No Dia Mundial da Água, 22 de março, a Rede Favela Sustentável (RFS), Painel Unificador das Favelas (PUF)*, Núcleo de Educação Popular e Social em Economia Solidária (NESPES), Associação de Mulheres de Edson Passos e Adjacências (AMEPA) e Associação Centro Social Fusão, realizaram o lançamento do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação—Mesquita: Coreia, Cosmorama e Jacutinga“. O evento contou com um público aproximado de 100 pessoas e transmissão ao vivo no site da Prefeitura de Mesquita.
Estiveram presentes moradores das comunidades pesquisadas, a Coreia, Cosmorama e Jacutinga, e também a maior favela de Mesquita: Chatuba. O evento contou com representantes da Defesa Civil, Instituto de Defesa do Consumidor de Mesquita (Procon), Centro de Referência de Assistência Social de Mesquita (CRAS), Secretaria Municipal de Saúde de Mesquita (SEMUS), e organizações sociais e religiosas, entre elas a Casa Fluminense e a Igreja Batista da Chatuba. O evento aconteceu no auditório da Prefeitura Municipal de Mesquita.
Os organizadores do lançamento construíram e participaram do curso, em 2022, “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, resultando na pesquisa realizada em 15 comunidades de cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, dentre elas, Mesquita.
Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da Rede Favela Sustentável, abriu o evento contando um pouco sobre a RFS e a programação do dia. Ela compartilha que:
“A Rede Favela Sustentável é uma rede articulada de lideranças comunitárias, moradores de favelas e aliados técnicos que atuam em prol da resiliência socioambiental das favelas do Rio de Janeiro. A Rede Favela Sustentável durante a pandemia entendeu a necessidade de se levantar dados, monitorar dados sobre a [Covid-19 na] favela. Então surgiu uma conversa coletiva, lideranças comunitárias que [construíram o que se tornaria o] Painel Unificador. [Mais tarde, levantaram] quais eram [outros] dados de grande importância para [serem coletados] nas suas comunidades e água e luz… [foram entre as] informações mais importantes… A ideia do Painel Unificador das Favelas… [é que] comunidades poderem levantar e serem agentes desses dados.”
Por que Água e Luz? Qual a Relação?
No relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação—Mesquita: Coreia, Cosmorama e Jacutinga”, Amanda O’Hara, do Instituto Clima e Sociedade, afirma que “a energia e água são dois recursos intrinsecamente dependentes. Especialmente no Brasil e, especialmente, em comunidades de baixa renda”. Ela ressalta que, com a crise hídrica em 2021, os brasileiros tiveram que lidar com um salto nas contas de luz, além da falta de chuvas que reduz o nível de água nas barragens, “diminuindo a disponibilidade de água nas usinas hidrelétricas para gerar eletricidade.”
Além da falta d’água, o relatório registrou problemas graves de qualidade da água, os constantes alagamentos, vazamentos e descaso da concessionária quanto a uma assistência de qualidade. De igual modo, o valor elevado da conta de luz gera uma consequência direta na alimentação e qualidade de vida das famílias, que também sofrem com descaso e apagões. Os dados demonstraram, também, que quando falta água, ela demora para voltar.
Os jovens Luiz Miguel Ribeiro e Matheus Botelho, integrantes do NESPES, moradores da Coreia e os pesquisadores responsáveis pela coleta de dados no território, abriram a apresentação dos dados, lançando perguntas para a plateia sobre suas realidades com a falta d’água e luz, o que impulsionou relatos e manifestações dos presentes. Os dados apresentados contemplavam perfis demográficos, acesso a água, qualidade da água, eficiência da água, acesso de luz, qualidade da luz e eficiência da luz.
“Em cada comunidade, entrevistou-se por volta de 75 pessoas, então, nossa pesquisa não reflete a comunidade como um todo. Ela busca dar uma ideia da situação e agregar as demais comunidades e mostra um panorama da nossa região metropolitana. A grande maioria dos entrevistados… foram mulheres… e a maioria dos entrevistados [se autodeclararam] negros, que para o IBGE são pretos e pardos, [mostrando] que a maioria dos afetados pelos dados… é negra.” — Matheus Botelho
Ao perguntarem para a plateia sobre a qualidade da água, Sabrina Moreira, moradora da Coreia, comentou que “a água tem lodo, cor amarelada, quando acaba a água, ela volta cheia de barro”.
Outros dois jovens participantes da pesquisa compartilharam a experiência com o levantamento de dados. Matheus Edson, de Rio das Pedras, falou sobre problemas, que não devem ser normalizados, relacionados a água, energia, injustiça social e ambiental. Janyne Lima, de Itacolomi, Ilha do Governador, explicou como foi o trabalho em campo, e as escutas a partir dele, como relatos de pessoas que tiveram que comprar o próprio poste de luz e outras sem água encanada em casa ou que não possuem reservatório de água.
Muitos moradores da favela da Chatuba compartilharam os mesmos problemas de contas altíssimas de luz e da falta d’água. O morador Maurílio Costa compartilhou meios de economizar:
“Eu acho um absurdo cobrar trezentos e sessenta e seis reais de água numa comunidade que… quando cai água, [por exemplo] hoje é quarta-feira, dia de cair água, aí o que eu faço? Encho a cisterna e fecho o hidrômetro. Na quarta-feira seguinte eu não pego água, porque já tenho na cisterna.”
Zeca Pereira, morador da Chatuba, relatou: “desde que a Águas do Rio assumiu, nós temos um problema que já tínhamos com a CEDAE e dobrou”. Luiz Simplicio comentou sobre o seu Ivan, morador da Chatuba, ficar 24 horas com sua bomba ligada abastecendo a comunidade, de forma voluntária, pois a Águas do Rio foi lá e ignorou os problemas relatados pelos moradores.
As mobilizadoras comunitárias Tânia Alexandre da Silva, coordenadora do AMEPA, Ana Leila Gonçalves, coordenadora do Centro Social Fusão e Laurinda Soares, coordenadora do NESPES, compartilharam sobre o protagonismo da juventude, convocaram os moradores a se engajarem mais, comentaram sobre a continuidade das ações que foram iniciadas, além de trazerem propostas de articulações e integração do poder público com os profissionais de dentro das favelas.
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*A Rede Favela Sustentável (RFS), o Painel Unificador das Favelas e o RioOnWatch são projetos da Comunidades Catalisadoras (ComCat)