Nas comunidades Chapéu Mangueira e Babilônia, na Zona Sul do Rio de Janeiro, um grupo de crianças sonha em se tornar lutadores de artes marciais.
Este sonho teve origem no Projeto Luta Cidadã, que oferece treinamentos gratuitos de artes marciais para crianças e jovens de 8 a 18 anos. Fundado em 1998 por Marcelo “Penca” da Silva Carvalho, lutador de Muay Thai nascido e criado no Chapéu Mangueira, o projeto tem o objetivo de canalizar a energia das crianças e adolescente e prepará-los para a vida adulta.
“Se essas crianças não estivessem aqui, elas ficariam despreparadas para o mundo… Estou ensinando a elas a se defenderem”, disse Penca.
Faixa-preta em Jiu-Jitsu e lutador profissional de Muay Thai na organização Brazilian Top Team, Penca viajou e morou na Europa, inclusive na Grécia, Holanda e França, mas retornou para o Chapéu Mangueira porque queria fazer algo importante pela sua comunidade.
Penca acredita que existe bondade nas pessoas, mas acredita também que, na maior parte do tempo, o mundo é uma selva. Sendo assim, ele quer ensinar às crianças de sua comunidade a aproveitarem essa bondade enquanto também estejam preparadas para o pior. Com essa mentalidade, ele tem quase 100 jovens estudantes das comunidades Chapéu Mangueira e Babilônia inscritos no Projeto Luta Cidadã. Ele também oferece aulas para adultos.
“Não é uma tarefa fácil, convencer as crianças a participarem, mas uma vez que elas experimentam, elas notam quanta diferença faz,” ele disse. “A saúde física, mental e espiritual deles melhoram e é difícil eles saírem”.
Quando o assunto é Olimpíadas, Penca acredita que Jiu-Jitsu e Muay Thai são esportes que deveriam ser incluídos nos Jogos, com algumas alterações. “É preciso haver uma federação decente e uma organização é essencial para que o esporte seja oficial”, ele disse. Mas ele teme que o esporte torne-se elitista se isso acontecer.
Ele diz: “No judô, por exemplo, um kimono é caro, suplementos, tatame, todas essas coisas são caras e os preços só tendem a ficar maiores com a popularidade”.
Chapéu Mangueira e Babilônia são lugares atraentes até mesmo para lutadores internacionais. O português Atílio Coelho, boxeador profissional também conhecido como Gladiador, foi nascido e criado em um assentamento informal perto de Porto, em Portugal. Agora, ele treina sazonalmente no Chapéu Mangueira e Babilônia e diz que a maioria dos lutadores vêm de origen de baixa-renda.
“Um por cento [dos lutadores profissionais] fica rico, os outros 99% estão preparados para uma vida de dificuldades”, diz Atílio.
Apesar da falta de retorno financeiro, ambos os lutadores cresceram experienciando os benefícios que o treinamento de artes marciais pode trazer. Eles acreditam que o esporte ensina um indivíduo a ser respeitoso, inteligente e forte.
Desde que fundou o projeto em 1998, Penca tem influenciado positivamente mais de 500 crianças em sua comunidade. Apesar do apoio financeiro limitado, ele sonha em expandir ainda mais o alcance de seu programa no futuro, empregando mais professores e mudando-se para um centro de treinamento maior no Chapéu Mangueira.