Crise de Segurança e Questionamento das UPPs com a Proximidade da Copa

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Num momento em que os olhos do mundo estão se voltando para o Brasil, e em especial para o Rio de Janeiro, as questões de segurança não poderiam ser mais preocupantes. Enquanto Recife (a cidade sede da Copa do Mundo no Nordeste) passa por uma greve da polícia, o Rio está lutando com a crescente insegurança, dado que as fissuras nas UPPs tornam-se cada vez mais difíceis de ignorar. Aqui segue um resumo dos incidentes mais recentes.

A operação de segurança da Copa do Mundo no Rio de Janeiro foi iniciada cedo, na segunda-feira 05 de maio, com um extra de 2.000 policiais nas ruas da cidade. A operação foi antecipada em resposta ao aumento dos roubos e assaltos de rua (85% e 43%, respectivamente, desde o ano passado).

No mesmo dia, Vitor Gomes Bento, de 8 anos, foi baleado na cabeça durante um tiroteio entre policiais da UPP e traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte. O incidente causou grande indignação e protesto entre os moradores. Vitor recebeu alta do tratamento intensivo ontem e foi transferido para a ala infantil.

No Complexo da Maré, no dia 10 de maio, a jornalista Camila Marins, o cartunista Carlos Latuff e o fotógrafo Naldinho Lourenço foram ameaçados por soldados do exército que se opuseram a realização da cobertura, dizendo que precisavam de autorização e que “sem autorização, está proibida a cobertura”. A repressão da comunicação é generalizada, com relatos de moradores de incidentes semelhantes na página Maré Vive no Facebook.

Na terça, 13 de maio, jovens do Complexo do Alemão organizaram uma manifestação pacífica para protestar contra a falsa captura e detenção de Nilson Lopes. Um de seus amigos e organizadores do protesto postou mais tarde: “Foi como eu falei, iriam falar que os traficantes organizaram o protesto de ontem, então é isso aí rapaziada, viramos traficante sem saber, isso é a justiça do Brasil né, fazer o que”.

The drug trafficker soccer players of Vila Aliança have been widely reported on this week. Photo by Alan Lima/Al-Jazeera

Esta semana o Al-Jazeera publicou uma reportagem sobre o clube de futebol do tráfico na favela Vila Aliança, em Bangu, Zona Oeste. Na quarta-feira 14 de maio, o jornal Extra postou um vídeo dos traficantes disparando suas AK-47 na celebração, que em seguida foi amplamente divulgado, tanto localmente quanto internacionalmente (mais de 1.300 relatos em inglês de acordo com o Google News). Em resposta, na quarta-feira à tarde, o Governador Fernando Pezão anunciou a instalação da 38a UPP em Vila Kennedy–já ocupada por forças militares e vizinha da Vila Aliança–para 23 de maio. No release oficial: “De acordo com o governador, a implantação definitiva de uma base da polícia pacificadora no local vai permitir também uma melhora na segurança em comunidades vizinhas, como a Vila Aliança”.

Também na quarta-feira à tarde, Jonatan de Oliveira Lima, 19 anos, foi baleado nas costas e morto por policiais da UPP em Manguinhos, Zona Norte. Tem havido um aumento da presença policial em Manguinhos, já que, o comércio e as escolas foram fechados ontem. Entrevistada pelo O Dia, a mãe de Jonatan, Ana Paula de Oliveira, de 38 anos, disse: “Esses assassinos atiraram nele e ainda querem falar que meu filho deu tiro neles. Atiraram e deixaram meu filho caído no chão”. Jonatan é a terceira pessoa morta por policiais da UPP em Manguinhos este ano.

Um importante estudo da Anistia Internacional foi lançado esta semana, revelando que 80% dos brasileiros acreditam que seriam torturados se detidos pela polícia. O estudo entrevistou mais de 21.000 pessoas em 21 países, com os brasileiros temendo mais a tortura da polícia, seguidos pelos mexicanos (64%) e, em seguida, Turquia e Paquistão (ambos 58%). O Reino Unido (15%), Austrália (16%) e Canadá (21%) são os países onde as pessoas menos temem a tortura policial. Falando à BBC Brasil, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, disse: “A violência policial é perceptível e está enraizada nas políticas de segurança pública do país”.

Também nesta semana, foi noticiado que o Ministério Público está investigando o Tenente Coronel da Polícia Militar Márcio de Oliveira Rocha, ex-comandante do Batalhão de Choque, da gestão de uma gangue que extorque dinheiro de motoristas de moto-táxi e provedores de transporte alternativos, em pelo menos três favelas com UPP na Tijuca.

Atualmente tiroteios freqüentes foram  relatados na Rocinha e Pavão-Pavãozinho, ambas favelas da Zona Sul localizadas na proximidade de hotéis que aguardam delegações de futebol e fãs no próximo mês.

Isso tudo nos últimos 15 dias.

É, sem dúvida, um momento de crise. A ordem, ao que parece, será mantida durante este tempo somente pela força. Não há tempo (ou vontade política aparente) para a negociação democrática e participação. O arsenal “não-letal” comprado pelas forças policiais nos últimos meses atesta isso. De acordo com o G1, “entre junho de 2013 e abril deste ano, os órgãos de segurança pública do Brasil pediram autorização para comprar mais de 270 mil granadas e projéteis de gás lacrimogêneo e de pimenta, além de 263.088 cartuchos de balas de borracha de vários tipos e modelos”.