassinato da vereadora, não foi reeleita, o que diminui a representação negra, feminina e feminista na bancada do PSOL na ALERJ. Com 23.831, ela não atingiu o coeficiente eleitoral mínimo, mas segue com mandato até a posse da nova Câmara Legislativa. Cria do Borel, liderança comunitária da favela, ela afirmou que seguirá “na luta para ocupar tudo com trajetórias, histórias e ancestralidades, porque as mulheres negras, somos o alicerce desse país”. 

Por outro lado, foi eleita a primeira deputada estadual transexual, Dani Balbi (PCdoB). Primeira professora trans da UFRJ, a doutora em ciência da literatura foi eleita com mais de 65.000 votos, postando em seu Instagram: 

“Eu ainda não tenho palavras para dimensionar o quanto estou feliz por termos alcançado esse marco na história do nosso estado. Posso ser a primeira, mas nosso caminho a partir de hoje vai ser trilhado para que dezenas de nós, mulheres trans, possam ocupar o mesmo espaço que eu daqui pra frente. A gente vai pintar a ALERJ de povo!”

A eleição dos vereadores Chico Alencar (PSOL-RJ) e Tarcísio Motta (PSOL-RJ) para deputado federal redesenhou a bancada do partido na Câmara Municipal do Rio, a partir de suas substituições. Em 2023, as suplentes Luciana Boiteux, professora de Direito Penal e Criminologia da UFRJ, e Mônica Cunha, fundadora do Movimento Moleque, serão empossadas como vereadoras. A posse de Mônica Cunha como vereadora é importante pelo significado da sua representação: defensora dos direitos humanos, perdeu seu filho para a violência policial e integra a Rede de Mães e Pessoas Vítimas de Violência Estatal ou Policial.

Outro destaque é a eleição de Verônica Lima. Ela é vereadora de Niterói, a primeira mulher negra a assumir o cargo na história da cidade. Com Verônica, a bancada feminina na ALERJ vai ocupar 15 vagas, três cadeiras a mais em relação à última eleição.

O PSOL conquistou cinco cadeiras na ALERJ e o PT aumentou o número de parlamentares do partido para sete, cinco a mais do que o pleito anterior, em 2018.


Apoie nossos esforços para fornecer apoio estratégico às favelas do Rio, incluindo o jornalismo hiperlocal, crítico, inovador e incansável do RioOnWatchdoe aqui.