O Vale Encantado, uma favela tranquila no meio da Floresta da Tijuca, desenvolveu uma solução criativa para assegurar o futuro desenvolvimento da histórica comunidade tendo em conta os investimentos públicos limitados: moradores vêm trabalhando para criar um modelo de sustentabilidade para favelas do Rio e para além do Rio.
O Vale Encantado tem sido um modelo de sustentabilidade por muitos anos e seus esforços estão constantemente se expandindo. A comunidade cultiva muitos dos seus alimentos e instalou painéis solares em uma casa com a esperança de expandir o projeto por toda a comunidade. A Cooperativa do Vale Encantado, liderada por Otávio Barros, gere um negócio de eco-turismo, aproveitando a sua localização entre o cenário maravilhoso da Floresta da Tijuca.
Além dos aspectos sustentáveis de longa data, o Vale Encantado tem várias iniciativas novas para continuar desenvolvendo a comunidade como um modelo de vida em harmonia com o meio ambiente.
Uma iniciativa recente de sustentabilidade inclui jardins nas coberturas das casas construídos com materiais que sobraram de outros projetos de obras.
Outra iniciativa é o Festival Encantado, um festival anual com música, comida e moda, que começou em 2012 e este ano já teve como artista principal Criolo. O festival, que ajuda a aumentar a conscientização sobre as iniciativas do Vale Encantado, foi enfeitado com materiais reciclados e tem usado transporte coletivo para levar os convidados até o festival, diminuindo assim a pegada de carbono.
A comunidade também vem desenvolvendo maneiras de reciclar vidro, evitando que grandes quantidades de vidro sejam jogadas fora, transformando sucata de vidro em produtos como bijuterias e louças que podem ser vendidos. Não só é bom para o meio ambiente, como essa iniciativa também cria oportunidades de empregos justos para os moradores da comunidade.
Futuros projetos incluem a construção de uma sede para a Associação de Moradores, com planos para construir um prédio em grande parte com materiais reciclados.
Há muitos anos, como parte do seu esforço para se tornar um modelo sustentável, o Vale Encantado vem trabalhando para melhorar o sistema de esgoto usando técnicas ecológicas. Como muitas favelas, o Vale Encantado não tem um sistema de saneamento, o que vem sido citado como um dos maiores problemas da comunidade. Em 2009, a comunidade iniciou a pesquisa para a eventual implementação de um biodigestor que captura o gás gerado por restos de esgoto e alimentos e transforma em energia utilizável, o que ajudaria a filtrar e limpar águas residuais e o esgoto antes que escoe na Lagoa da Tijuca.
Em 2011, com o apoio da ONG Instituto Ventura, a empresa de consultoria ambiental EcoFocus conduziu uma pesquisa sobre as possíveis maneiras de endereçar as necessidades de saneamento da comunidade. Suas recomendações também incluíam a implementação de um biodigestor para lidar com esgoto e resíduos alimentares no Vale Encantado.
“A minha ideia sempre foi a de ter o Vale como modelo e isso poder ser replicando em outras áreas ou regiões”, diz Otávio. Embora a comunidade venha querendo melhorar o seu sistema de saneamento e construir um biodigestor há anos, a falta de recursos financeiros tem sido um grande obstáculo.
Este julho, a comunidade recebeu notícias empolgantes sobre a possibilidade de implementar um biodigestor no Vale Encantado. Solar Cities Solutions, uma ONG internacional que foca em soluções sustentáveis para problemas de infra-estrutura, visitou o Rio de Janeiro com planos para a implementação de biodigestores em comunidades do estado do Rio e idealmente em todo o Brasil.
Otávio conclui: “Acho que esta iniciativa iria trazer mais turistas para o Vale e eu poderia divulgar a possibilidade de tomarem banho na cascata do Vale, hoje impossibilitada para tomar banho”. O que ocorre por causa da atual quantidade de esgoto não tratado que escoa para os leitos d’água.
Enquanto a comunidade tem um interesse ético em ser sustentável, Otávio espera que servir como um modelo de sustentabilidade terá também a vantagem de combater as ameaças de remoções que têm sido feitas há anos contra as comunidades na área do Alto da Boa Vista.