Vozes da Vila Autódromo: José Arimateia, o Padeiro

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Em 1986, o recém-casado José Arimateia se mudou para a Vila Autódromo para comprar sua primeira casa e começar uma família. José se mudou da casa dos seus pais em Vila Sapê, uma comunidade vizinha, embora tenha nascido na Paraíba. Ele e sua esposa, Maria das Dores Catanduba de Andrade, foram os primeiros de suas famílias a se mudarem para a Vila Autódromo, uma pequena favela na Zona Oeste do Rio que escolheram por sua segurança e tranquilidade. Hoje, 27 anos depois, seu sucesso e felicidade atraíram uma dúzia de parentes para a sua amada comunidade.

Quando José se mudou para a Vila Autódromo, ele começou a assar pão que vendia de sua casa como uma forma de renda. A padaria era pequena e informal no começo, mas ele explica que conforme os anos foram passando “ficou crescendo, crescendo, crescendo… tem crescido de uma forma que faz que fique com medo”. Hoje em dia, ele atende 700 fregueses por dia e tem seis trabalhadores remunerados. Seu negócio atrai gente de fora da Vila Autódromo, de bairros e locais de trabalho na área. Com o rendimento de seu negócio caseiro José comprou uma casa com quatro quartos e três banheiros na rua ao lado para ele e sua família. Enquanto José, Maria e seus três filhos moram em uma casa, a irmã de Maria, seu marido e dois filhos ocupam outra casa no mesmo endereço. A mãe de Maria mora em uma terceira casa no mesmo terreno. A irmã de José mora com sua família em cima da padaria. Não é preciso dizer que, entre 1986 e hoje, a família Catanduba Andrade Arimateia criou raízes profundas na comunidade Vila Autódromo.

Porém José não menciona o tamanho de sua casa ou o carro que pôde comprar depois de anos de poupança como símbolos do seu sucesso. Quando perguntado o que considera como um indicador do seu sucesso, ele se vangloria com um sorriso, “Hoje em dia pago duas faculdades aqui, né?”. Sua filha Danielli de 22 anos estuda Educação Física na Universidade Estácio de Sá, e seu filho Pablo Diogo de 24 está se preparando para terminar Farmacologia na UNISUAM em junho. O sorriso de José e o fato de ele citar a educação de seus filhos várias vezes numa conversa de uma hora mostram o imenso orgulho que sente ao investir o seu rendimento, fruto de seu trabalho árduo, nos estudos de seus filhos. Ele espera que possa fazer o mesmo quando chegar a vez do seu filho Danilo, de três anos. Mas seu filho mais novo pode estar crescendo em tempos muito diferentes.

Com a Vila Autódromo mais uma vez correndo o risco de ser removida completamente pela Prefeitura, José teme que tudo para o qual trabalhou seja demolido em breve, sob o pretexto de preparar a cidade para as Olimpíadas de 2016. Ainda sim, ele se recusa a imaginar seu futuro nas casas do reassentamento Parque Carioca, para onde a Prefeitura pretende transferir os moradores. José explica, “É uma coisa que nem passa na minha cabeҫa porque eu fico acabado de cair”. O contrato de reassentamento proíbe moradores de gerir negócios em casa. Isso quer dizer que em caso de remoção, José não só perderia sua casa e seus clientes fieis, mas também seu meio de sustento. Ele lamenta, “Acaba o meu trabalho, acaba com minha vida! Não tenho outra fonte de renda, minha fonte de renda é aqui… Tenho 49 anos e na sala de trabalho, há pouca gente que vai dar emprego a uma pessoa dessa idade, né? Com uma idade assim fica muito difícil!”

Entretanto, a pior conseqüência da remoção para José não seria perder a padaria, mas antes o fato de não ser mais capaz de pagar pela educação de seus filhos. José explica, “Hoje em dia pago duas faculdades aqui, né? Se saio, como vou fazer… pagar as faculdades dos meus filhos com um que está terminando e outra que está comceҫando agora? É difícil, né? Eles beneficiam (do meu successo e da comunidade) porque estudam… Se saio daqui como vou pagar?”

Mas em vez de se desesperar, José se juntou a resistência da comunidade contra as remoções. Através da Associação de Moradores da Vila Autódromo, José ajuda a garantir que moradores não sejam enganados ao ponto de se mudarem da comunidade sem saberem de todas as consequências. Ele explica, “A gente luta para não ser enganado porque a gente vê ainda que são coisas que fazem para enganar aos moradores. Na verdade não há nada no que eles falam. Fazem um acordo num papel e eles colocam outro.”

Embora José se recuse a pensar ou discutir o que aconteceria se a comunidade for removida, ele continua esperançoso que a sua família irá conseguir ficar e que ele continuará a ser capaz de investir na educação de seus filhos. Ele conclui, “Não há dinheiro no mundo que pague a história da vida da pessoa. Não tem dinheiro nenhum que pague os 30… anos que a pessoa morou aqui.”